
Djair e o filho Junior são apaixonados por bicicletas. Eles tiraram as máscaras somente no momento do registro fotográfico Foto: Silvana Antunes TP
O jornalismo, além de pontuar o que acontece diariamente, também serve para contar histórias. Assim como tem feito ultimamente, nesta semana o Tribuna do Pampa conta mais uma história, de um pai e um filho que, por praticamente a vida toda, trabalharam com conserto de bicicletas. Os personagens desta história são o pai Djair Escobar, 73 anos, e o filho Djair Vaz Escobar (Junior), 33 anos, ambos naturais de Pinheiro Machado.
Atualmente, Djair Vaz Escobar é proprietário da Palácio das Bicicletas e da oficina Renovacar, mas esta história de paixão pelo ramo das bicicletas começou em 1960 com o pai dele, que na época tinha 14 anos. Segundo seu Djair – filho de pecuarista – quando adolescente surgiu o interesse pelas bicicletas e os primeiros serviços para vizinhos e amigos do interior de Pinheiro Machado. “Depois de servir o Exército, fui morar na cidade, onde montei minha primeira oficina de bicicletas em casa. Ainda morando com meu pai, comecei a ganhar clientes e nunca mais parei. Alguns anos mais tarde comecei a trabalhar também com pintura de automóveis, profissão que exerço até os dias de hoje”, contou seu Djair.
CHEGADA EM CANDIOTA – Anos mais tarde, a falta de oportunidades mudou os rumos da família. Djair Vaz, filho de seu Djair – que já havia casado e também já era pai – resolveu trabalhar na construção da fase C da CGTEE – hoje CGTEletrosul – como mecânico. Ao Tribuna ele contou porém, que assim como o pai, jamais deixou o sonho de trabalhar com as bicicletas de lado. “No dia que entrei disse que tinha ido trabalhar para juntar dinheiro para investir na minha verdadeira profissão e vocação, que é trabalhar com meu pai, na minha casa, consertando carros e futuramente tendo uma loja de bicicletas. Graças a Deus valeu a pena trabalhar por dez meses nesta usina e ganhar uma boa rescisão. Convidei meu pai para morar em Candiota para melhorar de vida e enfim conseguir realizar os nossos sonhos juntos. Ele aceitou e alugamos o primeiro local para trabalhar com as bicicletas, por coincidência em uma casa ao lado do antigo jornal A 1° Folha, hoje o nosso querido e prestigiado Tribuna do Pampa”, relatou.
A BICICLETARIA – Junior contou ao TP que o negócio é tocado somente por ele e o pai e que as bicicletas representam tudo para eles. Segundo o empresário, é graças ao trabalho com as bicicletas que o negócio foi expandido para a oficina de veículos e a loja de bicicletas. “Conseguimos uma oficina completa e com mais equipamentos, além de uma linha completa também de peças e acessórios para bicicletas nacionais e importadas e um grande estoque de bicicletas seminovas para venda”, conta.
Para o futuro, ele fala em ampliações e novo prédio. “Ano que vem, vamos aumentar o setor de serviços com novo prédio e também com fabricação própria de bicicletas sob encomenda. Teremos também vestimentas e equipamentos de proteção para o ciclista. Será um local completo”, acrescenta.

Pai e filho trabalham juntos na bicicletaria Foto: Silvana Antunes TP
MOMENTOS MARCANTES – Djair Escobar contou ao jornal que o que mais marcou sua trajetória como mecânico de bicicletas foi a visita de um ciclista italiano a Pinheiro Machado. “Ele foi realizar uma prova, até então desconhecida para a população pinheirense. Ele comprou uma bicicleta em uma loja da cidade e procurou uma oficina para fazer ajustes para uma grande prova de resistência. Fiz o serviço e fiquei amigo do italiano, tanto que ele me convidou para participar do desafio junto com ele na praça central da cidade. O desafio era ficar por 24 horas andando de bicicleta sem tocar o pé no chão e sem ir ao banheiro, somente transpirando e se hidratando. Consegui acompanhá-lo por cerca de oito longas e cansativas horas, mas valeu a pena essa aventura”, contou.
Já o filho Junior, entre os momentos marcantes citou o período em que aprendeu a andar de bicicleta, aos 3 anos, sem o uso de rodinhas. “Anos depois participei de provas de bicicross, pedalei em direção a Pelotas com o meu pai desde pequeno como forma de distração e de treinamento”, relata.
Ele também falou de um momento ruim de sua vida. “Aos 16, 17 anos de idade, tive que parar por mais ou menos um ano de pedalar por motivos de saúde – causado por força excessiva. Foi muito difícil para mim, pois não passo um dia se quer sem pedalar, inclusive quando chove, lá estamos eu e meu pai juntos também na bicicleta ergométrica”, contou.
GRANDES LEMBRANÇAS – Ao ser solicitado a citar momentos especiais, Junior faz referência a uma bicicleta que ganhou do pai em 1994 e usa até hoje. “Uso para fazer pedaladas. Fomos de Pinheiro Machado a Rio Grande, fazendo quase 200 km, foi demais! Esta bicicleta que tenho há 26 anos é um exemplo de cuidado e prestígio por aquilo que se gosta muito. Hoje, graças a Deus, com minha saúde plena posso aproveitar tudo que conquistei e que ainda pretendo conquistar nesta cidade que já considero minha também”, contou.
Ele fez uma observação quanto a Candiota e o trabalho com as bicicletas. “Quando se trabalha fazendo o que gosta de verdade é muito gratificante, por isso hoje posso dizer, sem medo de errar, que eu sou um cidadão candiotense com muito orgulho. Aproveito para agradecer pela recepção que tivemos quando viemos morar em Candiota. Meu sentimento é de gratidão a este povo”, manifestou.
PANDEMIA – O jornal também conversou sobre a empresa durante o período da pandemia ocasionada pelo novo coronavírus. Ao TP, Junior disse que também foi necessário se adaptar a nova realidade, porém não pode se queixar do serviço. “Desde o início da pandemia trabalhamos com as grades fechadas, se aproximando somente para recebimento de bicicletas e veículos e retirada por parte do cliente. Mas, ao contrário de outros locais, contabilizei um acréscimo de cerca de 50% nos serviços”, conta.
Questionado sobre o que possa ter gerado esse aumento de serviço, ele faz referência a preferência pelo uso da bicicleta. “Além de fazer bem para a saúde, a bicicleta tem sido um entretenimento para as crianças, que agora passam mais tempo em suas casas. Houve uma grande procura para conserto de bicicletas”, frisou.