Desde o início de fevereiro, quando foi anunciado o retorno às aulas em Bagé, o assunto é um dos mais debatidos na cidade. No dia 2, a secretária municipal de educação, Adriana Lara, anunciou o retorno às aulas da rede pública municipal. O ensino será de forma híbrida, ou seja, presencial e online, em sistema de revezamento da turma.
Segundo informado, a decisão atende orientação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) para que se tenha a reabertura das escolas, frente aos danos causados pela longa permanência fora do ambiente escolar. “O estado (RS) já está se organizando para esta abertura em março. Apresentamos calendário para o prefeito que concordou. O formato híbrido vai evitar a aglomeração dentro das salas de aula, sendo uma turma tendo a aula presencial a cada semana. Por mais que todos estejam se esforçando, nada substitui a presença do professor, o carinho, a atenção em sala de aula”, avalia Adriana.
Muitos pais não estão muito contentes com a situação, tendo em vista que avaliam o retorno às aulas como mais uma forma de seus filhos se contaminarem com o Covid-19 e assim, infectar também seus familiares, sendo que muitos têm idosos em casa. O Tribuna do Pampa conversou com pais e profissionais para saber suas opiniões.
CALENDÁRIO – As equipes diretivas das Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEI’S) e Escolas Municipais de Ensino Fundamental (EMEF’s) retornaram no dia 10 de fevereiro para receberem todas as orientações e recomendações de como será o ano letivo. No dia 11 de fevereiro foi assinalada a reabertura oficial, por meio de live direcionada a todos os professores. Já no dia 18 de fevereiro retornariam as aulas, no formato híbrido. Porém, o prefeito Divaldo Lara voltou atrás da decisão e o retorno será de forma remota, até que os professores recebam as doses da vaciana.
As turmas de berçários e maternais ainda não retornam em fevereiro, somente em março. Voltariam prés, anos iniciais, anos finais, Educação de Jovens e Adultos (EJA), técnico e polo da Universidade Aberta do Brasil (UAB). Nó ensino de forma híbrida seriam duas horas e meia de aula, para dar tempo de fazer higienização entre um turno e outro. Os alunos que não têm internet, a escola vai fornecer todo o material impresso para que as atividades continuem sendo feitas.
Previsão que 30% dos servidores solicitem atestado
A Secretaria Municipal de Educação e Formação Profissional (Smed) se reuniu com a coordenadora da Biometria Municipal, Adriana Moraes, a conselheira municipal de Educação, Mirta Helena Pereira, e a coordenadora do RH da Smed, Liliane Costa, para estudar a situação do quadro de professores para 2021. Os resultados iniciais preveem que, no decorrer de 2021, cerca de 30% dos servidores que trabalham nas escolas, entrarão com pedido de atestados médicos e solicitarão o trabalho em homeoffice devido à pandemia. Este número leva em consideração projeções internas da Biometria devido a ligações já recebidas que demonstraram interesse por parte de alguns professores e funcionários em não retornar às atividades presenciais neste ano.
A secretária de Educação, Adriana Lara, frisa que a rede pública de ensino fará de tudo para que não ocorram aglomerações nas dependências escolares, “pois dividiremos as turmas em dois grupos semanais, os quais intercalam a presença na escola com os estudos de casa”, explica.
NOMEAÇÕES – Adriana também conta que ainda em fevereiro, cerca de 70 professores e funcionários serão nomeados do concurso público municipal, o que reforçará a grade de servidores para este ano. A titular da pasta conta que a segurança está sendo redobrada com a saúde de todos dentro das escolas: “Todos os EPI’s e EPC’s serão disponibilizados aos professores, funcionários e alunos. Também ocorrerá o aferimento da temperatura diariamente de todos os presentes junto da obrigatoriedade do uso de máscara durante as aulas”, destaca.
Vereadora realiza questionário de retorno as aulas
A vereadora Cáren Castencio (PT) realizou um questionário online dirigido a professores e funcionários de escolas da rede municipal de ensino. A iniciativa foi uma das ações da parlamentar para verificar a realidade da rede de ensino após o anúncio de retorno às aulas, marcado para o próximo dia 18, no formato híbrido. O questionário contou com a participação de 408 servidores nos cinco dias em que esteve no ar.
Desses participantes, cerca de 81% são professores e os demais, funcionários de escola. 40,7% são professores com duas matrículas da rede municipal, 26,6% são professores com apenas uma matrícula, 13,5% são professores com uma matrícula na rede municipal e outra na rede estadual, 13,2% são professores com uma matrícula na rede municipal e 20h de regime suplementar (vantagem que dobra a carga horária de professores, para atendimento de turmas quando há falta de professor) e 6% são professores municipais que também trabalham em escolas privadas.
Das 408 respostas, o questionário revela que 45,6% desses profissionais pertencem ao grupo de risco ampliado: são gestantes, pessoas que têm mais de 60 anos ou que apresentam comorbidades. Do total de participantes, 6,9% respondeu que já testou positivo para Covid-19 e 29,7% já viveu a perda de algum familiar ou pessoa próxima devido ao coronavírus.
A questão que atingiu maior percentual na resposta foi a que perguntava como deveria se dar o retorno às aulas neste momento em que os profissionais ainda não foram vacinados: 90,9% das respostas dizem que o ensino deveria ser remoto (online) e 7,8% respondem que deve ser híbrido, enquanto 1,3% responderam que as aulas deveriam ser presenciais.
Na questão que abordava as condições da escola, 70,2% dos profissionais dizem que sua escola não está em condições de manter o distanciamento nem a higienização dos espaços e 24,3% indicam que a escola consegue fazer isso apenas de forma parcial. Somente 2,9% acreditam que sua escola tem condições de manter o distanciamento entre as pessoas e a higienização de salas, corredores, refeitório e banheiros. As principais preocupações apontadas pelos servidores no questionário dizem respeito a salas pequenas ou mal arejadas, falta de equipamentos d de proteção para estudantes e profissionais, falta de profissionais para limpeza constante da escola, a dificuldade em controlar o distanciamento entre os estudantes e ainda as condutas de risco fora da escola: aglomerações, não uso da máscara ou falta dos demais cuidados.
Avaliação de uma profissional da saúde
A médica pneumologista, Flávia Marzola, relatou que é importante ressaltar que agora já se sabe o comportamento do vírus. “Não se tem uma previsão de quando vai voltar tudo a normalidade e que, provavelmente, esse ano ainda seja tumultuado e ainda tenhamos que evitar muitas coisas. Em função disso, o que foi visto é que aqueles países que fizeram somente aulas online, houve um prejuízo muito grande e que o fato de evitar que as crianças fossem a aula não fez com que diminuísse os casos e a gravidade”, salienta.
Ela informa que em crianças o Covid-19 cursa de uma forma mais benigna. “Se a criança sai para aula tem que ter a higienização e lavar as mãos. Vai ser um paradigma para professores e alunos. Tem que intensificar e explicar que antes de fazer um lanche, por exemplo, deve lavar as mãos. Incentivar a lavar com mais frequência, higienizar a sala na saída de uma turma para outra e usar a máscara”, comenta. “A gente sabe que o vírus não vai de uma distância maior que 1,5 metro. Os ambientes precisam ser ventilados. Quem está com sintomas não deve frequentar aulas. Mas chegou um ponto que o prejuízo para o país e para o futuro das crianças acaba sendo maior com o fato de não ter aula. A gente não pega o vírus na rua e sim no ambiente de trabalho, – claro que a escola também é ambiente de trabalho-, e principalmente dentro de casa que é onde a gente baixa a guarda”, garante a médica. Ela destaca que nos países onde foi feito lockdown não houve menor gravidade e muito menos menor incidência. “Os hábitos, a imunidade, a qualidade de vida são fatores mais importantes. O que se viu que realmente funciona é higiene e não somente trancar as pessoas em casa”, completa.
E em casa?
Muitos pais de alunos, da Educação Infantil até o Médio, estão com opiniões diferentes. O Tribuna do Pampa ouviu alguns que são a favor do retorno às aulas e outros que são contra. Uma das entrevistadas, mãe de um menino de 6 anos, se diz preocupada com a volta às aulas. “Criança é mais difícil de manter de máscara, fazer ficar distante do coleguinha. Mesmo o vírus não atingindo muito as crianças, temos idosos em casa. E pode infectar”, destacou a mãe que pediu para não se identificar.
A autônoma Kamili Santos relata que é a favor do retorno de forma híbrida. “Tem que ter todos os cuidados, mas a vida vai ter que ir voltando ao normal. Vejo muitas pessoas, inclusive professores e funcionários de escola, viajando em férias para diversos lugares. Se já se pode viajar mantendo os protocolos de segurança, também se pode voltar ao trabalho com os mesmos protocolos. Sei que crianças é mais difícil. Mas adolescentes já devem entender. Muitos que irão se formar em 2021 serão prejudicados se não houver o retorno, pois aprendem infinitamente menos com a forma remota”, opinou.
“Não quero mandar minha filha para a escola. Se tiver que recorrer a todas as possibilidades, irei recorrer. Ela é da Educação Infantil, tenho meu pai e mãe em casa que são do grupo de risco. Não vejo a necessidade desse retorno, principalmente para crianças. Acho que deveria ser melhor pensado, mais de forma humana do que por interesses políticos”, pontuou a comerciante Marcelle Ribas.