CLIMA

Estiagem não dá trégua e situação da região se agrava

Em Pinheiro Machado foi decretada emergência e as perdas na soja, milho e bovinocultura atingiram 40%, com prejuízos já acima dos 15,5 milhões

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Barragem da sede de Candiota já está abaixo do nível normal Foto: J. André TP

A estiagem avança sobre a região e ao menos para os próximos dias não perspectivas de chuvas. Os estragos da seca já são evidentes e os prejuízos irreversíveis. A população rural dos municípios de abrangência impressa do TP (Candiota, Hulha Negra, Pinheiro Machado e Pedras Altas) já sentem a falta de água tanto para animais como para o abastecimento humano.

DECRETO EM PINHEIRO – O prefeito de Pinheiro Machado, Zé Antônio (PDT), decretou nesta terça-feira (11), situação de emergência em relação a estiagem, que já atinge o município de forma severa.

A falta de chuvas já está gerando uma série de transtornos no município, especialmente na zona rural. De acordo com o Decreto 752/2020, a estiagem verificada no município em decorrência da baixa precipitação pluviométrica nos meses de dezembro de 2019 e agravada em janeiro e fevereiro deste 2020, atingiu níveis bem importantes.

Para tomar a medida, o prefeito também levou em conta um laudo técnico emitido pela Emater/RS, bem como o levantamento efetuado pela Secretaria Municipal de Agropecuária e Meio Ambiente e da Secretaria de Obras, Viação, Transporte e Transito do município, que confirmaram perdas expressivas nas culturas do milho, feijão e soja, além de prejuízos na pecuária, tanto na criação de gado leiteiro quanto no corte, e dificuldade no abastecimento humano de água potável. “Concorre como agravante da situação de anormalidade a tendência que a estiagem perdure, acentuando os prejuízos na agricultura, na redução dos reservatórios de água e risco de queimadas”, assinala também o decreto, que é amparado ainda no Parecer da Coordenadoria Municipal e do Conselho Municipal de Defesa Civil, relatando a ocorrência deste desastre e sendo favorável a declaração de situação de emergência. “Resolvemos decretar em virtude que as razões já são bem sérias, como se pode ver dos números. Além disso, o decreto nos permite buscar ajuda nas esferas superiores, além dos produtores terem argumento para poderem renegociar suas dívidas junto aos bancos e credores”, pondera o prefeito Zé Antônio.

Na bovinocultura, o prejuízo já é de mais de R$ 6,6 milhões Foto: Emater Pinheiro Machado/Especial TP

PERDAS EM PINHEIRO – Segundo relatório do escritório local da Emater, os prejuízos estimados ultrapassam já os 15,5 milhões. O laudo foi concluído no dia 5 de fevereiro com dados colhidos entre novembro de 2019 e fevereiro de 2020. Ele foi assinado pelo chefe do escritório local, Rafael Gonçalves Lopes.

No milho, as perdas já são irreversíveis, visto que os estágios de desenvolvimento vegetativo e floração foram extremamente afetados pela falta de umidade no solo. Estima-se perdas, em torno de 40% da área total cultivada no município até o momento. O prejuízo é estimado em 1,3 milhão.
A soja foi afetada pela estiagem durante todo o ciclo produtivo. As perdas mais relevantes são nas áreas em que as culturas encontram-se em floração e enchimento de grão, fases que definem a produtividade desta cultura. Estima-se perdas, em torno de 40% da área total cultivada no município. O prejuízo é estimado em 7,6 milhões.

Além de soja e milho, outras culturas foram afetadas pela seca, segundo o laudo da Emater, tais como feijão, melancia, abóbora e hortaliças em geral, sendo as perdas consideráveis.

Na bovinocultura de corte, conforme a Emater, o prolongamento da estiagem fez com que os produtores não conseguissem semear as pastagens de verão, as pastagens implantadas tiveram perdas muito significativas. Além disso as pastagens nativas secaram demasiadamente, grande parte das propriedades não tem mais alimento para fornecer aos animais. Estimam-se perdas na ordem de 10% para essa cadeia produtiva. O prejuízo é estimado em 6,6 milhões.

Culturas como a abóbora (foto) e feijão, já tem perdas de mais de 70% Foto: Emater Pinheiro Machado/Especial TP

CANDIOTA – A situação no município vem se agravando, especialmente no interior. Cerca de 100 famílias já estão sendo abastecidas com caminhão-pipa pela Secretaria Municipal de Agropecuária e Agricultura Familiar. Na sede do município a situação já é de alerta e a Prefeitura já pediu em comunicado que as pessoas usam de forma racional a água, pois a barragem que abastece a localidade e também alguns assentamentos já está abaixo no nível normal.

HULHA NEGRA – A escassez de água é um dos principais problemas de Hulha Negra. O município é abastecido exclusivamente por meio de poços artesianos, que captam cerca de 30 mil litros de água por hora. Segundo a Prefeitura, dois caminhões-pipa com reservatório para capacidade de 8 mil litros cada, e um trator pipa com capacidade de armazenar 4 mil litros, coletam e distribuem água no interior e na sede do município todos os dias. No interior é distribuído diariamente, em média, de 15 e 20 mil litros de água. A distribuição de água no interior contempla 280 famílias.
Na sede, a Prefeitura adotou desde o início do ano um sistema de racionamento parcial de água, das 13h às 17h, apesar de algumas residências permanecerem um tempo superior sem abastecimento. A possibilidade de decretar situação de emergência é bem presente.

PEDRAS ALTAS – Na Cidade do Castelo a falta de chuvas deixou a atual administração em alerta. Desde o início de janeiro, água potável através de um caminhão caçamba e um viniliq pipa (tanque flexível para transporte de água) da Defesa Civil, está sendo levada para atender as comunidades do Arroio Mau, Cerro do Baú, Passo da Areia e assentamento Nossa Senhora da Glória, local mais crítico que estava sem água para beber.
Nesta semana, a Prefeitura já deu início ao processo de elaboração do decreto de emergência, sendo que, segundo a Emater local, já há perdas de 20% no leite e pecuária de corte, 10% na soja, 15% no milho, 25% no feijão e cerca de 40% no auto-consumo.

BRASÍLIA – Ciente dos problemas decorrentes da estiagem que assola o Rio Grande do Sul desde o fim do ano passado, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, recebeu, na tarde desta quarta-feira (12), em Brasília, uma comitiva de autoridades gaúchas que solicitou medidas para minimizar os efeitos da seca para os produtores. Ao lado do governador Eduardo Leite e do secretário estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural, Covatti Filho, o presidente da Assembleia Legislativa, Ernani Polo (PP), e o presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo, deputado Adolfo Brito (PP), encaminharam demandas recebidas de produtores nos últimos dias. No total, 17 parlamentares e um senador integraram a comitiva.

Conforme um integrante da comitiva, a ministra se mostrou sensível aos pedidos e sinalizou pela prorrogação dos contratos de financiamentos bancários de custeio e investimento dos produtores. Comprometeu-se com recursos urgentes para os pequenos produtores que tiveram mais perdas.

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