OPINIÃO DO TP

Tempo de mudanças em Candiota

Esse editorial talvez seja confundido com alguma plataforma política. Não é e não tem essa pretensão, até porque uma plataforma precisa ser bem mais ampla e debatida. Mas se alguém quiser adotar isso como uma diretriz, um norte, está autorizado o uso.

Candiota, nascida como município de forma oficial em 1992 e implantada a partir de 1993, completou 30 anos de fundação neste ano de 2022. A localidade, contudo, vem se constituindo desde o século retrasado (ou até antes), segundo o historiador e presidente da Comissão de Emancipação do município, Tailor Lima, em seu livro Candiota Terra de Riquezas, Lutas e Conquistas – Uma viagem no tempo (2016).

Mas ao longo do tempo, notadamente a partir da implantação da estação férrea Apleby, que depois se tornou estação Dario Lassance (início da década de 1930), a localidade possui forte presença estatal. Nessa época pela Viação Férrea do RS (depois Rede Ferroviária Federal –RFFSA), pois por Candiota passava e ainda passa, a célebre estrada de ferro Rio Grande-Bagé.

Em dezembro de 1961, há a inauguração da termelétrica a carvão Usina Candiota I (20MW), pertencente a recém estatizada pelo então governador Leonel Brizola, Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE). O carvão para abastecer a usina era oriundo do Departamento Autônomo de Carvão Mineral (DACM) – hoje Companhia Riograndense de Mineração (CRM), também pertencente ao Estado gaúcho.

Nos governos militares, Candiota recebeu forte investimento estatal. Se inaugurou a Usina de Candiota (Fase A) em 1974 e depois a Fase B em 1986. Ainda sem pretensão de ser uma cidade, investimentos em núcleos urbanos distantes entre si (que até hoje dificultam o desenvolvimento urbano) foram sendo feitos e aumentados, com as estatais CEEE e CRM cuidando de tudo. Ainda hoje há um saudosismo e nostalgia em falas lembrando que até as lâmpadas das casas eram trocadas, gramados cortados, entre outras benfeitorias e regalias estatais. Isso terminou.

Já minguando os investimentos, ainda foi construída mais recentemente a Fase C (2011) com recursos públicos.

Essa forte influência do Estado forjou uma identidade e uma cultura local bem peculiar. Enquanto as estatais estavam fortes, tudo parecia perfeito, inclusive com os trabalhadores ganhando bons salários, bem acima da média nacional, o que tornou em dado momento, e hoje não mais, Candiota como uma cidade ou localidade com renda per capta invejável. Essa cultura também permeou a governança na Prefeitura, criada efetivamente a partir de 1993. Ao longo desses 30 anos de município, um espírito maternal comandou as ações.

Entretanto, a construção da UTE Pampa Sul e agora mais recente a privatização da Eletrobras, têm trazido uma nova fase para a cidade, que está assustada com tantas mudanças e óbvio que parecem para pior dentro de um receituário neoliberal. Há certa desorientação geral. A venda dos imóveis da CGT Eletrobras é mais uma expressão dessa mudança, que parece não ter volta.

Outro fator importante é a discriminação do carvão mineral em todo mundo, mas em especial no Brasil. Entender esse momento histórico se faz por demais necessário, senão não se pode projetar o futuro.

As forças vivas da sociedade, puxadas pelo poder público e pelas lideranças políticas precisam se debruçar sobre esse diagnóstico e como serão tomadas ações concretas para superar a crise. Aliás, negar que existe uma crise não é o melhor caminho.

A cidade precisa lutar com unhas e dentes para a prorrogação da atividade do carvão. Esse é um ponto fundamental. Por outro lado é fundamental debater alternativas econômicas e sociais de médio e longo prazo – uma delas é a carboquímica para produção de fertilizantes. O sentimento de pertencimento e uma identidade candiotense, que possuem dificuldades, nunca foram tão importantes.

Projetar uma cidade com mais oportunidades, mais moderna, com educação pública de altíssima qualidade, que defina de uma vez por todas onde e como de fato vai se desenvolver, buscando atrair novos investimentos e se diferenciando esteticamente como fator de atração econômica, se faz fundamental, além de lançar ações para reter e atrair novos habitantes (parte dos melhores salários ganhos na cidade, não moram em Candiota), bem como, desmantelar com políticas públicas núcleos com sub-moradias.

Também a resolução de problemas históricos como o sistema de abastecimento de água; a contenção do espalhamento urbano pelos demais núcleos urbanos, focando na sede do município; o incentivo a diversificação agropecuária; o desenvolvimento do turismo voltado à história (berço da Revolução Farroupilha), bem como da cultura das oliveiras, da uva e do vinho, são algumas das diretrizes a seguir. Ainda, o incentivo ao empreendedorismo e a inovação local; o redimensionamento da máquina pública, sem isso significar menos serviços, são questões essenciais para garantir uma cidade próspera e com vida longa a partir de agora.

Comentários do Facebook