FERIADO MUNICIPAL

Degola do Rio Negro é trabalhada em círculo cultural na escola Auta Gomes de Hulha Negra

Considerado um dos maiores massacres, data virou feriado municipal

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Alunos participaram da atividade caracterizados Foto: Divulgação TP

A quarta-feira (28) foi voltada ao resgate de momentos históricos importantes para o município de Hulha Negra, a Revolução Federalista e a Degola do Rio Negro, uma importante guerra civil acontecida na região em 1893 que, entre os fatos marcantes, teve a Degola na Lagoa da Música e deixou conhecida a figura de Adão Latorre, um maragato que lutou durante a Revolução Federalista.

Na escola municipal Auta Gomes, a professora Adriana Pereira trabalhou a data, que se tornou feriado municipal ao fim dos sete dias de enfrentamento, nesta quinta-feira (29). Nos trabalhos realizados com os alunos, estavam a apresentação de um vídeo e uma música sobre Adão Latorre, cantada por Wilson Paim, bem como a história da degola e lendas da Lagoa da Música.

Segundo explicou a professora, a história e fatos foram trabalhados por meio do Círculo de Cultura Paulo Freire, que visa promover o processo de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita e se realiza no interior do debate sobre questões centrais do cotidiano, como trabalho, cidadania, alimentação, saúde, organização das pessoas, liberdade, felicidade, valores éticos, política, oprimido, economia, direitos sociais, religiosidade, cultura. “O círculo representou a Lagoa da Música, um painel feito em TNT com notas musicais, alunos fardados com vestimenta dos Maragatos, que chegaram dispostos em fileira e sentaram envolta do círculo que representou a lagoa. Envelopes numerados contaram toda a história da Revolução Federalista, da Degola e Lagoa da Música. Adão Latorre entrou contando sua história e por fim, o último soldado morto, com o clarin e ao morrer cai para dentro da Lagoa da Música junto com seu instrumento. Foi um excelente trabalho, os alunos problematizaram a história, refletiram e debateram o momento histórico. A história foi contada a partir de objetos dispostos no círculo, como fotos, carvão, lenços, adaga e clarin”, conta Adriana.

Revolução Federalista aconteceu de 1893 a 1895 Foto: Divulgação TP

REVOLUÇÃO – A Revolução Federalista foi uma guerra civil que ocorreu no sul do Brasil logo após a Proclamação da República. Instada pela crise política gerada pelos federalistas, grupo opositor que pretendia libertar o Rio Grande do Sul da governança de Júlio de Castilhos, então presidente do Estado, e também conquistar uma maior autonomia e descentralizar o poder da então recém proclamada República. Empenharam-se em disputas sangrentas que acabaram por desencadear a luta armada, que durou de fevereiro de 1893 a agosto de 1895 e foi vencida pelos seguidores de Júlio de Castilhos. O conflito atingiu os três estados da região: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

MASSACRE – Sob o comando de Zeca Tavares, combatentes federalistas (Maragatos) e republicanos (Pica-paus), comandados pelo general Isidoro Fernandes se enfrentaram durante sete dias às margens do Rio Negro. Relatos contam que trezentos soldados republicanos foram rendidos mediante garantia de vida e contidos em um cercado (mangueira de pedra) para gado, que ficou conhecido como “Potreiro das almas” e friamente degolados à beira da Lagoa da Música, embora os historiadores reduzam esse número a trinta.

Comenta-se que a degola do Rio Negro foi muito mais uma desforra do comandante e fazendeiro Zeca Tavares, contra Maneco Pedroso, outro proprietário rural que antes havia invadido sua propriedade e lhe deixado um recado insultuoso. Foi deixada sobre sua cadeira uma cabeça de porco e um bilhete: “Tua cabeça será minha”.

Diz à tradição que entre os degolados encontrava-se um rapaz que era tocador de clarim da sua tropa. Mesmo, depois de receber o corte no pescoço, ferido de morte ele ainda encontrou forças para correr até a lagoa levando seu instrumento musical, desaparecendo nas águas escuras que o engoliram como num passe de mágica.

A lenda assevera que até hoje o soldado morto gosta de tocar o seu clarim nas noites de lua cheia, o que acabou dando à lagoa a fama de um lugar mágico, de onde saem notas musicais que ninguém consegue explicar, e o nome da mesma: Lagoa da Música.

Mas a melodia continua, amedrontando quem passa desavisado pela Lagoa da Música. Desde esse dia o lugar ficou amaldiçoado. O povo do lugar evita passar por ali à noite, quando os espíritos dos degolados vagam, dizem que de faca na mão, procurando vingança. Mesmo quem não passe por perto é capaz de se assustar: ouvem-se gritos, berros de gente morrendo. Muitos juram que pode se ouvir o som das gargantas sendo cortadas.

Adão Latorre e maragatos durante degola na Lagoa da Música Foto: Divulgação TP

ADÃO LATORRE – O tenente-coronel Adão Latorre foi um militar brasileiro, revolucionário maragato que lutou na Revolução Federalista.
Nasceu no ano de 1835, no departamento de Rivera, no lugarejo de Cerro Chato. Aos 16 anos já era cabo e dois anos depois foi promovido a sargento. Em 23 de abril de 1862, passou a subtenente, a capitão em 25 de maio de 1875 e a sargento-major em 20 de novembro de 1881. Tendo já um casal de filhos, transfere-se para a localidade de Olhos d´Água, em Bagé, para trabalhar nos campos dos Tavares, possivelmente na década de 1880. Com ele vem alguns correntinos, peões que depois se tornaram um piquete de lutadores, juntando-se aos maragatos na Revolução Federalista.

A fama de Adão Latorre começa, quando sob o comando de Zeca Tavares, combatentes federalistas (Maragatos) e republicanos (Pica-paus), comandados pelo general Isidoro Fernandes se enfrentaram ferozmente durante sete dias, às margens do Rio Negro, que resultou na degola dos republicanos.

Adão Latorre era uruguaio e morreu aos 88 anos fuzilado no dia 15 de maio durante a revolução de 1923, no combate do Santa Maria Chico (Passo da Ferraria) município de Dom Pedrito, após sofrer emboscada dos capangas do Major Antero Pedroso, irmão do Coronel Manoel Pedroso.

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