*Por Marco Antônio Ballejo Canto
O comovente depoimento de um morador de Cruzeiro do Sul trás o mais relevante ensinamento que ouvi nos últimos dias. Sidney Dullius, a esposa Marilene Scheibel e um dos filhos aparecem no vídeo em frente aos destroços de sua casa completamente destruída “Nasci aqui, me criei aqui, mas… morrer aqui eu não vou”. Nunca viu nada igual, mora no lugar há 48 anos, mas ensina que ali não dá para morar e diz “Cabeça pra frente e sair daqui”. Perdeu tudo que tinha.
Esta catástrofe no Rio Grande do Sul tem um elemento fundamental, a “surpresa”. Não há quem tenha a minha idade, 65 anos, que pudesse crer que um dia veria o que estou vendo. Por trinta e cinco anos, como auditor do Órgão, entrei pela porta da Superintendência do Ministério do Trabalho, que fica exatamente defronte ao portão principal do porto de Porto Alegre e sempre olhei as fotos da enchente de 1941 como algo muito distante. Errei. Como o morador acima citado que mora há 48 anos em Cruzeiro do Sul e nunca pensou em ver algo igual. Com uma diferença, ele nunca viu algo igual e em Porto Alegre algo igual, muito pouco menor, já havia sido visto.
Conheço Eldorado do Sul desde os anos 1970, quando as primeiras casas estavam sendo construídas no lugar, uma vila no máximo. O município foi criado em 1988 com uma sede de município toda ela instalada dentro do rio. Não precisa uma cheia grande para boa parte da cidade ficar embaixo d’água. Nesta, ficou a cidade inteira.
Cabeça pra frente e sair daqui.
Lula esteve no Rio Grande do Sul e disse que o ministro de Cidades, Jáder Filho, deve impedir a reconstrução de casas nos mesmos locais atingidos pelas enchentes desta semana.
Lula deve exigir que a Caixa Econômica Federal pare de financiar a construção e compra de imóveis novos em locais de risco, bem como pare de financiar a compra e venda de imóveis usados localizados nestas áreas. O Congresso e o Supremo Tribunal Federal podem usar de suas prerrogativas para fazer com que a Caixa pare de financiar imóveis em áreas de risco.
Todo imóvel é avaliado pela Caixa antes de ser financiado.
Teremos de pensar no futuro.