RURAL

Região deverá ter uma supersafra de soja em 2021

Por Anderson Ribeiro

Estado deverá colher cerca de 20 milhões de toneladas do grão Foto: Jonas Oliveira/Especial TP

Após muitos anos em que o setor produtivo da região, em especial o do cultivo de soja, enfrentou prejuízos, principalmente por instabilidades climáticas, que geraram quebras em lavouras e, consequentemente, dívidas aos produtores que trabalham com a lavoura, a safra atual é considerada histórica.
Essa conquista para o setor produtivo não acontece somente na Campanha, mas todo o Estado deverá colher, até o final deste mês de abril, cerca de 20 milhões de toneladas do grão. Os dados divulgados recentemente pela Emater apontam um crescimento de 78,9% se comparado com o obtido na safra 2019-2020, panorama celebrado por agricultores e pela economia gaúcha, afinal no ano passado o Rio Grande do Sul enfrentou uma severa estiagem que assolou o Estado em quase que sua totalidade.
Além dessa alta em produtividade nas lavouras do Rio Grande do Sul, o mercado está favorável para o segmento da soja. Um exemplo está na cotação da saca de 60 quilos da oleaginosa. Neste mês, em meio a colheita, ela superou os R$ 170, algo nunca visto. Nesta semana, a saca estava sendo comercializada a R$ 174, no porto de Rio Grande, conforme o site Agrolink. Ou seja, em uma safra que apresentou uma área plantada inédita de 6,07 milhões de hectares, e sem adversidades climáticas, chega-se agora a uma colheita em que o produto está muito valorizado no mercado.

Entidades avaliam cenário regional

Questionado sobre esse cenário para a Rainha da Fronteira, o presidente da Associação e Sindicato Rural de Bagé, Geraldo Brossard Correa de Mello, aponta que o panorama converge mesmo para uma supercolheita com média de produtividade histórica. “Esse momento também é acompanhado pelos preços muito diferenciados e positivos. Torcemos para que essa realidade se mantenha porque ao se tratar de uma commoditie ela necessita muito dos reflexos do mercado, seja pela valorização ou desvalorização do dólar e da própria valorização do produto que regula a Bolsa de Chicago e por isso o produtor fica, muitas vezes, em uma gangorra. Mas não podemos contestar: vive-se um momento extremamente positivo, com uma produtividade e preços acima do esperado”, avalia Mello.
O chefe da Emater de Hulha Negra, Guilherme Zorzi, destaca a evolução da área plantada no município. “Esse ano estimamos que a área plantada chegue a 15.500 hectares. Vem bem estável nos últimos anos. Até porque tem limitações para novos plantios. A safra está com um terço do que foi plantado, colhido. Ainda tem muito o que avançar. As produtividades até agora estão muito boas. Provavelmente serão os melhores números da história em produtividade. Mas teve uma pequena estiagem no fim do mês de fevereiro até o final da primeira quinzena de março, que contabilizou 32 dias sem chuva. Isso pegou boa parte das lavouras na fase de enchimento de grãos. Isso pode cair um pouco a produtividade das lavouras que serão colhidas daqui para frente. Quase ninguém está colhendo menos de 50 sacos por hectares, mas muitos produtores estão colhendo até 60 ou mais. Mas a expectativa é fechar em uma média entre 45 ou 50 sacos por hectares”, salienta.

PREÇO ANIMADOR – Zorzi fala que a questão do preço está muito animadora. “Nas outras safras o preço baixou quando o pessoal estava colhendo, mas esse ano até aumentou um pouco. Os produtores estão bem animados. Logicamente tem dividas que vem sendo carregadas das últimas safras, pois teve duas safras com estiagem e outra com excesso de chuva na colheita, então, esse ano talvez tenhamos a melhor produtividade e o preço quase o dobro do que o trabalhado nas últimas safras, custo de produção praticamente igual do ano passado”, completa. Em Hulha Negra, a área plantada entre 2016 e 2018 chegou a 16.500 hectares, nos últimos três anos tem variado entre 15.000 e 15.500 hectares.
O chefe do escritório da Emater de Hulha Negra atende algumas lavouras em Candiota e Pedras Altas também, e por lá, ele destaca que o cenário também é de ótima safra. “As produtividades em Candiota devem ser até melhores que aqui na Hulha Negra, pela questão das chuvas, especialmente a que ocorreu em 5 de março que deu entre 30 e 40 milímetros. Foi em um momento crucial. As lavouras estavam em fase de enchimento de grão ou formação de vagem. Também tem bastante área de várzea que produz muito, porque são terras fortes e férteis. Tem capacidade de reter a umidade. A expectativa é que lá também não baixe de 50 sacas de média de produtividade”, conclui.
O presidente da Associação dos Agricultores da Região da Campanha (Agricampanha), Gesiel Porciuncula dos Santos, informa que, na região, cerca de 35% da soja já foi colhida. Sobre a produtividade ele também reitera que se trata de uma safra histórica. “Estamos em uma colheita única em nossa região. E não só da soja, mas do arroz também e isso associado aos preços que estão excelentes. Então, acredito que teremos, até o final da colheita, uma safra com médias históricas”, repercute o dirigente da Agricampanha.

“O CAMPO NÃO PARA” – O presidente da Cooperativa Agrícola Mista Aceguá Ltda. (Camal), Sieghard Ott, reitera que os fatores climáticos foram de grande auxílio para que as lavouras produzissem em maior escala. Segundo Ott, a média de colheita da soja verificada nos últimos anos foi de cerca de 30 sacos por hectare; agora, a perspectiva é que se chegue a uma média geral de 45 sacos por hectare. “O produtor plantou sua lavoura com custo de insumos relativamente inferior, ao aumento dos preços de todos os produtos, entre eles, soja, arroz, milho e sorgo. Com o preço em dobro e a produtividade até 50% maior, as culturas deverão injetar um volume 100% de recursos a mais que os anos anteriores. Fator que preocupou, mas não nos abalou, foi a pandemia da Covid-19. Os produtores, com certeza, tomaram todas as medidas necessárias para conter o avanço do vírus entre as pessoas envolvidas, mas continuaram atuando, com uma visão de trabalho forte, pois ‘o campo não para’”, afirma Sieghard Ott.
O presidente da Camal pondera também que os produtores devem ficar atentos a um ponto para a próxima safra: o preço dos insumos, que deverão acompanhar a valorização do produto acarretando em subas relevantes. “Muito cuidado no momento de projetar a próxima safra. O resultado mais importante que a cadeia produtiva trás, é o desenvolvimento das regiões, gerando empregos, renda e uma melhor qualidade de vida a todos”, encerra Sieghard Ott.

Melhores expectativas e clima favorável

Lavoura de soja em Hulha Negra em plena colheita Foto: Divulgação TP

A avaliação até o momento da safra em Candiota, conforme Marco Antônio Marimon, presidente do Sindicato Rural, está entre 30 e 35% colhida. “É uma safra promissora. O produtor vem evoluindo e aprendendo, pois somos uma fronteira agrícola nova. As últimas três safras foram bem difíceis por adversidades climáticas, apesar de termos novas cultivares de soja, mais adaptadas a região. E esse ano teve chuvas frequentes e na medida certa, não houve seca. A exportação está em alta. O preço está bem convidativo. Há anos que não acontecia isso. Nós plantamos uma safra em torno de R$80 reais a saca e estamos colhendo essa mesma safra em torno de R$160 e R$170 reais”, explica.
Marimom não acredita nessa diferença para a próxima safra. “Os insumos subiram, o adubo quase triplicou, implementos, maquinários e outros também tiveram aumento. Então, para a próxima safra acredito que a lucratividade será menor que nessa safra. Esse ano está espetacular, porque a produtividade está muito boa. Isso ajudará os produtores a se recuperarem. A região enriquece e todo mundo ganha”, comenta.
A vice-presidente do Sindicato Rural de Pedras Altas e também produtora rural, Luciane Braga Silveira de Ávila, diz que esse ano pode se dizer que é uma supersafra. “Ano de alta produtividade e preços elevados. A expectativa é excelente porque essa combinação de fatores proporciona um crescimento para os produtores, para a região e para o município. A evolução na região é enorme, hoje em dia podemos contar com os silos da puro grão, localizados na região de São Diogo, que facilita e agiliza a entrega da produção e garante aos produtores uma colheita mais rápida”, garante.
Luciane enfatiza que o apoio da prefeitura de Pedras Altas é fundamental. “Mantendo as estradas em condições para o escoamento da safra e dando todo o suporte aos produtores. Pedras Altas é uma nova fronteira agrícola com grande potencial produtivo e econômico”, pontuou.

CLIMA – Conforme o gerente da Emater de Pedras Altas, Sérgio Madruga Furtado, o clima favoreceu a cultura da soja, não ocorrendo déficit hídrico. “Isso resultou em uma safra considerada a melhor do município nos últimos 10 anos. Produtores temiam excesso de chuva na colheita, o que poderia resultar na perda total das lavouras, porém as condições climáticas favoreceram durante todas as fases da cultura. Com uma produção espetacular e o preço tendo se mantido com leve evolução a tendência é aumento da área cultivada no próximo ano Safra 2021/2022”, destaca Furtado.
Pedras Altas tem uma área plantada de 44.200 hectares. Um dado que chama a atenção, revelado por Furtado, é que teve lavouras que chegaram a colher 114 sacos por hectares.
Conforme o presidente da Junta Governativa do Sindicato Rural de Pinheiro Machado, Heber da Rosa Farias, a área plantada em Pinheiro Machado está em torno de 7.000 a 7.500 hectares. “A expectativa é muito boa, estimando produção de 50 sacas por hectare. Isso se deve ao bom ano, com chuvas regulares que colabora para esta boa safra. A área plantada tem aumentado no município, pela rentabilidade da soja. E tudo isto é muito bom, neste momento difícil que estamos vivendo. O campo não para. É dinheiro no bolso do produtor”, destaca. Farias relata que, mesmo com toda tecnologia e agricultura de precisão, o fator determinante de uma boa safra, são as chuvas nos momentos certos.

DESAFIO DE SAFRA – Os produtores Nivio Erni Rockenbach e Felipe Rockenbach, da Agropecuária Rockenbach, em Hulha Negra, destacam que os principais desafios são o clima, a garantia do preço e o custo dos insumos. “Esse ano a safra está excelente. Vínhamos há três anos sofrendo com a seca, mesmo nossa área tendo irrigação. O sequeiro sofreu muito”, salienta Felipe.
Na propriedade, 54% da soja já foi colhida, tendo como média de 84 sacos por hectare na área irrigada e 63 sacos na área de sequeiro. Uma média geral de 72 sacos por hectare. “No irrigado não teve grandes diferenças, porém, no sequeiro na última safra tínhamos colhido 21 sacos por hectare, e nesse ano, até o momento, a média é 63”, completa Felipe.

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