QUANDO OS PAPÉIS SE INVERTEM

Dentista candiotense que cuida da mãe com Alzheimer diz ser sua vez de retribuir

Desde 2024, Sandra reorganizou sua rotina entre o trabalho e os cuidados com a mãe e o restante da família

Dona Naomi acompanha a filha nas atividades esportivas Foto: Sabrina Monteiro/Especial

Quando nascemos, nossas mães, geralmente, são aos maiores encarregadas pelos nossos primeiros cuidados na nova rotina. Depois, quando maiores, elas também se responsabilizam pelo ensinamento de coisas básicas do dia a dia, como amarrar os sapatos, pentear os cabelos, comer com o auxílio de talheres, entre outras inúmeras tarefas. Mas em certa parte da vida, os papeis podem ser invertidos, e os filhos que foram cuidados e ensinados por muito tempo, passam a cuidar e reensinar os pais diariamente.

E é assim que a dentista candiotense, Sandra Aymoto, vive há um bom tempo. Isso porque ela cuida da mãe, Naomi Nagano, 88 anos, que sofre com a doença Alzheimer há pelo menos 10. Juntas, elas são as protagonistas desta história em homenagem a todas as mães, sejam de sangue ou coração, pelo seu dia comemorado no próximo domingo (11). Sandra é mãe de dois filhos, Tiago e Rafael, e agora também dedica grande parte do seu tempo aos cuidados com a mãe, que retornou a morar com ela em 2024.

Usando medicamentos contra a doença desde os 77 anos, dona Naomi começou a residir em solo candiotense em 1996, morando sozinha em sua casa. Por volta de 2010, mudou-se para a casa de Sandra, e neste meio tempo começou a tratar o Alzheimer que infelizmente não tem cura. Mãe de cinco filhos, sendo dois já falecidos, em 2020 ela foi embora para o Paraná para morar com outra filha, retornando para Candiota em 2024, onde permanece até os dias atuais.

A ROTINA DIÁRIA

O dia a dia das duas demanda muito amor e paciência. Dona Naomi não pode ficar sozinha de maneira alguma e sua memória só recorda momentos que foram vividos no passado. “Ela identifica os meus filhos como filhos ou irmãos dela, e nem sempre eu sou a Sandra, geralmente sou a minha irmã Beti”, comentou a profissional.

Atualmente, a matriarca da família também necessita do uso de fraldas, e segundo a filha, muitas vezes fica rebelde quando recebe ajuda com a higiene pessoal, mas quem convive com esta doença sabe muito bem que são dias e dias. “Algumas vezes ela briga comigo, e em outras ela é um doce de tranquilidade”, comentou Sandra, dizendo que é algo muito difícil de viver, principalmente por não ter cura, mas que é preciso acostumar com o tempo.

A TROCA NOS CUIDADOS

No momento, Sandra precisa ensinar diariamente à mãe, o que foi repassado por ela há muitos anos atrás. Dona Naomi precisa reaprender tudo o que já sabia, até mesmo as tarefas mais fáceis e rotineiras. “E assim são os nossos dias, repetindo constantemente tudo, pois ela não guarda nada na memória e infelizmente não vai mais reaprender”, lamentou.

“Eu só faço o que ela fez e faria por mim, agora é a minha vez de retribuir. O que eu mais prezo no momento é cuidar para que ela tenha uma vida digna, bem alimentada, boa higiene, medicada e o que for possível. Aqui em Candiota, por ser uma cidade pequena, todos me ajudam e os amigos me dão muita força”, destacou a dentista, que usa a parte esportiva como um refúgio, mas sempre acompanhada pela mãe. “Ela me acompanha nas atividades, fica sentadinha e assiste aos nossos jogos”.

Ao finalizar, Sandra deixa um recado para as famílias que estão começando ou já enfrentam a doença. “Se preparem, principalmente o psicológico, essa foi a parte que mais me pesou. Familiares, se ajudem o máximo possível”, encerrou.

O ALZHEIMER

Mãe e filha junto ao grupo de idosos

A doença Alzheimer afeta a memória e o dia a dia, podendo apresentar dificuldade na fala e no raciocínio, desorientação no tempo e no espaço, alterações de humor e comportamento, afetando pessoas principalmente acima dos 65 anos de idade.

A estimativa, segundo a Agência GOV, é que cerca de 50 milhões de pessoas vivem com a doença, sendo que este número deve aumentar nos próximos anos, devido ao envelhecimento da população.

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