A cabeça de Gumercindo Saraiva

*Por Guilherme Barcelos 

A Revolução Federalista, de 1893, é a temática da coluna desta sexta-feira. A referida Revolução, também chamada de “Guerra da Degola”, foi a guerra civil mais sangrenta da história republicana brasileira. De um lado, os maragatos, seguidores de Gaspar Silveira Martins. De outro, os chimangos, seguidores de Júlio de Castilhos. No entremeio do conflito, questões relevantes para o Brasil, como monarquia ou República, presidencialismo ou parlamentarismo.

Pelo lado dos maragatos é certo que o Silveira Martins foi o grande líder político e intelectual da empreitada. Gaspar, diga-se, teve muito a ver com a queda do regime de Pedro II e a ascensão dos militares, que vieram derrubar a monarquia brasileira. Deodoro da Fonseca e ele eram inimigos figadais. Quando Silveira Martins estava na iminência de assumir o governo brasileiro, na condição de líder do gabinete perante o Parlamento, o golpe se consumou. Estou resumindo muito o enredo aqui. Mas, é certo, isso esteve posto. É um fato. Daí em diante foi o caos. Deodoro, Floriano, Revolta da Armada, as duas, Revolução Federalista e por aí vai.

Se a liderança política e intelectual da Revolução Federalista recaiu sobre Gaspar, não menos certo é que, no âmago da sangrenta guerra civil erguida a partir dos campos verdejantes do Sul do Mundo, a liderança militar do conflito recaiu sobre uma figura relevante, porém um pouco esquecida nos dias de hoje, qual seja o caudilho Gumercindo Saraiva. Falo acerca de Gumercindo, portanto, bem como de uma obra de relevo, intitulada “A cabeça de Gumercindo Saraiva”, de autoria de Tabajara Ruas e Elmar Bones.

Em 1893, Gumercindo Saraiva, um desconhecido caudilho da fronteira, coloca em risco a jovem República brasileira ao invadir o Rio Grande do Sul à frente de 400 cavaleiros. Rapidamente ele se torna o principal chefe militar da referida Revolução Federalista, a mais sangrenta guerra civil da história do Brasil, como dito acima, de igual modo. Foram dois anos de conflito que deixaram um saldo de dez mil mortes e uma série de atrocidades, como a degola de prisioneiros nos campos de batalha – daí a “Guerra da Degola”.

É aí, então, que Ruas e Bones, na obra precitada, fascinados pelo passado de seu Estado, vasculharam arquivos, viajaram pelo interior e entrevistaram parentes e conhecidos do caudilho ou de seus contemporâneos. O resultado, dessa maneira, foi um livro no qual a pesquisa e a informação históricas ganharam o ritmo de um romance.

Por fim, qual seria a razão da referência à cabeça de Gumercindo? A pergunta me foi feita in loco quando eu estava escrevendo a coluna, aliás. E a resposta foi: a referência nada mais é acerca de um fato que só demonstra o caráter dantesco daquela guerra. Nas fronteiras entre SC e RS, Gumercindo foi morto com um tiro vindo de longe. Seus companheiros o enterraram, para depois buscaram o corpo e o levarem ao Sul do RS. Os adversários descobriram a cova rasa. Desenterraram o corpo, cortaram-lhe a cabeça e a remeteram a Porto Alegre, ao Palácio Piratini, sede do Governo do RS. O resto…. é história.

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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