
Na cidade de Ordos, missão visitou uma planta que captura 1,2 milhão de toneladas de CO2 por ano da queima de carvão, gerando 2,3 milhões de toneladas de fertilizantes Foto: Seapi/Divulgação
Desde o dia 8 até esta sexta-feira (15), uma comitiva brasileira-gaúcha está na China em busca de novos conhecimentos e principais tecnologias referentes a produção de fertilizantes nitrogenados a partir das usinas termelétricas a carvão mineral. A missão técnica é integrada pelo do prefeito de Candiota, Luiz Carlos Folador; pelo deputado estadual Paparico Bachi (PL); pelo presidente da Associação Brasileira do Carbono Sustentável (ABCS), Fernando Zancan; além de representantes do governo federal e estadual e de empresas públicas e privadas, como a Âmbar Energia (dona da Usina de Candiota).
A missão visitou, por exemplo, um projeto de captura de dióxido de carbono (CO₂), na cidade de Ordos. O plano demonstrativo da planta captura 1,2 milhão de toneladas de CO₂ por ano da queima de carvão, gerando 2,3 milhões de toneladas de fertilizantes. Segundo explicado, essa tecnologia permite reter entre 85% e 90% do gás carbônico. As plantas que foram visitadas, na grande maioria, são da empresa chinesa JNG, que é uma gigante mundial no domínio e pesquisa desta tecnologia. A empresa foi quem organizou a imersão.
Para o presidente da ABCS, Fernando Zancan, que é engenheiro de Minas, a tecnologia é animadora para o futuro do carvão mineral – tese que ele vem defendendo sobre não cessar o uso, mas sim encontrar formas ambientalmente corretas. “É totalmente possível implantar isso no Rio Grande do Sul, só precisamos deixar em operação por mais tempo, mas é uma tecnologia promissora”, assinala.
Durante a missão, a comitiva visitou plantas com técnicas inovadoras que utilizam amônia para realizar dessulfurização e captura de CO₂, processo que resulta na produção de fertilizantes como sulfato de amônio e bicarbonato de amônio. “A produção de fertilizantes é uma questão de soberania nacional. Nossa viagem à China tem como objetivo construirmos caminhos para reduzir a dependência de insumos externos e potencializar a fabricação de produtos no Brasil, principalmente em solo gaúcho onde temos uma grande riqueza mineral”, disse o deputado Paparico Bacchi, também presidente da Frente Parlamentar da Mineração e do Polo Carboquímico da Região da Campanha e que apresentou na Assembleia Legislativa gaúcha um Plano Estadual de Fertilizantes.
Atualmente, o Brasil é responsável por cerca de 8% do consumo global de fertilizantes, atrás apenas da China, Índia e dos Estados Unidos. Mais de 80% dos insumos agrícolas são importados, tendo Rússia, China e Canadá como principais fornecedores. As culturas de soja, milho e cana-de-açúcar respondem por mais de 73% da demanda. A missão na China segue até o dia 16 de agosto.
Em entrevista ao Jornal do Comércio, que esteve acompanhando a missão por convite da JNG, o superintendente adjunto de Petróleo e Gás da Empresa de Pesquisas Energética (EPE),Marcelo Ferreira Alfradique (que também intregra a missão), disse que o Brasil tem buscado e observado soluções que combinem tanto benefícios para a transição energética como para a sociedade em geral. “A questão da produção de fertilizantes, utilizando um processo de descabornização, combina muito bem esses dois fatores”, disse.
Outro integrante da comitiva entrevistado pelo Jornal do Comércio foi o coordenador-geral de Desenvolvimento Tecnológico e Transformação do Ministério de Minas e Energia, Miguel Leite. Ele considera também a tecnologia, mas se preocupa com a escala. “Eu entendo que é uma necessidade premente descarbonizar a geração de energia termelétrica a partir do carvão”, destaca, apontando que é preciso um grande volume de CO2 para viabilizar o custo de implantação de um complexo semelhante ao visitado na China. O técnico do MME ainda ressalvou ao Jornal do Comércio, que mesmo com esta preocupação de volume, vê como possível descarbonizar e reduzir os efeitos da poluição por meio de um projeto deste tipo no Brasil.
Prefeito Folador acredita em virada de chave
O prefeito Folador, em contato com o jornal diretamente da China nesta quinta-feira (14), fez uma avaliação bem positiva da viagem.
Ele acredita que a tecnologia da empresa JNG pode muito bem ser replicada especialmente na Usina de Candiota (Âmbar Energia). “Acredito que a captura do CO2 para produzir fertilizantes pode ser adaptada para nossa realidade de Candiota e com isso podermos atender os protocolos internacionais das emissões. Este foi um momento de se conhecer de perto esta tecnologia e ver as possibilidades para o nosso carvão”, disse.
Folador ainda avalia que esta tecnologia agora conhecida por esta missão, pode ser uma virada de chave para Candiota e o carvão mineral. Ele planeja em breve organizar uma visita ao município com todos os atores e representantes do governo federal e estadual para que se possa construir esse projeto dessa indústria de fertilizantes. “Vamos conversar com o governador Eduardo Leite e o secretário de Desenvolvimento Econômico, Ernani Polo, para que o projeto tenha também os incentivos do Fundo Operação Empresa do Estado do Rio Grande do Sul (Fundopem-RS). Tem tudo para dar certo”, acredita o prefeito candiotense.

Folador foi recepcionado na China por diretores da empresa JNG
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