VISITA PASTORAL

Candiota recebe visita do bispo dom frei Cleonir Dalbosco

Religioso proferiu seu posicionamento acerca de diversos temas

Bispo visitou o jornal acompanhado do pároco de Candiota e Hulha Negra, frei Tiago Frey Foto: Silvana Antunes TP

Na última semana, durante a passagem do bispo da diocese de Bagé por Candiota, Dom frei Cleonir Dalbosco, em razão das atividades comemorativas pela padroeira da cidade, Imaculada Conceição, o jornal Tribuna do Pampa recebeu o religioso na redação. Juntamente com o frei Tiago Frey, além de falar sobre a festividade que acompanharia na cidade durante a visita pastoral, o bispo conversou sobre temas locais, estaduais e até mundiais.

 

VISITA PASTORAL

 

O primeiro tema exposto foi a visita pastoral realizada por dom frei Cleonir Dalbosco, que faz parte do direito canônico – Constituição da igreja. “A visita pastoral acontece entre a cada três e cinco anos nas paróquias da diocese, pois o bispo é o primeiro responsável por toda organização, vida e missão administrativa da igreja, além de responder de forma solidária com o pároco. Nesse momento dialogamos com os freis sobre a vida da paróquia, questões burocráticas dos livros de registros, batismos, casamentos e sacramentos, além das visitas as comunidades, a instituições, órgãos públicos, prefeitura em busca de diálogo, pois a igreja também é de partilha e trabalho em conjunto”.

 

CANDIOTA

 

A reportagem do TP solicitou ao bispo fazer uma análise sobre o município de Candiota. Segundo dom frei Cleonir, a Diocese de Bagé é responsável por 12 municípios e cada um tem suas características, seu povo, cultura e realidade, mas que vê o município de Candiota como promissor. “É uma cidade com muitas possibilidades, inclusive de emprego. Vemos que os municípios vizinhos vêm trabalhar em Candiota pelas oportunidades, o que é um ponto muito positivo. Também é uma cidade com limitações como as outras. Um grande desafio hoje é com a juventude, nos preocupamos bastante, muitos jovens perdendo a vida muito cedo, inclusive por suicídio”.

O bispo fez uma ligação com a tecnologia. “O desenvolvimento tecnológico cresceu tanto e às vezes sem controle, inclusive até das equipes de profissionais responsáveis. Nossos jovens às vezes estão tão mergulhados nesse mundo digital que esquecem de viver o mundo real. Nos preocupa, pois essa dimensão online, digital às vezes leva para um mundo que não é palpável, que não é tangível, há um descontrole. A ciência mostra que vivemos um mundo tão frágil, tanto de família como de espiritualidade, que é considerada a terceira inteligência, é necessário um equilíbrio na vida existencial”.

 

NOVAS TECNOLOGIAS

 

Ainda no que se refere a tecnologia, questionado se essa questão pode estar atrapalhando um pouco a aproximação das pessoas com a igreja e até limitando sua fé, dom Cleonir diz que há dois lados a serem analisados. “A tecnologia é uma ferramenta muito importante que nos ajuda, inclusive nós temos um dos Santos contemporâneos que é o Carlos, ele era especialista nessa área digital e até o papa Francisco destacava como é bonito ver um jovem de 14 anos evangelizando pela internet. Agora no processo de canonização foi destacado que vai ser o padroeiro da internet. Por outro lado, o mundo virtual está levando jovens e adultos aos vícios e as dependências, não conseguindo mais viver o mundo real. Então hoje se evangeliza muito pelas redes sociais, mas se lançada uma fake news por exemplo, temos muitos problemas”.

 

 

CATÁSTROFES CLIMÁTICAS

 

O Rio Grande do sul tem vivenciado verdadeiras catástrofes climáticas, com temporais, enchentes, cidades arruinadas. Sobre essa pauta, o bispo lembra que o planeta é chamado de casa comum por ser para todos e quando Deus criou o mundo, o céu, a terra e tudo que existe, entregou nas mãos do homem e da mulher para o cuidado. “Sabemos que esse desequilíbrio da natureza com certeza tem a mão do ser humano. Laudato Si, ou louvado sejas, é uma expressão de Francisco de Assis que trata diretamente sobre esse cuidado com o meio ambiente. O papa já vem refletindo de forma direta na igreja, ele lançou a cíclica Laudato Deum, ou seja, louvai a Deus também com essa preocupação. Pesquisas mostram que se continuar desta forma, em poucos anos a vida do ser humano estará comprometida, por isso nos nossos trabalhos pastorais temos movimentos em defesa da natureza. Há muita exploração sem limites, políticas irresponsáveis. Hoje temos a região Sul vivendo grandes enchentes e a Amazônia que sempre foi um lugar de muita chuva, vive seca tremenda. Então claro que existe algo errado e o que se vive é consequência da irresponsabilidade humana principalmente de nossos dirigentes que não tem uma política de respeito com aquilo que é um bem para todos”.

 

GUERRAS NO MUNDO

 

Outro tema debatido na entrevista foram as guerras no mundo, tais como entre Rússia e Ucrânia e Hamas e Israel, com destruições e mortes. Com relação a essa pauta, dom frei Cleonir citou uma frase do papa Francisco. “Ele dizia assim: nas guerras não existe vencedor todos são perdedores. Estamos vivendo uma situação de muita dor, de muito sofrimento. O papa, mesmo com fragilidade física tentou buscar intermediar todas as questões indo nas embaixadas. Ele nos dizia isso com um sentimento profundo, com lágrimas no rosto. Vivemos uma guerra fragmentada, há também muitas mortes na África, sofrimento. A gente sabe que por trás de todas as guerras existe uma ganância muito grande, interessados em ganhar às vezes com a força e o poder o espaço do outro, e os que saem mais prejudicados são os mais humildes, mais simples. As pessoas que promovem e defendem as guerras não pertencem a Deus, pois ele só promove a paz, o amor, a fraternidade e o diálogo”.

 

IGREJAS EVANGÉLICAS

 

O jornal solicitou ao bispo a falar sobre o avanço das igrejas evangélicas no país. Conforme o religioso que faz parte do conselho permanente da igreja do Brasil nacional, há uma reflexão sobre o projeto de evangelização e cuidado da fé. “Nos anos 80 nós éramos 90% católicos e hoje em torno de pouco mais de 50%. O crescimento das igrejas não é um mal e nós respeitamos a todas. O que a gente pede é que as pessoas tenham bastante consciência daquilo que estão buscando. Hoje na nossa igreja católica temos um retorno grande das pessoas, um retorno bonito do nosso povo. Nossa igreja tem dois mil anos, ela nasceu do projeto da vinda de Jesus Cristo. Nossa preocupação hoje é com as pessoas que não tem uma fé, com as pessoas que não tem a dimensão do quanto Deus é importante na vida da gente. Claro, é importante que seja uma igreja séria, que não explore as pessoas, que não seja um comércio religioso. A igreja, a religião, é para ajudar as pessoas a encontrar o caminho do bem, da Justiça, de Deus. A fé tem que passar pela cabeça e pelo coração”.

 

LEGADO DO PAPA

 

Foi solicitado ao bispo explanar sobre o legado que o papa Francisco vai deixar para a humanidade. Segundo dom frei Clenir, o papa Francisco era o ser humano mais adequado no planeta para estar nesse momento a frente da maior igreja. “Temos uma proximidade, já estive várias vezes com ele e o lado humano dele revela o Divino. Ele tem uma sabedoria tão grande, ao se aproximar dele tu sente uma força que brota de dentro apesar da fragilidade ao ver ele em uma cadeira de rodas. Tu sente que ele tem Deus dentro dele, que Deus é a força dele. Esperamos que o papa permaneça conosco por muitos anos, mas nesses 10 anos ele está nos deixando uma lição de vida tão grande”.

O bispo lembrou que o papa Francisco assumiu a igreja em momentos difíceis, onde havia a necessidade de alguém com postura e espiritualidade forte e força interior muito grande, além de discernimento em várias questões que envolve a igreja. “A partir do Vaticano, o papa iniciou a transparência administrativa, administrando com ética em tudo que pertence a igreja. Alguns católicos bem graduados se revoltaram contra o papa por ele querer fazer justiça, houveram muitas demissões. O papa também trabalhou o resgate das fontes da igreja, o trabalho comunitário da fé. Ele mostra que nossa igreja tem que ter autoridade, não poder. Ele nos passou a ordem de tolerância zero quanto a questões que envolvem menores, vulneráveis. Então o papa se tornou uma das maiores lideranças do mundo, as palavras dele balançam as estruturas da sociedade, é admirável. O papa atua como peregrino da paz, ele orienta, o que ele pede é o que ele mesmo faz. O respeitamos e pedimos vida longa a ele para continuar a nos ajudar”.

DOM FREI CLEONIR

 

Filho de uma família humilde de pequenos agricultores, mas muito religiosa, dom frei Cleonir, hoje com 53 anos, diz que a base familiar foi a sustentação para sua caminhada religiosa. Natural de Barros Cassal, no Rio Grande do Sul, saiu aos 15 anos de casa para iniciar a formação religiosa. Morou em Soledade onde fez o Segundo Grau e depois faculdade de Filosofia em Passo Fundo. Em Pelotas fez o ano canônico e de volta a Canoas, fez faculdade de Teologia em Porto Alegre e profecia como frei Capuchinho, frei Franciscano. Foi ordenado sacerdote em 1999, com 28 anos. Foi pároco em Santa Maria, cursou administração de empresas e pós-graduação em gestão de pessoas. Ficou por 12 anos na Coordenação Geral da Província dos freis Capuchinhos que estão no Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Rondônia e República Dominicana. Em 2017 assumiu a missão de acompanhar uma província em São Paulo e Minas Gerais. Em 2018 foi chamado pelo papa Francisco para ser o bispo de Bagé. Também é vice-presidente da regional do Rio Grande do Sul, membro permanente da CNBB nacional, membro do conselho permanente e presidente do conselho fiscal da CNBB Nacional. “Recebi um chamado na minha infância que foi construído a cada dia. Sou uma pessoa muito agraciada e agradecida por tudo que Deus me concedeu, peço que Deus seja sempre a força para essa missão”.

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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