CONSEQUÊNCIAS

Audiovisual mostra situação de cidades que tiveram suas usinas fechadas

Usina em ruínas em Charqueadas Foto: Reprodução TP

No último dia 7, durante a Audiência Pública que teve como assunto principal o futuro do carvão candiotense, um audiovisual foi apresentado aos presentes e mostrou relatos de pessoas que tiveram usinas fechadas em suas cidades, registrando a dura realidade de conviver com o desemprego em um lugar completamente fantasma.
“Luzes na Escuridão, um grito por Candiota”, este é o nome que o audiovisual recebeu.  Produzido pelo fotógrafo e profissional candiotense, Letiére Navarrina e sua equipe, as imagens mostram cidades gaúchas como Arroio dos Ratos, Charqueadas, Minas do Camaquã e Lavras do Sul, que tiveram suas indústrias fechadas e seus empregos perdidos.
RELATOS 
O primeiro relato mostrado é de um morador de Arroio dos Ratos e secretário de Desenvolvimento, Alexandro Neto. Filho e neto de mineiro, Alexandro destacou que a memória do ocorrido não é boa, pois a cidade sofreu economicamente e ficou praticamente devastada. “Os mineiros ajudaram a construir o hospital da cidade, e isso com o fechamento da mina acabou.
Quem não está nem aí, não está dando bola e não está indo pra rua ajudar, vai ficar bem ruim. Povo de Candiota eu aconselho a se mobilizar, porque vai atingir a todos, sem exceção”, alertou.
Já o ex-mineiro e diretor sindical de Charqueadas, Gilmar José Lorenz, afirmou que o emprego faz muita falta na vida das pessoas, relembrando que é muito triste ter um filho pedindo as coisas e os pais sem condições para dar. Em sua fala, Gilmar disse que ficou desempregado durante três anos, e que precisou se descolar até Butiá para conseguir emprego quando a usina fechou. “Trabalhei e suei pra tentar erguer a nossa bandeira, e estou tentando levantar essa bandeira que é o carvão, que pra mim é tudo. É a nossa vida, é a vida dos meus filhos, netos e assim por diante”, reforçou.
Em Minas do Camaquã, o aposentado e ex-mineiro, Zaldenir Alves Teixeira relatou que em alguns dias sentiu vontade de chorar, principalmente pela falta de movimento na cidade. “O pessoal foi dispersando e todo mundo indo embora, e foi esvaziando dia a dia e cada vez ficava mais triste isso daqui. A gente também não acreditava, mas se o pessoal de lá faz isso, não é novidade pra mim. Porque a gente não acredita como uma potência daquela lá, que uma hora pra outra vai parar”.
FALTA DE ACEITAÇÃO 
Entre diversas falas, muitas pessoas citaram a mesma coisa, de que não acreditavam que o fechamento das usinas realmente iria acontecer, mas infelizmente aconteceu. A exemplo disso, buscamos a fala de Jozi Francisco, morador de Charqueadas, ex-mineiro e atual presidente da Câmara de Vereadores.
Em seu depoimento, Jozi disse que foi um dos piores momentos para a cidade e região, pois ninguém acreditava que o fechamento poderia acontecer. Além do impacto social, a economia da cidade e seu entorno sofreu, pois os trabalhadores que buscaram trabalho em Porto Alegre, acabam comprando suas coisas por lá e deixam de investir em seu município, o que acontece até os dias atuais. “No comércio quebrou tudo, borracharia, posto de gasolina já fechou uns quatro aqui, vocês não calculem e a comunidade de vocês lá não vão calcular o que é fechar uma empresa dentro do município. É uma paulada fatal”, enfatizou.
Da mesma cidade, o ex-mineiro e presidente da Associação de Moradores, Carlos Magno Vieira, também relembrou que a população não acreditava na possibilidade dos trabalhos serem encerrados. “E com o fechamento, teve muitas pessoas que adoeceram e muitas pessoas ficaram com depressão”, lamentou.
IMPACTOS ECONÔMICOS 
Assim como já mencionado em outras vezes, a população precisa compreender que não são apenas os trabalhadores diretos da usina que irão sofrer com o fechamento, mas também o comércio em geral.
A secretária de Meio Ambiente de Arroio dos Ratos, Rejane Webster, reforçou que todo o entorno do município e sua região será afetada. “Porque as minas de carvão quando existiam em Arroio dos Ratos, elas faziam geração de emprego e renda, e isso fazia com que as pessoas tivessem qualidade de vida nos seus lares. Nós tínhamos na época cinema, tínhamos na época um hospital funcionando a todo o vapor”, relembrou.
Em Lavras do Sul, o ex-mineiro Júlio Machado, disse que quando tudo começou a acabar, nem aposentado era. “Foi terminando o comércio, foi terminando tudo e não tinha mais emprego. E eu nem aposentado era também, e aquilo foi morrendo e morrendo. E eles não anunciaram nada, eles fecharam de golpe. Quando terminou, terminou e não avisaram ninguém”.
O prefeito da cidade, Sávio Johnston Prestes, disse que o trabalho, o emprego e a renda são necessários para manter o desenvolvimento de um lugar. “Se não tiver esses três fatores o teu filho vai embora, o teu neto vai embora”.
FECHAMENTO DO HOSPITAL 

Antigo hospital ficou em ruínas e móveis restam espalhados pelo prédio abandonado Foto: Reprodução TP

Sem dúvidas, uma das imagens mais impactantes mostradas no decorrer do vídeo, é a do estado em que o hospital de Arrio dos Ratos se encontra na atualidade. Durante o relato, a diretora de Cultura Tatieli Menezes, fala sobre como era o espaço e como ficou. “O hospital Sarmento Leite, ele é o que ficou dos resquícios da mineração depois que teve sua extração daqui para outro lugar. A sociedade, na verdade, penou muito com isso, porque nós já éramos referência no Estado. Então quando houve essa questão, infelizmente nós perdemos muito em aspecto social e aspecto de Saúde. Hoje nosso povo tem que se locomover até São Jerônimo, que é o nosso hospital de referência. Então, infelizmente, tudo isso aqui que vocês veem, uma estrutura de dois pisos gigantesca, virou ruína como tudo na cidade praticamente virou ruína”, lamentou.
FOLADOR
Ao final do audiovisual, o prefeito de Candiota, Luiz Carlos Folador deixou claro que é preciso a ajuda de todos, independente de partido político. “Nós precisamos cuidar das pessoas, são 15 mil pais de famílias, mineiros, eletricitários, funcionários públicos. A gente precisa e nós vamos continuar lutando em todas as esferas, municipal, regional, estadual, federal aonde for”, declarou.
ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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