SAÚDE

Pandemia: a ansiedade e o aumento na procura por orientações psicológicas

Psicóloga Jianes Meris, de Hulha Negra, tem orientado pessoas de diversas idades Foto: Silvana Antunes TP

Os Centros de Referência em Assistência Social (Cras), interligados as Secretarias de Assistências Sociais dos municípios, têm sido locais importantes de busca por apoio e auxílio por parte da população desde que iniciou a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) no Brasil. A mudança de rotina, com o isolamento social, cancelamento de eventos, fecha­mento do comércio não essencial durante um período e as constantes notícias de aumento de número de casos e mortes no norte do país, trouxe consigo mudanças compor­tamentais na população.

Jovens, idosos, trabalhado­res informais ou os da linha de fren­te, os da saúde, todos precisaram se adaptar a uma nova realidade toma­da por restrições, para ultrapassar essa fase que ainda não tem previsão de término. A preocupação, o medo e a ansiedade, começaram a fazer parte da rotina de muitas pessoas, e a assistência sem custo disponibili­zada nos Cras foi uma das válvulas de escape.

Em Hulha Negra, município que não contabilizou nenhum caso da doença na região, apresentou um aumento no número de orientações na área da psicologia em razão das medidas restritivas impostas pelos governos. A reportagem do Tribuna do Pampa conversou nesta semana, tomando os cuidados necessários, com a psicóloga Jianes Meris, do Cras de Hulha Negra, para falar sobre o assunto e repassar algumas orientações que a própria população pode fazer em sua residência para amenizar os efeitos do período.

Conforme Jianes, a procura por orientação psicológica aumen­tou cerca de 30% no período no Cras. Ela explica que o atendimento clínico ocorre somente no Centro de Atendimento Integrado à Saú­de (Cais) e precisou ser cessado durante um período da pandemia e algumas pessoas que estavam em tratamento e que possuíam algum tipo de ansiedade ou transtorno, pre­cisaram interromper o tratamento, fator que aumentou o problema em muitos casos. “A interrupção dos atendimentos clínicos gerou quase um pânico em algumas pessoas. Isso porque temos também uma grande parcela que participa de grupos sociais no Cras e recebe orientação. Pessoas depressivas, ansiosas, senti­ram falta das orientações recebidas, pois os transtornos eram dissolvidos em meio a realização de atividades manuais e exercícios. Quando se sentem trancadas em casa, a ansie­dade e desgosto, aliado ao medo da contaminação elevou o nível de ansiedade e muitas pessoas não es­tão sabendo lidar com isso”, expôs.

PRINCIPAIS PROBLEMAS Questionada a citar alguns casos identificados nas orientações, Jia­nes citou alguns exemplos, como de jovens que antes participavam de grupos, possuíam liberdades e foram tolidos. “Esses jovens foram obrigados a ficar em casa, deixaram de ir à escola, conviver com os amigos. Eles chegaram aqui chorando por não saber lidar com a situação. Aumentam as brigas, de­sentendimentos com pais, irmãos”, exemplificou.

Ela também citou o medo de contaminação das pessoas. “Pes­soas idosas nos procuraram logo no início quando surgiram os primeiros casos em Bagé, com medo de con­taminação. Isso porque apesar das pessoas de Hulha Negra fazerem seu resguardo, algumas pessoas do Pampeano precisaram ficar traba­lhando. Eles têm contato com pes­soas de Bagé, onde a contaminação existia. Ainda hoje temos pessoas doentes assintomáticas e que nem sabem. As pessoas viveram e ainda vivem um sentimento de insegu­rança. Também temos os demais funcionários da Prefeitura que são moradores de Bagé, principalmente da Saúde e Assistência, e precisam cumprir deu dever, dar assistência à população nesse momento”, relatou.

Outra situação que cha­mou a atenção foi de um caso de uma adolescente que chegou pe­dindo auxílio com muito medo de perder os avós. “Ela não estava com medo de se contaminar, mas sim de que os pais e avós se contaminassem e pudessem perder a vida. Crianças que tem nessas pessoas seu referen­cial de vida ficaram com medo em razão do exagero de informações”, relata.

ORIENTAÇÃO A psicóloga, por outro lado, ressalta que a demanda está diminuindo, se comparado com o primeiro mês, onde a procura por orientação foi extraordinária. Ela relatou ao TP ter verificado que uma grande parcela da população que procurou pelo auxílio psicológico, possui crises originárias de um ex­cesso de informação desnecessária. “As pessoas precisam saber o que acontece na sua cidade e região. Sa­ber de casos, medidas adotadas em decretos e novas regulamentações devem ser procuradas, mas vejo al­gumas pessoas que passam quase 24 horas em frente à televisão, trocando de canal e assistindo somente notí­cias relacionadas ao coronavírus. Temos a sorte de vivermos em uma região tranquila, com certa estabili­dade, diferente de outros estados do país. Penso que as pessoas procura­rem notícias ruins de outros estados não vai acrescentar em nada, pelo contrário. A informação tem que ser de qualidade, filtrada e de acordo com a realidade regional”, destaca.

OUTRAS ATIVIDADES Solicitada pelo TP, Jianes repassou algumas dicas e orientações para que as fa­mílias procurem seguir nesse período para diminuir as crises de ansiedade. A psicóloga indica a redução de informações de outras regiões do país e a aproximação familiar. “As pessoas precisam tirar um pouco o foco da pandemia. Elas podem usar a internet para buscar um conheci­mento novo, ver filmes agradáveis, escutar uma boa música, conversar com os amigos de forma online – a gente precisa evitar a conversa vir­tual, mas podemos manter o vínculo através da internet. Estamos criando novas formas de comunicação e devemos valorizar a tecnologia. O distanciamento é físico, mas online pode ser direto”, orienta.

Jianes também faz referência à atividade familiar. “Aproveitem o tempo juntos, em casa, para dar mais atenção uns aos outros, se conhecer melhor, sermos mais humanos uns com os outros. Essa pandemia veio nos ensinar a conviver em família, muitas pessoas tem uma vida tão corrida que muitas vezes essa convivência se perde. Casais poderiam retomar intimidade, pais e filhos brincar, ver filmes, fazer algo juntos dentro de casa que em outros tempos não seria possível. Convido as pessoas a valorizar e resgatar a convivência familiar”, afirma.

A profissional ainda orienta quanto à prática de atividade física dentro de casa, exercícios de respira­ção e meditação. “Quando a pessoa está se sentindo muito tensa, ela pode sentar com a coluna mais reta possível em posição confortável, fechar os olhos, relaxar, fazer uma respiração profunda, solta o ar deva­gar pela boca, fazer isso várias vezes. Isso oxigena o cérebro, vai acalmar, tirar do foco, da ansiedade. Por al­guns instantes ela relaxa. Há várias músicas relaxantes, instrumentais que as pessoas podem escutar – na internet há vários áudios para isso- elas podem tentar dormir para descansar. Auxilia bastante”, expõe.

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