O corredor da morte, ou da vida

O cenário é de horror, tristeza e perplexidade. Centenas de pessoas espremidas contra a parede, em cima das macas, das cadeiras, os acompanhantes de pé onde sobra um espaço mínimo. Entre um lado e outro, pouco mais de um metro de distância. Pessoas doentes, esperando uma cirurgia, um atendimento, uma notícia razoável, um afago e um carinho da palavra que possa confortar aquela aflição sem fim. Enfermos sedados pela medicação provisória até que chegue a sua hora, aguardam o chamado do destino que lhes espera.

Ali os dias encurtam a vida, mas para outros instaura-se a vã esperança da cura na busca de tempos bons. O homem debilitado, fraco, que espera durante dez dias a visita do médico que não veio, mas ainda esboça no rosto um sorriso que decorre da promessa recebida. Ele ainda carrega consigo a expectativa de que tudo há de melhorar, demonstrando uma resignação capaz de dar forças surgidas da fé e do ânimo inabalável.

Ninguém ali está só. Sempre há alguém com quem dividir sua história, um alguém especial na vida que valoriza a sua presença, com a palavra de conforto a quem vive a angústia daqueles momentos dolorosos e sofridos.

Outros escancaram o desejo da chegada ao fim, não querem mais viver, já cansaram de esperar, nada mais lhes interessa, querem abreviar o tempo ao máximo. A dor física já está sendo vencida pelas dores da alma. Tristeza sem fim, só lhes resta o carinho de quem lhes acompanha, esse um verdadeiro anjo que ao seu lado, transmite a busca da fé, da oração, de que Deus possa fazer o melhor para evitar o sofrimento daquele amigo. Mas a morte, esse terrível inimigo que se avizinha, vem falar da perda, e a perda gera a dor, e a dor assusta e gera o medo, porque quando ela nos toca mais proximamente, vem junto o sofrimento de algo estranho que lhes causa espanto como a todos nós.

E assim segue esse ambiente triste em que se chocam a possibilidade latente de um final de ciclo com a esperança de recuperar a dignidade essencial à continuidade da vida por algum tempo. Esse é o caminho tortuoso que nos proporciona para além das dores físicas e morais, o sonho com a esperança de dias melhores.

“A questão não é se existe vida depois da morte. A questão é se você viveu antes da morte.”

 

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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