OUTUBRO ROSA

Autoexame e o câncer de mama: um toque capaz de salvar vidas

Nutricionista da Prefeitura de Candiota tem feito de sua experiência pessoal uma oportunidade para alertar outras mulheres

Contou como foi ser diagnosticada com a doença e como tem sido enfrentar todos os desafios que ela impõe Foto: Juliana Furtado Garcia/Eternizza Fotografias/Especial TP

Na última semana, conforme divulgado no Tribuna do Pampa, a Prefeitura de Candiota, através da Secretaria de Saúde, em parceria com a Câmara de Vereadores, realizou um evento para marcar o início da já tradicional campanha do Outubro Rosa. O objetivo da ação – e das demais programadas para o decorrer do mês – é alertar sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama.

Naquele dia, entre os momentos marcantes, um em especial chamou a atenção da reportagem. Miriam Weirich Becker, nutricionista no município desde 2002, contou como foi ser diagnosticada com a doença e como tem sido enfrentar todos os desafios que ela impõe. Além do vídeo produzido especialmente para a equipe candiotense reproduzir durante a abertura, outros dois já foram gravados e serão compartilhados em breve com a comunidade.

DESCOBERTA – Durante o relato, Miriam contou que não pertence ao grupo de risco, as duas avós e a mãe não tiveram câncer de mama, possui hábitos alimentares saudáveis, não é fumante e amamentou os dois filhos – o que é um dos fatores de proteção. “Mesmo assim, no início de abril, eu descobri um caroço no meu seio esquerdo, em casa, através do autoexame, sem nenhum sintoma aparente, sem dor e sem qualquer alteração na minha mama. Marquei consulta com o meu médico e estava muito tranquila porque imaginava que fosse um cisto mamário. Ele também me tranquilizou na consulta, depois no exame suspeitou que fosse algo benigno, porém solicitou os exames de imagem – a mamografia e a ecografia mamária. Para a minha surpresa o resultado foi o pior possível: um carcinoma ductal invasivo de 2,7 centímetros”, disse.

NOVA ROTINA – Desde então, já em meio à pandemia do novo coronavírus, Miriam precisou se acostumar com uma nova rotina nada fácil ou agradável: vários exames, tomografia do corpo todo, cintilografia óssea, exames pré-operatórios, duas cirurgias, as sessões de quimioterapia e ainda tem pela frente radioterapia e hormonioterapia. O sentimento inicial? Medo e culpa. “Medo do desconhecido, medo por fazer minha família sofrer e culpa por acabar com a tranquilidade e harmonia da minha casa e da minha família. Adquiri, nesse período, medo de abrir exames e uma vontade enorme de fugir do tratamento e da realidade, mas aonde quer que eu fosse esse nódulo iria comigo”, relatou em sua rede social há alguns meses.

INFORMAÇÃO – Logo no mês seguinte ao diagnóstico, a nutricionista passou pela primeira cirurgia. Ali começava a verdadeira batalha de Miriam para viver, mas ela foi além de sua luta diária contra a tão temida doença e resolveu olhar com atenção para tantas outras mulheres ao seu redor e fazer o alerta. Com o apoio da família, dos amigos e dos colegas de trabalho, ela criou coragem, renovou sua fé e esperança e decidiu dividir esse capítulo da sua história nas redes sociais.

Em conversa com o jornal, ela lembrou que as pessoas ainda sentem muito medo da palavra “câncer” e a informação pode ser uma grande aliada em todas as etapas desse processo. “Passei alguns dias com dor, outros com muito enjoo, muito vômito e nenhuma vontade de comer, veio de novo o medo e dessa vez em função de uma infeção pós quimioterapia, que se não resolvesse com antibiótico via oral seria necessária internação hospitalar. Felizmente, duas semanas após a primeira aplicação, a infeção cedeu, os enjoos passaram e o apetite voltou, mas aí uma nova emoção: os cabelos começaram a cair. Já me disseram que meu charme não estava nos cabelos, então eu respondi que meu charme está no meu sorriso, e ele pode até ficar comprometido por alguns dias, mas ele sempre volta”, registrou em mais uma das publicações.

LIÇÕES – Conforme relato, passados alguns meses desde o diagnóstico, os medos ainda a acompanham – principalmente em função da imunidade que sempre se mostra muito baixa nos exames, mas a nutricionista entende que isso faz parte do processo de cura. “Não vou reclamar dos efeitos colaterais da quimioterapia, pois passei a vê-la como uma aliada importantíssima no tratamento e não apenas como uma vilã”, afirmou.

Ela também fez questão de registrar seu pré e pós-operatório em um ensaio fotográfico. “De início o objetivo era só guardar uma recordação do meu corpo sem cicatriz, dos meus seios que tanto orgulho me deram por ter amamentado meus filhos e do meu cabelo antes da quimio, mas aí surgiu a ideia de orientar sobre essa doença que é silenciosa e assintomática no início e as fotos ficaram maravilhosas”, contou com orgulho.

Ao ver as fotos já sem nenhum fio de cabelo, ela simplesmente entendeu que naquele momento não era mais a mesma pessoa. “Agora carrego comigo as cicatrizes do câncer de mama, não carrego mais meus cabelos, entretanto trago comigo outros valores que mudaram minha forma de encarar a vida. Com minhas cicatrizes aprendi que elas não me tornaram menos bonita ou menos feliz, e sim que fazem parte da minha história e são marcas de uma luta diária que enfrento e ainda terei que enfrentar até a conquista da cura”, disse.

Conforme contou, embora consiga relatar sua experiência de forma tranquila e didática para ser compreendida e continuar alertando sobre a importância do autoexame e do diagnóstico precoce, se tivesse a oportunidade de escolher jamais escolheria ter tido essa doença. “Mas não me envergonho. Minhas cicatrizes me mostram, todo o dia, uma força que eu nem imaginava possuir. Quanto aos cabelos realmente achei que perdê-los afetaria bem mais minha autoestima e eu tinha muito receio da minha reação quando eles começassem a cair, mas aprendi que beleza e autoestima vão muito além do que enxergamos no espelho”, destacou.

Ela disse ainda não ter coragem de sair nas ruas careca – e não é por vergonha. Segundo a nutricionista, usar lenço ou turbante já atrai olhares de piedade porque a ideia do câncer estar associado à morte ainda é muito forte entre as pessoas. “Ser diagnosticada e ter que conviver com uma doença tão intensa, que tem um tratamento com efeitos pesadíssimos é uma luta contínua, que eu tenho plena convicção que jamais conseguiria vencê-la sozinha. Todo apoio que recebo me faz ter a certeza de que o câncer de mama é apenas um capítulo difícil da minha história e que os próximos também serão de superação, até chegar o dia que tudo se torne só uma lembrança”, afirma.

Sobre a cura do câncer de mama, Miriam continua fazendo questão de seguir alertando sobre a importância do diagnóstico precoce, do autoexame e dos exames de rotina. Conforme registrou, ela acredita na ciência, no avanço da medicina, nas boas energias, na fé independente qual for e, é claro, no amor.

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