14 de julho: temos algo a refletir?

14 de julho, eis aí uma data de extrema relevância para a história do Ocidente. Há duzentos e trinta e seis anos uma multidão parisiense tomava a Bastilha, prisão local que representava um símbolo do decadente absolutismo. A tomada – que foi simbólica, afinal, os historiadores mesmo convergem ao dizerem que havia apenas um punhado de presos segregados lá – marcou o início daquele que talvez tenha sido o acontecimento político mais importante da história moderna: a Revolução Francesa.

Ao contrário do que se possa pensar, entretanto, a Revolução Francesa não foi um acontecimento linear, sendo que o que ocorreu em aproximados dez anos denotou um panorama de várias idas e vidas, de embates ferozes e de muito sangue derramado, seja no plano da política interna, seja no plano externo.

E eu explico rapidamente: Estados Gerais convertidos em Assembleia Constituinte, em 1789; no mesmo ano a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão; e, em 1791, a Constituição que aboliu o absolutismo, instituindo uma monarquia limitada. Não parou por aí, entretanto. Em 1792 o Rei e a Rainha seriam presos quando estavam a empreender fuga de Paris, sendo que ambos seriam acusados de conspirarem com potências estrangeiras. O acontecimento marca a queda da monarquia. Surgiria a República, com a ascensão da Montanha (grupo político que ocupava um lugar mais alto no plenário da Assembleia). Despontam, então, no centro do poder, figuras destacadas na história, como Danton e Robespierre. Em 1793 Robespierre assume o poder. O Rei é julgado é condenado, de igual forma. Vai à guilhotina. Logo após, Maria Antonieta encontraria o mesmo destino. E, no meio de tudo isso, um período conhecido como Terror e Grande Terror domina a política francesa. A guilhotina nunca havia funcionado tanto. Robespierre, em 1794, seria a última vítima da mesma guilhotina, no que ficou conhecido como Golpe de 9 de Termidor. Em 1795 foi instaurado o Diretório, governo colegiado encarregado de tocar uma França que já mostrava sinais de cansaço por conta de uma Revolução que não se encerrava. A própria linhagem monárquica tentava retomar o poder perdido por Luis XVI. O Diretório seria, entretanto, a fase final da Revolução, ainda que haja certa discordância entre os historiadores. Em 1799 surgiria no centro dos holofotes uma figura que já ganhava contínuo destaque: Napoleão Bonaparte. Napoleão, então, foi o encarregado por pacificar a Nação Francesa. Em 1803 ele próprio se autoproclamaria Imperador. E o resto foi história.

Que lições poderíamos extrair daí? Por mais que as Revoluções materializem, efetivamente, o desejo de mudança, de ruptura, é chegada a hora do término e da pacificação. Do contrário, os frutos jamais poderão ser colhidos. De mais a mais, eis a segunda, não é à base da truculência, de medidas arbitrárias, da guilhotina, real ou metafórica, que um movimento conseguirá fazer concretar no seio social os seus princípios. Os justiceiros de hoje sempre serão as vítimas de amanhã. Não há como fugir. A guilhotina que apanha o inimigo. Irá apanhar o algoz amanhã também. Pescoço lá. Pescoço cá.

JÁ FOI CONTEÚDO NO IMPRESSO

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