*Por Aníbal Gomes Filho
Um dia eu fui o menino que tantos outros também o foram. Decorrência da influência forte de meu pai, aos seis anos de idade aprendi a gostar de futebol e com ele ouvir os jogos no seu rádio de pilha e bateria. A televisão chegou bem mais tarde, quando eu já tinha meus 14 anos de idade. Ao chegar em Pinheiro Machado, onde moro até os dias de hoje, despertou em mim a ideia de acompanhar o nosso futebol de várzea. Nos anos setenta a cidade tinha dois belos times de futebol de campo, amadores, Comercial e Luz e Ordem. Minha escolha deu-se logo pelo time alvinegro do Comercial que passei a acompanhar em quase todos os jogos, fossem eles, amistosos ou válidos por alguma competição. Determinada época da minha vida, por benesse e bondade dos dirigentes, eu chegava a viajar na “cachorreira” de uma kombi que transportava os jogadores em jogos fora da cidade, só para ter o prazer de poder assistir e acompanhar os jogos do Comercial, tamanho era o meu fanatismo pelas cores branco e preto, que provocavam em mim, verdadeiro estado de entusiasmo, excitação e exaltação ao vê-los em campo.
Pois posso lhes dizer com absoluta convicção, que foi nesse tempo feliz que eu recordo com gratidão, a primeira vez na minha vida que eu vi jogar aquele que passaria a ser o meu ídolo do futebol de então.
Era um atacante fantástico, sabia jogar como poucos, desconcertava as defesas adversárias, tinha faro de gol. O combustível que o alimentava de forma permanente era a raça, algo que eu nunca vi antes nem depois. Um eterno inconformado com a derrota e a adversidade. Determinadas partidas ele se tornava o exército de um homem só, tal era a sua obstinação, vontade, garra e disposição que não acabava jamais. Havia momentos que ele discutia e brigava com seus próprios companheiros, é claro, com a ideia de fazer ver a eles que era preciso fazer muito mais para que o time alcançasse a vitória.
Esse era o meu querido amigo Valdo, o Edevaldo Baldez Fernandes, que, para minha tristeza e dos seus familiares, viajou fora do combinado dia 20 de Novembro passado. Perdi o meu ídolo, de quem eu tantos gols vibrei e festejei à beira do gramado. Seus filhos perderam o pai e chefe de família. Foi-se um amigo que ficará eternamente na minha lembrança.
Era preciso que alguém dissesse isto a respeito do Valdo, não poderia passar em branco, ele segue merecedor de todas as homenagens possíveis.
“O que a memória ama, fica eterno. tudo o que a memória amou, tornou-se eterno.”
Adélia Prado.
ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*