Estou no norte do Estado e amanhã pretendo voltar a Porto Alegre. Alguém me falou que haverá protestos em estradas no meu caminho amanhã. Nunca tolerei protestos que param estradas, seja de quem for. Não faz muito tempo era a elite dos proprietários de caminhões pretendendo obter vantagens que estavam parando estradas. Em outros tempos era o pessoal ligado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), agora me dizem que são ruralistas. Não me interessa. Qualquer grupo que parar o trânsito em estradas está prejudicando a sociedade que apenas quer transitar e tem o direito de transitar. Não há argumento razoável que justifique atos de autoritarismo, onde quem pode mais chora menos e partindo de homens que quando em grupo se acham mais homens do que normalmente são. Quando falo em homens estou me referindo a homens e mulheres. Na verdade, covardemente, prejudicam os outros porque estão em grupo.
Queria ver alguém ter o peito de trancar uma estrada sozinho.
Que o agronegócio é muito importante para o Brasil todos sabemos e sei que as pequenas propriedades representam em nossa região a maioria dos produtores rurais. O estado deve olhar com respeito e atenção às necessidades de quem produz e é justo que estes requeiram. Não está em pauta a relevância do setor rural na economia brasileira. Mas é preciso que se coloque, que são raríssimos setores, se é que existe algum, que receba mais vantagens do setor público que o setor rural. Não há financiamentos mais baratos que os obtidos pelo empreendedor rural. Talvez parecido no BNDES. Ninguém consegue renegociar dívidas mais vezes e com juros tão baratos como o pessoal que atua no meio rural.
“Não está em pauta a relevância do setor rural na economia brasileira. Mas é preciso que se coloque, que são raríssimos setores, se é que existe algum, que receba mais vantagens do setor público que o setor rural.”
Conhecendo produtores rurais desde que me lembro de existir, e já faz algumas décadas, sei que quando tudo andou muito bem, o produtor rural vai dizer que está mal, porque só deu para pagar as dívidas dos anos anteriores. É claro que não raramente ele chega com um carro que vale cinco a dez vezes mais que o meu que até sou bem remunerado. Mas o discurso é o mesmo.
Quando está mal e o tempo não ajudou, haja balde para juntar tantas lágrimas. O fato é que o mundo atual exige competência e quem não se preparar tecnicamente para enfrentar os desafios do meio rural vai passar trabalho na vida. Muitos produtores que eu conheço não são empresários rurais, são especuladores rurais. Apostam na sorte, como se plantar fosse o mesmo que apostar numa dessas bet da vida. Não raramente dá errado.
Trocando em miúdos, vá que alguém não entenda, produzir no verão sem água na nossa região tem tudo para dar errado. Mas apostar é vício num país que não por acaso se tornou o paraíso dos apostadores. Aposte em produzir arroz, tendo água. E alguém vai me dizer, isto não é aposta, “aqui na região o que dá é arroz, o resto é bobagem”, me disse certa vez o Renato Machado, ex-prefeito de Hulha Negra.
Eu, que não sou produtor rural, e estou distante das reivindicações em curso, não tenho como afirmar que o movimento é injusto, mas posso afirmar que bloquear estradas, além de ser ilegal, e abusivo, é injusto com todos aqueles que tem o direito de ir e vir.
Não faz muito tempo, o Exército andou em Hulha Negra para reabrir estradas bloqueadas. Espero que apareçam de novo se for necessário para botar ordem na casa.
Por outro lado, é preciso que o prefeito tome algumas providências. Acampamento de protesto em área pública municipal deve ser eliminado com a maior brevidade. Não importa se é do MST ou de ruralistas. Tem que pedir reintegração de posse e botar ordem onde faz tempo que impera a desordem, como no entorno do que foi um dia o viveiro municipal ou ‘elefante branco’, como apelidei, faz tempo.
JÁ FOI CONTEÚDO NO IMPRESSO