A conta é dos países ricos

Ainda não há afirmação definitiva e conclusiva de que o aquecimento global tenha influência direta no maior desastre climático da história do Rio Grande do Sul e talvez do Brasil. Em entrevista a BBC Brasil, o engenheiro ambiental e hidrólogo, Pedro Frediani Jardim, pondera que ainda é muito cedo para fazer uma ligação direta e afirmar categoricamente que as atuais inundações no Rio Grande do Sul estão relacionadas ao aquecimento global provocado pela ação humana. “Com a extensão de dados que nós temos hoje, não é possível cravar com 100% de certeza que as cheias foram causadas pelas mudanças climáticas. Nós podemos estar diante de um período anômalo, que daqui a pouco volta ao normal. No entanto, estamos vivenciando eventos climáticos com mais frequência, como as cheias de setembro e novembro de 2023, além da atual. E esses fenômenos estão muito ligados àquilo que as projeções indicavam sobre os efeitos das mudanças climáticas no Estado”, avalia o especialista.
Além disso, temos a questão da construção ao longo dos anos, de cidades no caminho de rios e lagos, bem como, o grande adensamento humano nesses locais que eram passagens naturais das águas. Por fim, se teve falhas nos mecanismos de proteção, especialmente da capital Porto Alegre.
Contudo, o que temos que ter claro e isso parece ficar ao largo, até mesmo para os ambientalistas locais, é que os países ricos e industrializados, passaram nos últimos mais de 100 anos lançando CO2 indiscriminadamente na atmosfera, construindo seus impérios de desenvolvimento. A conta disso começou a chegar com o aumento inegável da temperatura da Terra e consequentemente uma frequência maior de eventos climáticos extremos como os que vemos em solo gaúcho.
Nossa visão sobre a situação deve ser diferenciada. Precisamos de um olhar próprio e não importado, europeizado. Não podemos achar que somos os culpados irremediáveis sobre essa tragédia. Nos acusar mutuamente e até mesmo retirar de pauta do Senado um projeto de lei que tratava da Transição Energética Justa (TEJ) para o RS, não ajuda no debate que é necessário ser feito.
Achar que o carvão mineral brasileiro e essencialmente gaúcho tem alguma relação com tudo isso é nos afundar ainda mais. É retirar milhares de empregos e oportunidades de uma região que não foi atingida pela catástrofe de forma direta, mas será, caso práticas e leituras políticas enviesadas sejam feitas e tomadas.
Desde o Acordo de Paris, os países ricos – esses os verdadeiros e praticamente únicos culpados pela atual crise climática, não cumpriram suas metas e tampouco envidaram esforços financeiros de grande vulto para acudir os países e os povos mais pobres, que como sempre, são os mais atingidos nessas ocasiões.
O Brasil, com seus governos municipais, estadual e federal, além da sociedade civil e empresarial, estão fazendo esforços inimagináveis, na tentativa de acudir os atingidos e de reconstrução do RS. Mas e os países ricos, como dito, verdadeiros culpados, o que vão fazer para nos indenizar pelo que fizeram no último século, e que garantiu a eles estabilidade, conforto e resiliência, inclusive para eventos climáticos extremos? Esta é a cobrança que devemos fazer.

“Achar que o carvão mineral brasileiro e essencialmente gaúcho tem alguma
relação com tudo isso
é nos afundar ainda mais. É retirar milhares de empregos e
oportunidades de uma região que
não foi atingida pela catástrofe de forma direta, mas será, caso práticas e leituras políticas enviesadas sejam feitas e tomadas.”

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