Mais de 2,6 milhões de gaúchos que formam as categorias consideradas economicamente as mais vulneráveis, algo ao redor de 43% da força de trabalho do Rio Grande do Sul, estão diretamente sujeitos a impactos das medidas de isolamento social necessárias para conter o avanço da Covid-19.
Desse contingente de empregados informais, desocupados e trabalhadores por conta própria, a estimativa é de que 598 mil pessoas estariam aptas, pelos ganhos que tinham antes da pandemia, a receber as três parcelas do auxílio emergencial de R$ 600 por mês do governo federal.
Essas projeções fazem parte de um estudo elaborado pela Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão (Seplag) com o propósito de monitorar os efeitos do vírus sobre a atividade econômica no RS e oferecer subsídios às decisões do governo do Estado.
Desenvolvido por pesquisadores do Departamento de Economia e Estatística (DEE/Seplag), o trabalho indica que, dos grupos considerados como economicamente vulneráveis, os trabalhadores por conta própria que não contribuem para a previdência e os empregados sem carteira assinada têm o menor salário mediano: R$ 1 mil. Isso significa, conforme o levantamento junto aos dados mais recentes da Pnad Contínua do IBGE, que a ajuda de R$ 600 compensaria entre 30% e 60% do rendimento mediano dos trabalhadores informais no Estado.
Além dos 239 mil beneficiários do bolsa-família, o estudo projeta que cerca de outros 359 mil gaúchos poderão atender os requisitos que ficaram estabelecidos no programa federal, entre eles ser maior de 18 anos e renda domiciliar per capita de até meio salário mínimo.
Esse contingente de vulneráveis economicamente aptos aos R$ 600 estaria dividido da seguinte maneira: 86 mil de informais, 129 mil que trabalham por conta própria e 144 mil desocupados.
Antes da pandemia, a força de trabalho do RS estava no seu maior patamar desde o início da série histórica, em 2012: um universo de 6,169 milhões de pessoas. A taxa de participação na força de trabalho, por sua vez, estava em 64,6% da população, muito próximo do atingido no ponto máximo da série (1º trimestre de 2017).
“Todos os indicadores nos mostram que a economia gaúcha vinha numa linha de recuperação da forte recessão que o país sofreu partir de 2015, mas que agora terá um forte revés por conta dessa situação que vem abalando todos os centros econômicos do mundo”, disse a secretária de Planejamento, Leany Lemos, que coordena o Comitê de Análise de Dados sobre os impactos e os principais desafios diante da pandemia.
O Comitê foi instituído pelo governador Eduardo Leite com a finalidade de reunir uma série de dados sobre diferentes áreas para orientar as ações prioritárias.
Por conta das características do perfil demográfico, o estudo também buscou informações sobre a faixa da população com mais de 60 anos de idade, considerada a de maior risco para a Covid-19. Entre os idosos, 35,2% dos homens fazem parte da força de trabalho, frente a 17,6% das mulheres. A pesquisa apontou ainda, entre toda a População em Idade Ativa (PIA), há 72,5% de homens e 57,3% de mulheres.
PEQUENAS EMPRESAS – Houve também a preocupação em verificar o panorama das pequenas empresas em atividade no RS e as primeiras medidas de socorro da União para aliviar o baque no fluxo de caixa. Dos 212.450 estabelecimentos considerados, 68% estão no regime de tributação do Simples Nacional, sendo responsável por um terço dos empregos formais no Estado. Para 71% das empresas do Simples o número de funcionários fica entre um a quatro postos de trabalho.
“São empregos vulneráveis que, mesmo em curto prazo, podem ser destruídos na ausência de políticas públicas adequadas”, alerta o estudo. A atividade de comércio representa 45% das empresas. Mesmo com a alternativa de migrar para as vendas pela internet (e-commerce), o isolamento imposto pela quarentena representa perdas importantes.
O trabalho foi desenvolvido pelos pesquisadores Pedro Zuanazzi e Raul Bastos, que integra o DEE/Seplag, e contou com a participação do professor do Programa de Pós-Graduação da Unisinos, Guilherme Stein.
A equipe fez um alerta que todos os cenários são ainda de uma realidade de pré-crise do coronavírus e que ainda é cedo para dimensionar o tamanho do impacto sobre as pessoas mais vulneráveis. “É preciso também avaliar quais serão os efeitos da crise para as grandes empresas e naqueles não classificados como economicamente vulneráveis”, ponderou Zuanazzi. Entre os próximos passos, acrescentam os pesquisadores, será importante acompanhar a evolução das demissões (pedidos de seguro-desemprego) por região e como irá se comportar a adesão aos programas de auxílio do governo federal.