PATRIMÔNIO HISTÓRICO

Novos proprietários prometem dar vida ao Castelo de Pedras Altas

Monumento histórico foi adquirido por três irmãos de uma família de advogados de Santa Maria, os Segat

Família Segat tem planos de reabertura do local para visitação pública Foto: J. André TP

Esta sexta-feira (3) entrará mais uma vez para a história de Pedras Altas. Um almoço nas dependências do Castelo de Pedras Altas, reunindo familiares e autoridades locais e estaduais, teve por objetivo selar a compra e apresentar os novos investidores do empreendimento histórico.
O monumento passa a levar os nomes de Rafael Batista Trindade Pacheco Segat, Gabriela Trindade Pacheco Segat e Kamilla Trindade Pacheco Segat, integrantes de uma família renomada de advogados de Santa Maria, região central do Estado.

Ao Tribuna do Pampa, o pai dos novos proprietários, o advogado Luiz Carlos Segat, responsável pelo processo de compra, relatou que a aquisição foi efetuada pelo interesse da família no local, conquistado através do trabalho do corretor de imóveis João Iris Silva Moreira e dedicação dos advogados das partes envolvidas na negociação.

Quando questionado sobre o sentimento da família acerca de um patrimônio que carrega tanta representação história para a região, estado e Brasil, Segat expõe ser um misto de alegria e de responsabilidade. “Alegria por poder usufruir de todo esse patrimônio e de saber que tudo é possível. Junto dessa alegria surge uma grande responsabilidade de ter que administrar todo esse legado deixado pelo Joaquim Francisco de Assis Brasil, dando a ele o cuidado e destino que merece”, afirmou o advogado que relatou evidenciar uma energia muito positiva no prédio histórico.

O jornal também questionou a família novamente acerca da destinação do Castelo. Conforme a família Segat, o maior desejo é viabilizar a visitação pública e restaurar os bens. “Se faz necessário que a propriedade se torne altamente rentável e que sirva de inspiração a outras pessoas”, disse Luiz Carlos quanto ao restante da propriedade de um total de 300 hectares. Ele também relatou que, por se tratar de um patrimônio tombado, foi criada a Associação Castelo de Pedras Altas, que terá como finalidade, angariar recursos para auxílio á preservação. “Temos ideias, inclusive já há um projeto que precisará ser atualizado para restauração do prédio. O certo é que será aberto um museu, mas quanto à cobrança de acesso e outros fatores ainda não foram definidos, o que podemos dizer é que tudo será pensado com muito cuidado”, adiantou.

Ao TP, o prefeito Bebeto Perdomo afirmou que como prefeito e gestor do município, é uma honra e alegria muito grande participar deste momento histórico de Pedras Altas. “Participamos deste marco histórico, que troca a propriedade do castelo para um investidor, que todos nós esperamos que cumpra o seu preceito principal que é a reabertura do Castelo de Assis Brasil, um marco não só para Pedras Altas, mas para o Estado e Brasil. Esta é uma das principais obras arquitetônicas e já foi prometida a abertura de um museu, fato que vai alavancar o nosso município no que se refere ao turismo. Também ficamos felizes porque vai ser mantido o legado de Joaquim Francisco Assis Brasil, um homem que deixa seu nome em parque, cidade e trouxe várias raças ao Brasil”, disse Perdomo, acrescentando confiar no governador Eduardo Leite “quanto ao término da ERS-608, que irá garantir o direito de ir e vir e alavancar o turismo, além de proporcionar geração de emprego e renda”.

O presidente da Câmara pedrasaltense, Arildo Medeiros (Progressistas), classificou o dia como histórico para o município. “Somos conhecidos como a Cidade do Castelo e hoje começa uma nova era, uma nova realidade e que potencializar bastante o turismo”, projeta.

Executivo e Legislativo de Pedras Altas festejaram a chegada dos novos proprietários junto a secretária de Cultura do Estado Foto: J. André TP

IRMÃOS – Os três irmãos e novos proprietários da Granja de Pedras Altas, Rafael, Gabriela e Kamilla, conversaram com a reportagem do TP sobre a aquisição. Segundo eles, quando surgiu a proposta de compra, o pai deles foi o primeiro a ter contato com o patrimônio em si, numa paixão instantânea. “E foi assim com nós também, nos apaixonamos pelo lugar e pela história”, contam eles, ao lembrarem que o consenso foi geral no seio familiar para se fazer o investimento.

Os irmãos lembram que a família já possui outros negócios ligados ao setor rural como uma cabanha de cavalos crioulos. “Os caminhos se entrelaçaram”, apontam.

Gabriela destaca que o principal desafio agora é reabrir a estrutura para a visitação pública. “Estamos todos empenhados neste propósito. Estamos muito empolgados e motivados”, disse.

Já Rafael enfatiza responsabilidade. “Nos sentimos honramos e sabemos da responsabilidade que é dar continuidade e preservar a memória de Assis Brasil”, disse.

Kamilla falou da representatividade. “Sabemos o que esse castelo representa para a cidade, para o RS e para o Brasil”, ponderou.

Novos proprietários foram recepcionados e presenteados como forma de boas-vindas em Pedras Altas Foto: J. André TP

O CASTELO – Conforme já divulgado pelo TP, o monumento construído pelo diplomata Joaquim Francisco de Assis Brasil para a esposa Lídia Pereira Felício de São Mamede, sendo inaugurado em 24 de junho de 1912. O local integra a história gaúcha ao ter sido palco da assinatura do tratado que pôs fim a Revolução de 1923, entre Ximangos e Maragatos. Construído em granito rosado, a estrutura conta com 44 cômodos e entre o acervo de relíquias alocadas na propriedade há os 22 volumes da enciclopédia de Diderot e D’Alambert, de 1751.

O Castelo foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE) em 1999 e estava sob responsabilidade de herdeiros de Assis Brasil. Nos últimos anos a propriedade sofreu com a ação do tempo, ocasionando além de arrombamentos, invasões e furtos, a deteriorização da estrutura, o que gerou inquérito no Ministério Público. Na oportunidade, houve um esforço da família para que fosse cumprido um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) que exigia o reparo no vazamento do telhado. A obra foi entregue em 2021 e por iniciativa do presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RS), desembargador Armínio da Rosa uma equipe de arquivistas e historiadores realizou a catalogação de todas as obras arquivadas na biblioteca do Castelo da Granja de Pedras Altas. Em torno de 8 mil obras foram catalogadas em duas visitas da equipe. A catalogação ocorreu após a assinatura de um TAC entre a família e o Ministério Público de Pinheiro Machado.

Conforme material anterior divulgado pelo TP, a bisneta de Assis Brasil, Suzana de Assis Brasil Mendes afirmou que a família buscava um proprietário que pudesse dar o devido cuidado ao local e o abrisse para visitação, podendo transformar até em um museu, já que por serem muitos herdeiros não haver condições de manter o local da forma adequada, e a venda ser a única solução para que o local possa ser cuidado e preservado. “Tenho certeza que a maioria dos familiares tem o mesmo sentimento, mas especificamente no meu caso, sinto uma mistura de tristeza com felicidade. Sempre guardarei memórias de um lugar que eu ia passar as férias de verão, um local que foi construído por meu bisavô para a minha bisavó, com conforto e cultura. Lá nasceu meu avô, são muitas histórias, teremos uma ligação eterna, porém não seremos mais proprietários. O importante agora é ver o castelo tomar vida de novo e esperamos que fique aberto para visitação do público”, disse Suzana ao jornal.

Um almoço no jardim do castelo marcou a chegada dos novos proprietários Foto: J. André TP

Sedac e Iphae fazem análise do patrimônio histórico

Estado atual de conservação do castelo está sendo analisado Foto: J. André TP

A secretária de Cultura do RS, Beatriz Araujo esteve nesta sexta-feira (4) no almoço de apresentação oficial dos novos proprietários acompanhada pelo assessor especial de Memória e Patrimônio da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), Eduardo Hahn, pelo diretor do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE), Renato Savoldi, e pela museóloga e diretora do Museu Julio de Castilhos, Doris Couto.

Conforme repassado ao TP, o objetivo da visita é tomar ciência da situação atual do patrimônio já tombado pelo Estado para orientação aos novos proprietários.

Para a secretária de Estado da Cultura, Beatriz Araujo, “as articulações em favor do patrimônio histórico e cultural do Rio Grande do Sul são decisivas para a conservação da Granja de Pedras Altas, que acreditamos ainda ser possível. Segundo os registros do Iphae, a trajetória pela salvaguarda do conjunto arquitetônico erguido por Assis Brasil no início do século passado para ser a residência de sua família, tombado em 1999, se desenvolve há mais de trinta anos”, informa.

“A equipe técnica da Sedac permanecerá em Pedras Altas neste sábado (5) para dar continuidade ao trabalho de avaliação do estado atual do Castelo e de seu acervo de bens móveis com a finalidade de indicar as intervenções mais urgentes e os procedimentos corretos para sua adequada conservação”, detalhou Beatriz Araujo.

Luiz Segat, secretária de Cultura Beatriz Araujo, Lídia Assis Brasil e o prefeito Bebeto Foto: J. André TP

* Originalmente este conteúdo foi publicado no jornal impresso

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