BACIA LEITEIRA

Audiência pública debate as novas normativas do leite em Hulha Negra

Tema preocupa o grupo, pois em torno de 50 famílias dos municípios de Candiota, Hulha Negra e Aceguá serão retiradas da produção de leite caso as normativas sejam implantadas com o rigor apresentado

 

Um bom público compareceu a audiência na localidade da Copaul Foto: Jober Sanches/Especial TP

Assim como já havia ocorrido no muni­cípio de Candiota, Hulha Negra se mobilizou para tratar as questões rela­tivas as Instruções Norma­tivas 76 e 77 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que tratam das características, qualidade do produto e cri­térios para obtenção de leite.

O encontro, reali­zado pela Câmara de Ve­readores de Hulha Negra, Emater e Coptil, aconteceu no assentamento Copaul com a presença de vere­adores do município e de Candiota, produtores de leite e integrantes de co­operativas. O debate foi fomentado em Candiota durante uma audiência pú­blica que aconteceu também nos assentamentos, além de encontros com prefeitos por meio do Consórcio Cideja, que busca a união de dados relativos a pauta e montou uma cartilha de boas práticas e orientações sobre as duas normativas, que será distri­buída aos produtores de leite da região.

Na oportunidade, Al­fonso Campos, o Xiru, da Coptil, lembrou que as ins­truções são de interesse das famílias que produzem leite, independente do destino de entrega ou fornecimento do leite. Ele destacou, porém, que o questionamento das normativas 76 e 77 é quanto à forma como estão sendo apresentadas. “Não estamos fazendo defesa do leite sem qualidade. Jamais vão ouvir uma orientação que não seja adequada, sempre é visando a qualidade, seja na produ­ção de uma vaca embaixo de uma árvore ou um produtor que tem ordenha e enorme estrutura, pois o manejo é o definidor da qualidade do leite”, esclarece o pro­fissional, relembrando que os avanços modificaram os resfriadores, que antes eram coletivos, em tarro e hoje existem os resfriadores.

Vereador de Candiota, João Roberto, também participou da audiência no município vizinho

Xiru também expli­cou que o plano de fundo da normativa é colocar o Brasil no mercado internacional, principalmente o Europeu, que recebe subsídio para produzir, ao contrário do Brasil que o produtor paga para produzir. Segundo ele, as instruções anteriores eram orientativas e estas, pu­nitivas, pois prevê parar de recolher leite em caso de não ter armazenamento a granel, além da exclusão de muitos pequenos produtores. Entre os pontos críticos detectados nas normativas para a re­gião, segundo Xiru, estão a contagem bacteriana total ou CBT, a contagem de células somáticas, a temperatura mínima de 4ºC na produção e máximo de 7°C no entre­posto, antibióticos (coleta mensal será de 3 frascos) e o plano de formação dos produtores, visto a maioria ser pequeno agricultor.

Em continuidade, o presidente da Coptil, Emer­son Capelesso ressaltou a importância do debate para os assentados da re­forma agrária e pequenos produtores de leite, assim como o papel do Cideja. “Propomos criar, nos muni­cípios, frentes parlamentares envolvendo os governos e criando um aspecto de mo­bilização regional. São mais de 50 famílias prejudicadas em três municípios. Temos problemas com as estradas e fim de rotas, onde não se consegue fazer a coleta no tempo certo e precisamos avançar nesse aspecto, ainda mais que o consumo de leite baixou no país”, propõe.

Vereadores e integrantes da Coptil participaram da audiência

O vereador Dalvir Zorzi (PT), conduziu a au­diência, que também contou com a presença dos vereado­res Irineu Engalmann (PT), Hugo Trench (PT), Getúlio Porto (PDT) e Marcus Leit­zke (PDT). O microfone foi aberto aos produtores que explanaram e levantaram os problemas enfrentados.

Pedro, do Banhado Grande, falou sobre a falta de estradas e água. “Não te­mos estradas e nem água de qualidade, nem sequer para tomar um chimarrão. Esta­mos perdendo leite. Precisei levar longe na maca um pa­rente para que a ambulância pudesse pegar porque não tinha condições de entrar. São 18 anos de sofrimento, temos produção e não temos como levar até o destino, dois caminhões de produção foram perdidos”, explanou.

O produtor Pedrinho, do Conquista da Fronteira também falou sobre o esco­amento da produção. “Con­cordamos que o leite tem que ter qualidade, mas temos que ter condições de expor­tar. Só esse mês perdi duas entregas de leite e quando o caminhão desce em dia de barro temos que pedir ajuda de vizinhos. Desde que a ad­ministração atual assumiu, mensalmente vamos na sede fazer pagamentos e compras e cobramos do secretário de Obras e do prefeito uma solução para a estrada e até agora nada, porque dia de chuva só a cavalo. Vamos ter que ocupar a Prefeitura?”, expôs o morador.

Residente da Con­quista da Fronteira, Geneci, ou Preta como é conhecida se manifestou dizendo que o leite não era somente uma questão de renda, mas também social. Ela sugeriu a criação deum projeto para auxiliar os produtores no que se refere ao tratamento da água. “Tratar a água é uma demanda urgente, é sobrevivência das pessoas. Não sou produtora de leite mas conheço a realidade, já fiz o Censo e conheço a grande maioria dos produto­res que precisam de suporte para produzir e não precisar ir embora da cidade”, su­geriu.

Zorzi deu continui­dade sugerindo a colocação de propostas para o desen­volvimento da produção da bacia leiteira. Ele lembrou de reuniões já realizadas e encaminhamentos visando a continuidade do progra­ma Caminhos da Produção (que possibilita resolver o problema da porteira para dentro) e que se saia um documento a partir das de­mandas de quem participou da audiência.

O vereador Hugo Trench solicitou o uso da palavra propondo a criação de uma comissão – compos­ta por vereadores, Coptil e produtores – para se reunir com o Executivo e tratar medidas para o acesso as estradas, vendo os pontos mais críticos para que se comece um trabalho.

No uso da palavra, o vereador Irineu relembrou que a questão da água já é debatida há um certo tempo pelas bancadas do PT e PDT. “Estamos com recurso para­do na Funasa, que por falta, que por falta de técnico não assim um documento para a construção da ETA no Banhado Grande. Fizemos propostas, garantimos recur­sos e parte dos poços estão condenados. Proponho uma ação no Ministério Público, pois investimentos foram feitos, tem centenas de me­tros de canos embaixo da terra e as pessoas não tem água. Prefeitura joga para o Estado e o Estado joga para a Prefeitura e alguém depois vai ter que resolver”, explanou.

O vereador candio­tense João Roberto da Silva (PT) que também participou da audiência e foi o propo­nente naquele município, lembrou que as audiências foram provocadas em seu gabinete para que cada ci­dade pudesse avançar de acordo com os seus proble­mas. “Acredito que estamos no caminho certo quando os companheiros conseguem fazer as colocações e de­núncias para que se chegue a um denominador comum. Concordo que se faça um documento para provocar a reflexão, para que o prefeito entenda que os trabalhadores e camponeses tem que ter acompanhamento e supor­te, principalmente na bacia leiteira”, explanou.

Encerrando os de­bates, o presidente da Câ­mara de Vereadores, Getúlio Porto, entre outras palavras, lembrou da importância da parceria regional das Prefei­turas que integram o Cideja. “Juntos, os sete municípios, já conseguimos equipamen­tos, temos que nos unir e levar essa responsabilidade mais além”, concluiu.

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