POLÍTICA

Na tribuna, vereador de Pinheiro Machado fala pela primeira vez sobre sua orientação sexual e em defesa da causa LGBT

Wilson Lucas (PDT) protocolou documento para registrar a luta dos homossexuais Foto: Divulgação TP

Quebrar um tabu. Essa foi a decisão tomada pelo vereador Wilson Lucas (PDT) quando, na semana anterior, utilizou seu espaço na Câmara de Vereadores de Pinheiro Machado para falar de um assunto que até então nunca havia tornado público nos seus mais de 50 anos de vida. Segundo ele, a partir da proposição nº 07/2019, indicando que o Dia Internacional do Orgulho Gay seja incluído no calendário oficial do município, vem com a intenção de registrar a luta diária de uma classe perseguida, diminuída e que, assim como ele, precisa se superar dia após dia.

“Esse foi mais um passo dado na busca pelo seu crescimento pessoal, na plena aceitação de quem eu sou e do orgulho por ter vencido um mundo de pré-conceitos”, afirmou. Para o TP, Wilson comentou o ato público. “Talvez antigamente eu teria receio de me expor dessa maneira, porque qualquer palavra dita era motivo de preconceito, os olhares eram de perseguição e de julgamento. Por muitos anos o mundo e a mídia impuseram o seu padrão de certo e errado e os que tentavam se rebelar eram vistos como anormais ou até mesmo doentes”, disse. Conforme lembrou, a homossexualidade somente foi retirada da lista internacional de doenças no ano de 1990.

Em relato para a reportagem, o vereador comentou sobre os desafios diários de estar diante dos olhares e julgamentos alheios. “Travei muitas batalhas na vida para me aceitar como sou, sofri quedas e me ergui em cada uma delas, por isso hoje cresço cada dia mais comigo mesmo e posso ter a coragem para chegar na Tribuna e tratar desse assunto com naturalidade, assim como adquiri a garra necessária pra lutar por esta bandeira e ajudar a todos – que assim como eu sofreram ou sofrem represálias – a terem uma vida digna, liberta e feliz”, destacou.

Em seguida da ação, Wilson publicou um registro da proposição em sua página em uma rede social e a repercussão foi quase que imediata: 475 curtidas, 163 comentários e cinco compartilhamentos entre familiares, amigos e admiradores. “Minha vida é uma grata surpresa dia após dia, estou em um momento iluminado e as pessoas fazem questão de demonstrar sua admiração por mim, isso é o que mais me motiva a seguir em frente lutando por estas e outras causas. Saber que eu conquistei acima de tudo o respeito das pessoas e hoje sou alguém que chegou lá, com garra, com luta, travando batalhas na vida, mas vencendo todas elas com um sorriso no rosto e sem perder o que eu mais prezo: a minha índole e o meu caráter”, finalizou.

SAIBA MAIS – Natural de Pinheiro Machado, Wilson Lucas nasceu em 6 de janeiro de 1965. Trabalhou durante 20 anos no comércio local e atualmente, além de vereador, dirige e faz parte de uma equipe de garçons, prestando serviços em festas e eventos. Foi assessor do PDT na Câmara Municipal de Vereadores em 2014. Concorreu ao cargo de vereador nos pleitos de 2004, 2012, mas obteve êxito apenas no ano de 2016, onde atua até o ano de 2020.

Pela extensa carreira no comércio, Wilson ganhou popularidade e o coração de muitos pinheirenses que o admiram pelo seu jeito único de ser. A história de vida e os desafios enfrentados nunca o deixaram perder o sorriso e a serenidade ao lidar com as pessoas a sua volta. Toda a sua atenção e carinho pelos seus semelhantes ainda o fizeram adotar duas meninas – com as quais vive junto até hoje, junto de sua mãe e o neto.

Para as gêmeas, Carla e Laura Teixeira, a atitude do pai é mais um motivo de orgulho. “Sabemos da importância de levantar essa bandeira que ainda é sim coberta de muito preconceito. As pessoas precisam entender que não é a opção sexual que vai definir caráter e dignidade, elas só precisam aceitar e respeitar uns aos outros e isso basta. Quanto a respeito e dignidade, essas são as qualidades que definem o Wilson – um pai, amigo e parceiro que a vida nos deu de presente”, disseram. Na oportunidade, de forma muito bem humorada, elas exaltaram a criação que receberam, lembrando que “criar as duas pestes que nós fomos nunca foi tarefa fácil e ele conseguiu”.

ENTENDA – O mês de junho é a época em que o movimento formado por lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros (LGBT) sai às ruas, em vários municípios brasileiros, para reivindicar cidadania e direitos pela luta contra a homofobia, naquilo que se convencionou chamar de Parada Gay. A escolha de junho para a realização do evento não é aleatória, como explica em sua coluna o professor Ricardo Ferreira. Segundo ele, o mês faz referência à revolta de Stonewall, ocorrida em Nova York, no dia 28 de junho de 1969, quando um grupo de gays resolveu enfrentar a frequente violência policial sofrida pelos homossexuais.

Naquela madrugada de 1969, homossexuais que se encontravam no bar gay Stonewall Inn resolveram enfrentar a ação da polícia, permanecendo por vários dias confinados dentro dele e recebendo o apoio de uma multidão de gays e lésbicas que, amontoados do lado de fora, apoiavam a resistência. A partir de então, o episódio passou a ser considerado como o da libertação gay, elevando o status de 28 de junho, que passou a ser tido como o Dia Internacional do Orgulho Gay.

HOMOFOBIA – O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou na quinta-feira (13) que a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero passe a ser considerada um crime. Por oito votos a três, os ministros determinaram que a conduta passe a ser punida pela Lei de Racismo – que hoje prevê crimes de discriminação ou preconceito por “raça, cor, etnia, religião e procedência nacional”. O racismo é um crime inafiançável e imprescritível, segundo o texto constitucional, e pode ser punido com um a cinco anos de prisão.

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