32 ANOS DE EMANCIPAÇÃO

Seu Ivo e a filha Jussara criaram raízes em Candiota há mais de 40 anos e acreditam no futuro da cidade

Ele é proprietário da Bar e Mercearia do Ivo e ela da loja Via Urbana e do Birra Pub Foto: Sabrina Monteiro TP

Para celebrar o aniversário de emancipação de Candiota e Hulha Negra, o jornal sempre busca contar histórias de vida de pessoas nascidas e criadas nos municípios, mas também daquelas que criaram raízes e fizeram de uma das duas cidades o seu chão. Esse é caso de um dos comerciantes mais antigos de Candiota, o seu Ivo da Silva Paula e de sua filha, Jussara de Paula, que após 44 anos morando e empreendendo na cidade, se transformaram em candiotenses de coração.

A História de seu Ivo começa no município de Trindade do Sul, quando ainda era distrito de Nonoai. Em sua terra natal, ele constituiu família com a esposa Floriana e juntos tiveram um casal de filhos. Como sustento inicial do lar, eles começaram a vida como pequenos agricultores, trabalhando em lavouras. Porém, em meados de 1968, seu Ivo ficou doente e após dois anos impossibilitado de trabalhar, ele foi liberado para as atividades, porém, com algumas regras, como ficar longe da exposição ao sol e perto do fogo, por exemplo. Ao ver que o único meio de trabalho estava perdido, ele vendeu a propriedade e teve a ideia de montar um bar e ir em busca de novas cidades que estivessem passando por grandes obras, com a certeza de que encontraria público e movimento para o novo negócio. Foi assim que ele chegou até Candiota, em 20 de novembro de 1979, quando já havia passado por cidades como São Valentim. “Nós estávamos procurando um lugar para trabalhar com o bar, e não tem nada melhor como beira de obra. E assim consegui criar os meus filhos, dar uma boa formação e estamos aqui há 45 anos. Sempre ficamos no mesmo lugar, na mesma localização”, contou ele.

Ao ser questionado sobre o motivo de ter escolhido Candiota para fazer morada, seu Ivo disse que enxergou no município, que ainda não havia sido emancipado, muitas possibilidades em razão do carvão, pois quando passaram por outros municípios trabalhando em obras como a construção de hidroelétricas, o movimento sempre acabou e apenas meia dúzias de pessoas continuavam naquele local, mas Candiota era diferente. “Eu vi que aqui tinha futuro, e acho que acertei”.

Com o bar localizado no bairro São Simão, às margens da BR-293, ele chegou com a sua casa em um caminhão, pois para facilitar a mudança, ele pensou em montar uma casa de madeira, um chalé, assim, em cada novo destino, ele só precisava desmontar as peças e remontá-las no novo endereço. Com o estabelecimento muito conhecido na cidade, o comerciante relembrou que manteve as portas fechadas apenas uma vez, quando teve um infarto e precisou se distanciar dos afazeres. “Quando eu pensei em voltar a trabalhar veio a pandemia, e então precisei deixar mais 10 meses o meu bar fechado. Acabei adoecendo, fiquei muito magro, com diversos problemas e sinceramente iria morrer. Foi aí que dei uma diminuída no espaço e retornei com as atividades, porque depois de fazer do bar o sustento da minha família por anos, agora aposentando, esse lugar é a minha terapia”, destacou ele, relembrando que tem clientes fixos há mais de 30 anos. “Tenho pessoas que vinham aqui quando eram bem novinhos, muitas vezes até menor de idade para tentar beber alguma coisa, e hoje estão com o cabelo branco e continuam vindo aqui”.

Antes de chegar em Candiota, seu Ivo inovou em outras cidades com casas para aluguéis e também ponto de táxi, mas sobre alugar um espaço para outras pessoas ele disse que não pensa mais, pois só ganhou incômodo. Sobre o futuro da cidade, ele disse, em sua opinião, que Candiota é um dos municípios com mais futuro do Sul do país. “Aqui é a Capital Nacional do Carvão, eles falam em fechar as usinas, mas eles não vão fechar nunca e isso não pode parar. Candiota vai aumentar muito, eu espero que a cidade cresça ainda mais e acredito que muitas coisas ainda vão surgir. Por enquanto está sendo só o carvão, mais ainda vai vir muito mais”, ressaltou.

Ao finalizar, o comerciante disse que aos seus 83 anos de idade, acha que Candiota é uma cidade muito boa e que precisa melhorar aos poucos, mas que tudo está se encaminhando como deve ser. “Eu acredito no potencial da minha cidade, e ainda vão descobrir muitas coisas para se fazer com o carvão. Aqui tem argila boa para fazer louça e tijolos, lembro que um vereador montou uma olaria uma vez e vendia tijolos branquinhos feitos com esse material”, concluiu.

 

JUSSARA

 

Nascida em Trindade do Sul, Jussara de Paula, 54 anos, teve o seu primeiro emprego em Candiota na empresa Cimbagé, onde conheceu o ex-marido e pai dos seus filhos. Com o início do processo de terceirização, ela e o ex-companheiro buscaram outra fonte de renda, até mesmo em Pelotas, mas nada agradou. Foi aí que surgiu a possibilidade de comprar a loja de roupas que foi do tio, e que na época estava sob responsabilidade do primo. “Assim nasceu a Essencial, também em um chalé, pois assim como o pai, o tio também acompanhava obras com sua casa de madeira”, contou ela, relembrando que a loja permaneceu com esse nome até 2008, quando se separou e deu vida à atual Via Urbana.

Com a loja já consolidada, há cerca de seis anos atrás ela teve a vontade de ter o seu próprio bar, e assim surgiu o Birra Pub. “Nós precisávamos de uma identidade visual, e não tinha como ser outra se não a história da minha família e de como cheguei até aqui”, disse ela, contando que viajou para diversos lugares e de cada um deles pegou alguma ideia para idealizar no Birra, colocando tudo o que gostou em um espaço para Candiota. “Quando comecei a montar tudo, muitas pessoas me questionaram, perguntavam o motivo de estar investindo tanto em Candiota, mas eu acredito na cidade e tudo o que eu tiver que fazer vai ser aqui”, pontuou.

Para deixar o bar ainda mais identificado com a sua história, ela usou as madeiras que por muitos anos formaram a estrutura da casa da família e que ainda estavam guardadas no porão da casa do pai, para montar as mesas do Birra, sem falar que a temática também conta um pouco da história que viveram. Em relação ao município, a empresária disse que há espaço para mais lugares assim, só é preciso ter esforço e vontade. “Assim como o pai, acho que Candiota vai continuar crescendo e é isso o que eu espero para o futuro do nosso município”, finalizou.

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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