As visitas lote a lote em assentamentos federais da reforma agrária seguem no Rio Grande do Sul. Nesta semana, o trabalho está sendo realizado em Candiota, onde o total de 289 lotes em 11 projetos de assentamento criados pelo Instituto Nacional de Colonização da Reforma Agrária (Incra) serão contemplados. A ação no município começou na última quinta-feira (18), com uma reunião preparatória geral com as famílias, e vai se prolongar pelo mês de maio.
“Foi um questionário longo, a gente viu que gostam de fazer bem feito”, conta Edison Rosa Pigatto, do assentamento Estância do Fundo. Ele e a esposa Elisa Teresinha Pigatto receberam os técnicos da supervisão ocupacional em seu lote na segunda-feira (22). “Foi bem uma meia hora de conversa”, complementa. A intenção das entrevistas é obter informações sobre a situação de cada lote e sobre questões gerais do assentamento.
O casal foi assentado há 26 anos, com os dois filhos ainda crianças. Hoje, tanto a filha quanto o filho também são assentados da reforma agrária, e o neto Éverton reside com os avós.
Além da mudança na configuração da unidade familiar, também as atividades produtivas do lote variaram durante os anos. Já teve produção leiteira, ênfase em lavouras de milho, feijão, soja, e hoje a escolha é pela criação de gado e ovelha. “Estamos ficando velhos, começa a ficar meio ruim. Com a criação a gente vai se defendendo”, explica Edison. A opção também é justificada pelas constantes estiagens que têm atingido a região e prejudicam muito as lavouras.
INFRAESTRUTURA
Entre os principais problemas apontados pela família, estão a luz – cujo fornecimento, recentemente, piorou, aponta o agricultor – e as estradas, que necessitam constante manutenção. “Sem estrada, não adianta ter produção para vender e não conseguir entregar. Para os estudantes também é ruim”, explica Edison. A esposa Elisa, hoje aposentada, foi professora na escola do assentamento, distante a uns 3 km da residência do casal, e conta que tinha de ir a cavalo dar aula.
A família está satisfeita com a vida no assentamento. ”Hoje, estamos tranquilos. Sempre aproveitamos os recursos, para empregar bem. E aqui, toda a vizinhança é boa. Fica quem trabalha, quem quer fazer. Os filhos vão ficando, a família fica perto”, diz o agricultor. “Tenho tudo aqui, tenho internet. Gosto de ficar aqui, no sossego”, complementa Elisa.
Questionado se vale a pena a reforma agrária, Edison nem titubeia. ““Ah, se vale! Só de empregado, trabalhando de meeiro, não sobra para comprar a terra. Para quem quer trabalhar, a saída é a reforma agrária”.
LEVANTAMENTO
As atividades de supervisão ocupacional integram o plano de trabalho da parceria entre o Incra e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), através de um Termo de Execução Descentralizada. O objetivo é realizar a supervisão ocupacional dos lotes federais em sete municípios gaúchos, totalizando 2.755 parcelas.
As visitas são realizadas por oito técnicos contratados pelo Instituto Educar – entidade selecionada pela UFSM para executar os serviços. A equipe já esteve em São Gabriel, Santana do Livramento, Hulha Negra, Aceguá e em um assentamento de Piratini. Além de Candiota, estão previstos roteiros posteriores nos assentamentos de Canguçu e nos que faltam em Piratini.
Os dados coletados são inseridos na Plataforma de Governança Territorial (PGT) do Incra, para compilação e análise dos servidores da autarquia. Nesta semana, o Incra está viabilizando uma migração de sistema: a partir de 29 de abril, os técnicos já poderão fazer o download do novo aplicativo, o PGT Campo, e preencher os laudos ocupacionais diretamente na PGT.
Através do questionário aplicado, também são coletadas informações sobre infraestrutura, produção, organização, entre outros aspectos dos assentamentos. Esta base de dados vai alimentar o Sistema Integrado de Gestão Rural (Sigra), ferramenta elaborada pela UFSM.
ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*