FOLHA DE S.PAULO

Maior jornal do país assinala que Candiota luta pela sua sobrevivência e do carvão

Reportagem faz parte de uma série que o veículo está realizando pelo Brasil sobre transição energética

Matéria foi veiculada no último dia 31 de dezembro Foto: Reprodução Folha de S.Paulo/Especial TP

Dois jornalistas do maior jornal do Brasil e um dos maiores do mundo, a Folha de S.Paulo, estiveram em Candiota recentemente. Eles visitaram a Prefeitura, a Vila Residencial, a operação da Mina do Seival, da Seival Sul Mineração (SSM) e as duas usinas térmicas a carvão mineral da cidade – Candiota (Fase C) e Pampa Sul.

O veículo está realizando uma série de reportagens pelo país afora enfocando a questão energética, bem como o processo de transição neste setor, que teve como marco o ano de 2050 na última Cúpula do Clima das Nações Unidas, a COP 26, realizada no fim de 2021 em Glasgow, na Escócia.

Sob o título ‘Capital nacional do carvão teme por sua sobrevivência’, os repórteres Nicola Pamplona e Danilo Verpa, surpreendentemente não fizeram uma reportagem – como é o de costume da grande imprensa em geral, de forma totalmente negativa ao carvão mineral e seu uso. Ou seja, não demonizaram o mineral, como é praxe.

Ouvindo a comunidade local e alguns especialistas, a matéria traz um retrato mais ou menos fiel da necessidade de se pensar as alternativas para a continuidade desta riqueza nacional, sob pena da cidade perecer economicamente.

A reportagem ainda faz um comparativo com a cidade mineira de Janaúba, que vive forte expectativa para investimento de grande porte na área de energia solar.

DEPOIMENTOS – Entrevistado, o eletricitário aposentado e morador da Vila Residencial, Toríbio Castro Filho, de 79 anos, contou a evolução de Candiota desde que ele chegou em 1964. O filho de Toríbio, Alex, de 47 anos, que também trabalha no setor, disse que a família está ligada a indústria da energia do carvão. “A usina sempre nos deu uma boa condição e decidi seguir o caminho”, disse.

Conforme retratou o jornal, “histórias como a da família de Toríbio são comuns na cidade: em Candiota, quem não trabalha nessa indústria tem algum parente nela. Com duas minas e duas usinas em operação, a cidade de pouco menos de 10 mil pessoas tem cerca de 10 mil empregos ligados ao carvão, muitos deles ocupados por gente da região. É uma indústria que, confirmando a percepção de Alex, garante boas condições de vida: segundo os últimos dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), os trabalhadores formais de Candiota tinham em 2019 o terceiro maior salário médio do país: 5,3 salários mínimos. Com o reforço na pressão contra combustíveis fósseis, porém, a população vive grande apreensão em relação ao futuro. “Se essas usinas fecharem, é melhor todo mundo fazer as malas e ir embora”, resume Adão Marques Teixeira, proprietário de um restaurante.

O prefeito Luiz Carlos Folador (MDB) também foi ouvido pela Folha de S.Paulo. “Temos consciência de que vai chegar a transição energética, mas é preciso dar um tempo”, afirmou, defendendo que a indústria tem que ser mantida até que alternativas mais limpas para o uso do carvão sejam viáveis. Entre elas, diz, está a transformação do carvão em gás ou combustíveis e a produção fertilizantes ou metanol a partir do mineral. “A tecnologia evolui para usarmos o carvão com outro propósito que não a geração de energia”, afirma.

SUBSÍDIOS – No texto também é referido os subsídios que o carvão possui para seguir operando. Segundo a reportagem, a Fase C tem contrato de fornecimento de energia apenas até 2024. “Com a extinção, em 2027, do subsídio para a compra de carvão, terá dificuldades para concorrer em novos leilões”. Já a Pampa Sul, inaugurada em 2018, se ressaltou na matéria que tem contrato até 2043, quando dependerá de novos leilões, porém não depende de subsídios do governo.

Entretanto, a reportagem lembrou que a Usina de Jorge Lacerda, em Santa Catarina, acabou de aprovar uma lei no Congresso que prorroga os subsídios e determina a contratação obrigatória de térmicas a carvão em Santa Catarina até 2040. O presidente Jair Bolsonaro (PL) já sancionou a nova lei.

Segundo a matéria os subsídios à compra do combustível, que custaram R$ 750 milhões em 2021, fechará unidades existentes ao fim dos contratos de venda de energia e inviabiliza três novos projetos (todos em Candiota – Ouro Negro, Nova Seival e Fase 2 da Pampa Sul) com investimentos previstos em cerca de R$ 20 bilhões.

O setor defende uma “transição energética justa”, que manteria as usinas atuais em funcionamento até a viabilização de novas tecnologias para a redução das emissões e para outros usos do carvão, como a produção de combustíveis e fertilizantes.

Alega ainda que a geração a carvão é barata e tem peso ainda pequeno na matriz energética e no volume de emissões do país. E defende que novas tecnologias de redução da poluição e captura de carbono começam a se mostrar viáveis no mundo.

Mas admite que será cada vez mais difícil financiar novos projetos. “A discussão sobre financiamento é problema crucial para indústria do carvão”, diz o presidente da Associação Brasileira de Carvão Mineral (ABCM), Fernando Luiz Zancan.

AMBIENTAL – Encontrando pontos negativos do uso do carvão, a reportagem buscou alguns depoimentos de produtores rurais de Seival, que reclamam da cinza e do pó de carvão, bem como se recordou um passado distante em que a Usina de Candiota tinha chaminés baixos e pouca preocupação ambiental.

Contudo, a reportagem ressalvou a desativação das Fases A e B e as novas tecnologias nas usinas atuais. “Estudo feito pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em 2014 e republicado em 2018 indica que Candiota apresenta condições meteorológicas favoráveis à dispersão de poluentes, tornando viável a construção de novas usinas na região”, frisou a reportagem.

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