Transporte escolar é essencial

O saudosismo geralmente é perigoso porque compara épocas distintas, contextos totalmente diferentes e realidades mais distantes ainda. Pelo dicionário, a palavra significa a tendência, o gosto fundado na valorização demasiada do passado.
Esta semana, depois que o TP publicou em sua versão digital uma reportagem do menino Heitor, morador do assentamento 22 de Dezembro, que estava indo a cavalo de sua casa, cerca de 10km, até a escola estadual Oito de Agosto, por falta de transporte escolar de responsabilidade do governo do Estado, uma certa controvérsia foi gerada em torno do assunto.
Algumas pessoas, com ar saudosista, falaram de suas experiências ou de seu pais, que faziam longos trajetos a pé, de cavalo ou carroça para poderem chegar na escola. Alguns até questionaram o próprio jornal em ter dado destaque para algo assim, que consideram normal.
É perfeitamente tolerável o raciocínio das pessoas em se referir que no passado ou no ‘meu tempo’ as coisas eram assim. De fato eram. Entretanto os tempos são outros. O equívoco está em comparar uma coisa com a outra.
No caso em tela, é totalmente anormal e desproposital, em pleno século 21, uma criança dispor de cerca de três horas do seu dia para, no lombo de um cavalo, poder estudar. No passado, com um Brasil essencialmente rural e níveis de desigualdades regionais gritantes (até hoje persistem), era até aceitável as crianças percorrem precariamente longos trajetos para chegar nas escolas. Contudo, o grau de escolaridade, em função dessas dificuldades, eram baixíssimos e o país era de uma grande maioria de analfabetos ou semialfabetizados.
O transporte escolar, com conforto e permanente é parte do processo educacional de qualidade. Normalizar alguém precisar dispor de sacrifício extra para ter acesso à Educação não é legal. Claro que a atitude do Heitor e de sua família é louvável e digna de admiração, mostrando amor pela aprendizagem, mas ao mesmo tempo precisa gerar incômodo na sociedade, como de fato gerou.

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