A última sessão ordinária da Câmara de Vereadores de Pinheiro Machado de 2019 foi marcada pelo primeiro voto de desempate do exercício do presidente Mateus Garcia (PDT). O Projeto de Lei Complementar nº 01/2019, que altera e consolida a Legislação Municipal relativa ao Imposto Sobre Serviços (ISS), tinha como justificativa principal a necessidade de implantação da Nota Fiscal de Serviços Eletrônica (NFS-e), visto que o município é um dos poucos que ainda não contava com o sistema.
Durante a votação, o documento recebeu desaprovação dos vereadores Fabrício Costa e Sidinei Calderipe (ambos do PSB), Ronaldo Madruga (Progressistas) e Gilson Rodrigues (PT). De outro modo, a base governista – incluindo o presidente do Legislativo – tornou a medida válida com votos de Cabo Adão e Renato Rodrigues (ambos do PSDB), Wilson Lucas (PDT) e Jaime Lucas (MDB).
OPOSIÇÃO – Conforme justificado pelos vereadores de oposição, o projeto vai contra os menos favorecidos. “Na verdade, o governo quer melhorar sua arrecadação aumentando valores e percentuais cobrados atualmente deste imposto sem ao menos pensar nas pessoas. Tanto é que fez uma correria e grande pressão para que o projeto fosse votado e esses valores já serem arrecadados em 2020”, disse Fabrício.
Na mesma linha de pensamento, Ronaldo ainda fez questionamentos. “Como vai se pedir ISS de uma babá, manicure ou faxineiro? As pessoas mal ganham para comer e eu não posso dar meu voto favorável porque isso é contra a comunidade de Pinheiro Machado, principalmente os mais pobres, os que precisam se sustentar a partir desse mercado da informalidade”, lamentou.
Enquanto isso, Gilson se disse desanimado por ver o governo taxar trabalhadores de serviços essenciais. “Esse projeto trata das pessoas mais pobres – o alfaiate, o lavador de automóvel, o mecânico e por aí vai – porque a multa chega a R$ 1.200 se não emitir Nota Fiscal de Serviços Eletrônica (NFS-e). A forma de arrecadar não é pelo serviço das pessoas mais pobres, digo isso porque o governo não está fiscalizando os grandes e porque taxar uma pessoa que trabalha por dia não é certo”, falou.
BASE GOVERNISTA – Enquanto isso, também com discurso alinhado, a base governista usou seu espaço de fala para esclarecer a intenção da solicitação de mudanças encaminhada pelo Executivo. Segundo eles, não existe a obrigatoriedade do trabalhador informal aderir às normas, mas sim a possibilidade dele vir a fazer essa regulamentação.
Conforme resumiu o presidente Mateus, que precisou desempatar e decidiu pela aprovação, a medida já vinha sendo solicitada por ele desde o início da gestão por entender ser extremamente importante para ampliação dos negócios dos trabalhadores locais. “Cada um interpreta e faz uma leitura dos projetos da forma que lhe convém e eu tento fazer uma leitura que convém para o bem da municipalidade. Não estamos penalizando aquele trabalhador que atua na informalidade, pelo contrário, estamos dando a oportunidade de abrir a porta da empresa dele para que possa prestar serviço para o Estado e para o país. Estamos preparando o município de Pinheiro Machado com essa legislação para que o borracheiro, o faxineiro e a costureira possam ser contratados por todas as empresas que exigem Nota Fiscal de Serviços Eletrônica (NFS-e). Eu enxergo essa como uma oportunidade de ampliação do negócio”, afirmou.
ESCLARECIMENTOS – Diante de tamanha polêmica que o assunto acabou gerando entre os parlamentares e também nas redes sociais, de acordo com nota de esclarecimento divulgada pela Prefeitura, com a aprovação da Lei Complementar Municipal, viabilizou-se ao município a modernização da gestão do Imposto Sobre Serviços (ISS) e a adequação da legislação municipal às determinações já existentes sobre o tema nas Leis Federais.
As obrigações que já existiam como emissão de notas, pagamento do imposto e declaração de ISS, foram simplificadas e modernizadas com a possibilidade de utilização de softwares para sua emissão e armazenamento.
A implantação da Nota Fiscal de Serviços Eletrônica (NFS-e) é uma imposição do Projeto de Sistema Público de Escrituração Digital (SPED) a nível nacional (Decreto Federal nº 6.022/2007 e suas alterações) – onde, com isso, os municípios facilitam aos contadores e aos contribuintes o cumprimento da lei, tanto municipal quanto federal.
Salienta-se que os profissionais autônomos (pedreiros, cabeleireiros, costureiras, etc) não são obrigados a emitirem notas fiscais. Os Microempreendedores Individuais (MEIs), da mesma forma, que são dispensados da emissão de notas fiscais para pessoas físicas, caso queiram emitir notas, também poderão adotar o meio eletrônico, facilitando e reduzindo custos, já que assim não precisarão imprimir talões em gráficas. Não há mudança nenhuma nos recolhimentos de valores já estabelecidos para os MEIs, já que recolhem mensalmente valores fixados pelo Comitê Gestor do Simples Nacional (CGSN).
Além disso, não há necessidade de aquisição de equipamentos especiais para emissão das notas, já que o sistema pode ser acessado até mesmo por celular e a impressão é opcional. De qualquer forma, muito em breve o município capacitará os servidores municipais e disponibilizará na fiscalização municipal equipamentos e pessoal para auxiliar na emissão de NFS-e.
PREFEITO – Conforme lembrou o prefeito Zé Antônio, apesar das mudanças em relação à taxação de impostos, a medida surge no sentido de modernizar as relações de trabalho para os pinheirenses. “Sabemos que qualquer mudança que aumente impostos para a população não é vista com bons olhos, mas propomos as alterações no sentido de estarmos de acordo com a atual realidade: existem grandes empresas atuando no município e promessa de chegada de novas. O que cabe ao município é se adequar e proporcionar que esse empreendedor local esteja apto a emitir nota para que as empresas não procurem gente de fora”, disse.
Em resumo, todas as alterações dizem respeito a quem já é ou pretende estar formalizado. Por isso, a nova lei traz claramente descrita todas as profissões e suas respectivas taxas, o aumento do valor do ISS fixo anual para autônomos, algumas alíquotas do ISS para empresas passaram de 3% para 5% e, a tão solicitada por muitos, implantação da NFS-e.
ACIAS – Em contato com o Tribuna do Pampa, o presidente da Associação Comercial, Industrial, Agropecuária e Serviços (Acias) de Pinheiro Machado, Jesus Benê Gomes, fez questão de se manifestar sobre o assunto. Atualmente, a Acias possui cerca de 70 empresas associadas, que também esperavam pela consolidação de tal norma.
“Recebemos com entusiasmo a notícia de que a lei que regulamenta a implementação da NFS-e foi aprovada no nosso município, visto que esse assunto foi pautado em diversas reuniões por parte da Acias e solicitávamos urgência. Essa medida vem para facilitar a vida do empreendedor prestador de serviços, pois além da facilidade de emissão, a nota pode ser emitida e enviada via internet, dispensando o uso ou aquisição de equipamentos especiais”, destacou.
O presidente da associação lembrou ainda que a modernização também gera economia de papel e contribuição para a preservação do meio ambiente, por não precisar imprimir e tendo a opção de enviar a nota por e-mail ou até WhatsApp. Segundo Jesus Benê, atualmente algumas empresas não aceitam nota manual de serviços e isso acarreta transtornos ou até mesmo recusa de serviços. “O avanço da tecnologia proporciona maior agilidade e controle principalmente para empresas de pequeno porte que não dispõem de um sistema de gestão. Com essa mudança, é possível controlar de forma eficiente o fluxo de caixa visto que as notas ficam armazenadas em um servidor e podem ser consultadas a qualquer momento”, disse.