* Cristian Canto
A sala de cinema está cheia, mas os olhares são desconfiados. Uns se ajeitam na cadeira, outros cruzam os braços como se assistissem a um tribunal, não a um filme. O problema não está no roteiro, na atuação ou na fotografia impecável. O problema está na narrativa fora da tela: dizem que o filme tem dono, uma bandeira política, um lado na briga infinita que se tornou o país. O que realmente deixa toda a conversa chata e sem sentido, ou seja, se eu torço para um lado, tenho que odiar o outro!
“É um filme de esquerda”, cochicha alguém na fileira da frente. “É doutrinação”, reclama outro, revirando os olhos. E assim, antes mesmo da primeira cena se desenrolar, o filme já foi julgado e condenado. Não por sua qualidade ou por sua importância histórica, mas pela suposta intenção que lhe atribuem.
A ironia é que a história que ele conta não tem dono. Ela aconteceu. Entre ruas sujas, gritos abafados e páginas esquecidas dos livros didáticos, os personagens existiram. Sofreram, sonharam, caíram. Mas a política tornou-se uma lente distorcida que impede qualquer olhar direto para o passado. Para muitos, assistir ao filme significa ceder terreno, admitir que os fatos podem ser incômodos, que a História não pede licença para agradar. Se não acredita, assista como uma superprodução brasileira.
Do outro lado, há quem queira impedir qualquer um de direita de se sentar na poltrona e apenas assistir. Como se a experiência de ver um filme precisasse de carteirinha partidária. Como se a arte tivesse fronteiras tão rígidas que apenas um grupo tivesse permissão para entender e sentir.
Temos em destaque Fernanda Torres, renomada atriz brasileira, alcançou reconhecimento internacional por sua atuação no filme. Em 5 de janeiro de 2025, ela fez história ao vencer o Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz em Filme de Drama, tornando-se a primeira brasileira a conquistar esse prêmio. Faz alguma diferença se ela vota nesse ou naquele?
O filme, dirigido por Walter Salles aguarda os resultados do próximo óscar que será dia 02 de março. A expectativa é muito grande para que o resultado seja favorável para o Brasil.Sim! Brasil, não para o partido A ou B. Para o Brasil! Orgulhe-se!
No fim, a grande dificuldade não é assistir ao filme. É aceitar que ele é apenas isso: um filme. Sobre um tempo que existiu, sobre pessoas que respiraram o mesmo ar que nós, sobre fatos que não podem ser apagados. Mas enquanto as luzes da sala se apagam e a projeção começa, há aqueles que preferem manter os olhos fechados. Porque ver a verdade, às vezes, dói mais do que qualquer cena na tela.