ESPECIAL

Adilson Coletor espalha bom humor pelas ruas de Candiota

A dureza do trabalho da coleta diária do lixo não tirou a ternura e a irreverência deste personagem urbano candiotense

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Com a aceitação do público nas redes sociais, Adilson Coletor está na finalização de uma produção musical Foto: J. André TP

Apesar de tudo, sorrir e se divertir. Talvez tenha sido essa a maior lição que a reportagem do Tribuna do Pampa tenha aprendido com a visita do jovem de 22 anos, Adilson Silva Machado. Muitos não o conhecem pelo nome completo, mas e se falarmos no Adilson Coletor? Ele faz parte da equipe da coleta de lixo que percorre toda a cidade e o interior de Candiota. Adil­son também tem um perfil já bastante visitado nas redes sociais.

Entre todos os requi­sitos que um coletor precisa para realizar o seu trabalho, Adilson tem um diferencial: não dispensa o bom humor para levar uma mensagem otimista e ainda se utiliza desse artifício para disseminar informações sobre educação ambiental. Se a maioria faz o simples e o óbvio, Adilson acorda cedo todas as manhãs e mobiliza a sua equipe para que juntos façam de onde vivem um lugar melhor. “Não é um trabalho nada fácil e agradável, mas não é por isso que vamos passar o dia todo de mau humor”, lembrou.

No Facebook, Adilson posta vídeos e fotos do dia a dia e dos desafios do grupo pelas ruas da cidade. Con­forme contou, tudo começou quando ele acabou sendo ferido por uma seringa descar­tada em lixo comum. “Desde o ano passado eu comecei a fazer os vídeos mostrando a nossa realidade. Encontramos muitos descartes irregulares e passamos por situações que prejudicam o andamento do nosso trabalho. Eu tinha o meu perfil pessoal e comecei a postar alguns vídeos fazendo humor, porque é isso que as pessoas gostam e param para ver. Sempre gostei de diversão, me entroso muito bem com as pessoas e os meus co­legas de trabalho também são assim. Desde então comecei a levar isso para o público e veio a ideia de fazer o perfil do Adilson Coletor”, disse.

RAP DO COLETOR Além das redes sociais, ele acredita que a música também é uma boa estratégia para atingir o público alvo. É por isso que ele já está planejando uma novidade. “Andei trabalhan­do na letra de uma música para conscientizar o pessoal sobre as maneiras de fazer o descarte correto – vidro, lixo orgânico, seco ou reciclado. É no estilo de um rap e ficou bem bacana, acredito que o pessoal vai se identificar bas­tante e vai aprender também. Vejo que a música é uma ma­neira mais rápida da gente se aproximar das pessoas”, falou Adilson. Até o final do ano ele pretende gravar em estúdio e disponibilizar o hit para os candiotenses em diversas plataformas.

Além de Adilson, a equipe é formada por João Maria, Doclézio de Lima, Everton Oliveira e Marcelo de Lima Foto: J. André TP

LIMPEZA Durante o bate­-papo na redação do TP, o profissional comentou ainda que, apesar de não ser uma ordem da empresa, o grupo de coletores tem buscado intensificar a limpeza das vias. “Eu comecei a cobrar mais das pessoas porque elas fazem isso o tempo todo com a gente. A população nos cha­mava atenção quando ficava alguma coisa na lixeira ou até mesmo caída no chão, então o certo é que todos precisamos fazer algo para melhorar. Desde então, começamos a regularizar isso aí e temos o cuidado em passar um pente fino até naquele lixo que os cachorros reviram no entorno das lixeiras”, contou.

CRIANÇAS Questionado sobre o retorno que toda essa mobilização dá para ele, como ser humano de um modo ge­ral, Adilson vai muito além da questão trabalho/remune­ração. “Claro que isso me dá retorno porque, quando eu co­mecei a trabalhar, desenvolvi um sentimento pelo meu ser­viço e comecei a gostar do que eu fazia. Eu também sempre lidei muito bem com o povo, eles me acham divertido e muitos nos dão atenção. O que mais me motiva também são as crianças, elas esperam o caminhão passar, às vezes com água, algum lanchinho e nos tratam muito bem. É uma questão de afeto e a gente gosta de receber essas gentilezas”, registrou.

Ainda segundo Adilson, o carinho que re­cebe do público infantil faz com que ele tenha liberdade para aconselhar. “Não é uma profissão que eu vá recomen­dar. Eu lembro isso para a gurizada que tem um enorme carinho por mim e admira o trabalho que eu faço. A minha função atual foi algo que eu precisei aprender a fazer com alegria porque eu não tive ou­tra opção. Eu precisei escolher entre estudar ou trabalhar e é por isso que a minha realidade agora é correr atrás de um caminhão, mas isso não quer dizer que eu tenha desistido”.

SUSTENTO Orgulhoso de sua trajetória, Adilson disse que com o seu atual emprego consegue sustentar sua família e investir no seu bem-estar. “Eu venho de uma família humilde. Quando precisei parar de estudar para trabalhar foi porque eu precisava ajudar a minha mãe e os meus irmãos, então foi isso que eu fiz. Não me arrependo, mas ainda quero voltar a estudar para conseguir uma profissão melhor”, finalizou.

SAIBA MAIS Natural de Bagé, Adilson se mudou para Candiota aos 10 anos de idade, junto com a mãe e os três irmãos. Até hoje reside na Estação Guimarães, que fica a cerca de 3km da Vila Operária em direção a Pi­nheiro Machado. Estudou na escola Francisco Assis Rosa de Oliveira (Faro), mas ainda não conseguiu concluir pela necessidade em priorizar o trabalho. Adilson é casado e ajuda a criar um dos irmãos. Antes de ser coletor, ele já trabalhou como mecânico e também de entregador do TP.

“Quando eu estava desempregado, pedi opor­tunidade para o motorista do caminhão do lixo lá de Pinheiro Machado e fui cha­mado para fazer um teste. Três meses depois, em dezembro de 2016, eles assinaram a minha Carteira de Trabalho. É a mesma empresa, mas desde fevereiro de 2017 eu passei a fazer a coleta aqui em Candiota”, detalhou.

Quando teve início a construção da Usina, Adil­son chegou para ser o quarto gari de uma equipe até então composta por três homens. O grupo atua pela empresa FMJ Transportes e Reciclagem. “Como aumentou muito a quantidade de pessoas em Candiota, o lixo também aumentou. Para mim, que já morava aqui, ficou bem melhor em função do desloca­mento. Mesmo assim, eu sou o primeiro a sair de casa para trabalhar e o último a chegar”, contou. Ele disse que leva, em média, 30 minutos a pé e 15 minutos de bicicleta para chegar até a Vila Operária.

DICAS DO ADILSON COLETOR
* Seringas, agulhas e ampolas devem ser entregues em qualquer Unidade Básica de Saúde (UBS);
* Material como vidro ou qualquer outro capaz de causar perfuração deve ser armazenado em garrafas PET ou em caixas de leite devidamente identificados;
* Não acumular dejetos dos animais por muito tempo para facilitar o carregamento;
* Principalmente nos assentamentos, onde o recolhi­mento é feito a cada 15 dias, o lixo deve ser separado em quantidades menores para não dificultar o trabalho dos coletores;
* Sempre que possível, os resíduos devem ser encami­nhados para a reciclagem.

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