SOLIDARIEDADE

Após incêndio, idoso de Candiota ainda luta para ter uma casa própria

Num terreno doado pela Prefeitura, seu Vilmar construiu uma moradia improvisada e sem banheiro. Campanha busca arrecadar recursos para erguer uma casa

Seu Vilmar vive num local improvisado, sem água encanada e sem banheiro Foto: J. André TP

Na manhã do sábado ensolarado de 16 de junho de 2018, seu Vilmar Maciel saiu de sua casa na Vila Residencial 2 e foi até a sede de Candiota para comprar uma linguiça. Ele planejava fazer uma feijoada. Não demorou a saber que o seu chalé havia sido consumido pelas chamas depois de uma pane elétrica. “Eu já havia salvo duas vezes a casa anteriormente. Desta vez agradeço a Deus, porque talvez poderia ter morrido no incêndio se tivesse em casa”, relembra.

Casa do seu Vilmar pegou fogo em junho de 2018 Foto: Arquivo TP

Apesar do agradecimento, desde então, o idoso, que completou 67 anos agora no último dia 17 de janeiro, vive uma espécie de drama. Como morava numa casa que pertencia a então Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE), atualmente CTG Eletrosul, e a área é considerada de risco pela proximidade com a Usina de Candiota, ele não foi autorizado a reconstruir a casa no local. Nesse tempo, morou de favor em dois ou três lugares, mas nada como ter o seu próprio cantinho.

No ano de 2019, a Prefeitura de Candiota conseguiu um terreno para seu Vilmar, nos fundos do Pronto Atendimento 24h, na Vila Residencial. Conforme o prefeito Adriano dos Santos, a Prefeitura tentou, logo após o incêndio, sensibilizar a CGTEE – a comunidade também fez um abaixo-assinado -, mas não foi possível. “Após lançarmos um edital e fazermos um laudo social, com aval do Conselho de Habitação, conseguimos legalizar a doação do terreno ao seu Vilmar. Sempre estivemos atentos a situações como essas”, assinala o prefeito, lembrando que a construção de uma casa não é descartada, mas é um processo mais burocrático.

No local, o idoso improvisou um barraco de tábuas, em condições ainda bem precárias, sem água encanada e sem banheiro. Menos mal que tem energia elétrica. Para suas necessidades fisiológicas, ele vai num mato de eucaliptos que fica em frente e o banho é de bacia. “É difícil, mas vamos levando. Pelo menos é meu”, disse, ao receber a reportagem do TP na manhã desta quarta-feira (19).

HISTÓRIA – Seu Vilmar, que é bageense, veio para Candiota logo após a emancipação, em 1992, para trabalhar como padeiro. Por aqui foi ficando, tendo trabalhado por 15 anos seguidos na limpeza industrial da Usina de Candiota.

O idoso faz alguns ‘bicos’ para ajudar na renda Foto: J. André TP

A casa incendiada foi cedida por um brigadiano, que atuava na cidade e foi embora. Aposentado em 2015 com um salário mínimo, seu Vilmar nunca parou de trabalhar, cortando grama, limpando pátios e fazendo outras changas, como ele mesmo descreve. “Só com o dinheiro da aposentadoria não tem como”, conta.

Pai de dois filhos e avô de cinco netos, seu Vilmar lembra com os olhos marejados, a perda de uma filha, que tinha apenas 15 anos, num acidente de carro em Bagé. “Vim para Candiota por causa deste acidente e com um pensamento ruim na cabeça”, lembra ele.

Há mais de dois sem beber, seu Vilmar exalta o fato de ter conseguido superar o alcoolismo. “Outra vida”, enaltece.

Com saúde frágil, seu Vilmar tem três pontes de safena, duas mamárias e dois cateterismos (procedimento para desobstrução de artérias).

SOLIDARIEDADE – Conhecido de seu Vilmar há cerca de 20 anos, o sargento da Brigada Militar, Ideraldo Luis Marques da Silva, se sensibilizou com a situação. Aliás, Ideraldo tem um histórico de solidariedade com o próximo.

Sargento Ideraldo está organizando uma ação entre amigos para ajudar o idoso Foto: J. André TP

O experiente brigadiano, muito conhecido em Candiota, organizou, com a ajuda de colegas de farda, uma ação entre amigos com o intuito de auxiliar o idoso a construir uma casinha de alvenaria e com o mínimo de conforto. “Fizemos mil números, mas nosso objetivo é vender cinco mil. Pode parecer loucura, mas o povo de Candiota é muito bom e vamos conseguir”, projeta ele.

A ação, ao custo de R$ 3 cada bilhete, terá ao fim, no próximo dia 29 de abril, o sorteio de smartphone Samsung Galaxy A 10, entre os colaboradores.
Segundo Ideraldo, já há vários pontos de vendas na cidade, como com ele próprio, no jornal Tribuna do Pampa, nas lojas Móveis Avenida e O Varejão. Para quem quiser fazer outras doações, como material de construção ou doar sua mão de obra, pode ligar para o fone (53) 99902-9856 e falar com brigadiano.

Com alguma economia, seu Vilmar já comprou um pouco de areia e uma fossa de concreto para um futuro banheiro, além de ter ganhado mil tijolos de um amigo, mas ainda está longe de ser o suficiente. “Qualquer ajuda é sempre bem-vinda”, pediu.

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