Assim como já havia ocorrido no município de Candiota, Hulha Negra se mobilizou para tratar as questões relativas as Instruções Normativas 76 e 77 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que tratam das características, qualidade do produto e critérios para obtenção de leite.
O encontro, realizado pela Câmara de Vereadores de Hulha Negra, Emater e Coptil, aconteceu no assentamento Copaul com a presença de vereadores do município e de Candiota, produtores de leite e integrantes de cooperativas. O debate foi fomentado em Candiota durante uma audiência pública que aconteceu também nos assentamentos, além de encontros com prefeitos por meio do Consórcio Cideja, que busca a união de dados relativos a pauta e montou uma cartilha de boas práticas e orientações sobre as duas normativas, que será distribuída aos produtores de leite da região.
Na oportunidade, Alfonso Campos, o Xiru, da Coptil, lembrou que as instruções são de interesse das famílias que produzem leite, independente do destino de entrega ou fornecimento do leite. Ele destacou, porém, que o questionamento das normativas 76 e 77 é quanto à forma como estão sendo apresentadas. “Não estamos fazendo defesa do leite sem qualidade. Jamais vão ouvir uma orientação que não seja adequada, sempre é visando a qualidade, seja na produção de uma vaca embaixo de uma árvore ou um produtor que tem ordenha e enorme estrutura, pois o manejo é o definidor da qualidade do leite”, esclarece o profissional, relembrando que os avanços modificaram os resfriadores, que antes eram coletivos, em tarro e hoje existem os resfriadores.
Xiru também explicou que o plano de fundo da normativa é colocar o Brasil no mercado internacional, principalmente o Europeu, que recebe subsídio para produzir, ao contrário do Brasil que o produtor paga para produzir. Segundo ele, as instruções anteriores eram orientativas e estas, punitivas, pois prevê parar de recolher leite em caso de não ter armazenamento a granel, além da exclusão de muitos pequenos produtores. Entre os pontos críticos detectados nas normativas para a região, segundo Xiru, estão a contagem bacteriana total ou CBT, a contagem de células somáticas, a temperatura mínima de 4ºC na produção e máximo de 7°C no entreposto, antibióticos (coleta mensal será de 3 frascos) e o plano de formação dos produtores, visto a maioria ser pequeno agricultor.
Em continuidade, o presidente da Coptil, Emerson Capelesso ressaltou a importância do debate para os assentados da reforma agrária e pequenos produtores de leite, assim como o papel do Cideja. “Propomos criar, nos municípios, frentes parlamentares envolvendo os governos e criando um aspecto de mobilização regional. São mais de 50 famílias prejudicadas em três municípios. Temos problemas com as estradas e fim de rotas, onde não se consegue fazer a coleta no tempo certo e precisamos avançar nesse aspecto, ainda mais que o consumo de leite baixou no país”, propõe.
O vereador Dalvir Zorzi (PT), conduziu a audiência, que também contou com a presença dos vereadores Irineu Engalmann (PT), Hugo Trench (PT), Getúlio Porto (PDT) e Marcus Leitzke (PDT). O microfone foi aberto aos produtores que explanaram e levantaram os problemas enfrentados.
Pedro, do Banhado Grande, falou sobre a falta de estradas e água. “Não temos estradas e nem água de qualidade, nem sequer para tomar um chimarrão. Estamos perdendo leite. Precisei levar longe na maca um parente para que a ambulância pudesse pegar porque não tinha condições de entrar. São 18 anos de sofrimento, temos produção e não temos como levar até o destino, dois caminhões de produção foram perdidos”, explanou.
O produtor Pedrinho, do Conquista da Fronteira também falou sobre o escoamento da produção. “Concordamos que o leite tem que ter qualidade, mas temos que ter condições de exportar. Só esse mês perdi duas entregas de leite e quando o caminhão desce em dia de barro temos que pedir ajuda de vizinhos. Desde que a administração atual assumiu, mensalmente vamos na sede fazer pagamentos e compras e cobramos do secretário de Obras e do prefeito uma solução para a estrada e até agora nada, porque dia de chuva só a cavalo. Vamos ter que ocupar a Prefeitura?”, expôs o morador.
Residente da Conquista da Fronteira, Geneci, ou Preta como é conhecida se manifestou dizendo que o leite não era somente uma questão de renda, mas também social. Ela sugeriu a criação deum projeto para auxiliar os produtores no que se refere ao tratamento da água. “Tratar a água é uma demanda urgente, é sobrevivência das pessoas. Não sou produtora de leite mas conheço a realidade, já fiz o Censo e conheço a grande maioria dos produtores que precisam de suporte para produzir e não precisar ir embora da cidade”, sugeriu.
Zorzi deu continuidade sugerindo a colocação de propostas para o desenvolvimento da produção da bacia leiteira. Ele lembrou de reuniões já realizadas e encaminhamentos visando a continuidade do programa Caminhos da Produção (que possibilita resolver o problema da porteira para dentro) e que se saia um documento a partir das demandas de quem participou da audiência.
O vereador Hugo Trench solicitou o uso da palavra propondo a criação de uma comissão – composta por vereadores, Coptil e produtores – para se reunir com o Executivo e tratar medidas para o acesso as estradas, vendo os pontos mais críticos para que se comece um trabalho.
No uso da palavra, o vereador Irineu relembrou que a questão da água já é debatida há um certo tempo pelas bancadas do PT e PDT. “Estamos com recurso parado na Funasa, que por falta, que por falta de técnico não assim um documento para a construção da ETA no Banhado Grande. Fizemos propostas, garantimos recursos e parte dos poços estão condenados. Proponho uma ação no Ministério Público, pois investimentos foram feitos, tem centenas de metros de canos embaixo da terra e as pessoas não tem água. Prefeitura joga para o Estado e o Estado joga para a Prefeitura e alguém depois vai ter que resolver”, explanou.
O vereador candiotense João Roberto da Silva (PT) que também participou da audiência e foi o proponente naquele município, lembrou que as audiências foram provocadas em seu gabinete para que cada cidade pudesse avançar de acordo com os seus problemas. “Acredito que estamos no caminho certo quando os companheiros conseguem fazer as colocações e denúncias para que se chegue a um denominador comum. Concordo que se faça um documento para provocar a reflexão, para que o prefeito entenda que os trabalhadores e camponeses tem que ter acompanhamento e suporte, principalmente na bacia leiteira”, explanou.
Encerrando os debates, o presidente da Câmara de Vereadores, Getúlio Porto, entre outras palavras, lembrou da importância da parceria regional das Prefeituras que integram o Cideja. “Juntos, os sete municípios, já conseguimos equipamentos, temos que nos unir e levar essa responsabilidade mais além”, concluiu.