RURAL

Audiência em Candiota alerta para prejuízos à produção de leite com mudança nas regras

Normativas emitidas pelo Ministério da Agricultura podem colocar em xeque a produção nacional

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A audiência foi proposta pelo vereador João Roberto Silva da Costa (PT), em conjunto com os vereadores da base de governo Foto: Leandro Molina/Especial TP

As novas regras para a produção de leite no país, que especifica os padrões de identidade e qualidade do leite cru refri­gerado, estabelecidas pelo Ministério da Agricultura e Abastecimento (MAPA), foram tema de audiência pública da Câmara de Vere­adores de Candiota, realiza­da na sede do Assentamento Santa Marta, no município.

A audiência, pro­posta pelo vereador João Roberto Silva da Costa (PT), em conjunto com os vereadores da base de go­verno, foi solicitada pelas cooperativas de produção de leite da região. A ativi­dade reuniu produtores que buscam entender as Instru­ções Normativas 76 e 77, do MAPA, que tratam das características, qualidade do produto e critérios para obtenção de leite. Há mui­tas dúvidas e reclamações a respeito das normativas.

Em linhas gerais, as instruções apontam para a melhoria da qualidade do leite oferecido ao consumi­dor. Mas os representantes das cooperativas e assen­tados da reforma agrária alegam que na prática, a instrução quer aumentar a competitividade no merca­do internacional. Segundo eles, o que está em jogo é o modelo de produção que elimina os pequenos produ­tores em favor dos grandes.

O vereador João Ro­berto destacou as preocupa­ções dos pequenos produ­tores da região, principal­mente com a forma da im­plementação das medidas. “As normas vão inviabilizar a produção de leite para pe­quenos e médios produtores do Estado”, alertou.

Somente na Coope­rativa de Produção Agro­pecuária do Pampa (Coo­pampa), que tem sede em Candiota, 40% dos pro­dutores associados ficarão de fora da produção com as medidas do governo federal. Levantamento tam­bém apontou que a cadeia do leite movimenta R$ 80 milhões por ano na região, e com as medidas os mu­nicípios sofrerão impacto econômico.

Deputado estadual Edegar Pretto (PT) participou da audiência Foto: Leandro Molina/Especial TP

Presente no evento, o deputado estadual Edegar Pretto (PT) lembrou que a agricultura familiar é a base da economia de 90% dos municípios brasileiros com até 20 mil habitantes. Segundo ele, o Estado no­vamente se encontra diante de um problema socioe­conômico que vai excluir famílias da atividade leitei­ra. Conforme dados, o Rio Grande do Sul tem aproxi­madamente 65 mil produto­res de leite. Do total, cerca de 11 mil produzem até 50 litros, e 13 mil até 100 litros por dia. “Em vez de medi­das para promover a cadeia do leite e eliminar riscos, o governo federal pode levar à falência milhares de famí­lias que vivem da produção. É um efeito que vai quebrar produtores e gerar mais desemprego no campo”, avaliou o parlamentar.

Dados apresentados pelas cooperativas mostram que o Brasil é 4º maior produtor de leite do mundo. Cerca de 60% da produção de leite do país é oriunda da agricultura familiar. Na região, os assentamentos da reforma agrária também são responsáveis por parte da produção.

Líder do MST, Ildo Pereira, falou da preocupação do setor com as normativas Foto: Leandro Molina/Especial TP

Somente o MST tem mais de mil famílias que produzem leite, que resulta em quase 800 mil litros por mês. Conforme Ildo Pereira, dirigente do Movimento, no Rio Grande do Sul houve organização e investimento na produção de leite. Ele lamenta o fato do governo criar um novo critério que, segundo ele, deixa as famí­lias vulneráveis.

Em matéria publi­cada na página de internet do MAPA, a responsável pelo Programa Nacional de Qualidade do Leite no Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa) do MAPA, Mayara Souza Pinto, as normas têm como objetivo atualizar os critérios de produção e seleção de leite de qualidade, com foco nas boas práticas agropecuá­rias e na educação sanitá­ria. “A implementação das normas permitirá avanço significativo nos índices de qualidade, o aumento da produtividade leiteira, a oferta de alimentos mais se­guros à população e a queda de barreiras comerciais para exportação”, assinala.

MOBILIZAÇÃO Consi­derando as pontuações do setor e como encaminha­mento da audiência, vere­adores e representantes das cooperativas propuseram criar uma mobilização no estado e convocar produ­tores, prefeitos e entidades do setor. Também irão cobrar uma posição do governador Eduardo Leite a respeito do tema e do impacto econômico das medidas no RS.

Já nesta terça-feira (23), às 9h, uma reunião na Câmara de Vereadores de Candiota, convocada pelo Consórcio Público Inter­municipal de Desenvolvi­mento Econômico, Social e Ambiental dos Municípios da Bacia do Rio Jaguarão (Cideja) e pelo Fórum de Desenvolvimento Regio­nal, Manejo das Águas e Combate às Estiagens (Fó­rum das Águas), deve reu­nir lideranças e dirigentes dos municípios da região para debater os encaminha­mentos da mobilização.

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