Estamos todos, sem exceção, atônitos diante da maior tragédia climática que o Rio Grande do Sul já presenciou em toda a sua história. Não é possível estarmos indiferentes. Nosso amado estado gaúcho foi atingido pela força da natureza, que apesar dos alertas, não encontrou dificuldades em causar um rastro de destruição que atinge milhares de pessoas e mais de dois terços das cidades.
Não se tem a dimensão da tragédia, porque ela ainda está em curso. Mais consequências estão por vir nos próximos dias, a medida que água se desloca e vai baixando. Os números estão sendo atualizados a cada quatro horas. Já passa de uma centena as vidas humanas perdidas e outra de desaparecidos. Contudo, a quantidade de pessoas atingidas, desamparadas e desabrigadas deixa a tragédia com contornos ainda mais marcantes e extraordinariamente apavorantes.
O Rio Grande do Sul vive, neste momento, praticamente um processo de paralisação de sua engrenagem cotidiana. As atividades econômicas, se não estão paradas, estão num ritmo lento e em total dificuldade. Entretanto, não há limite e precedentes para o tamanho da mobilização, da corrente gigantesca de solidariedade que toma conta não só daqui, mas de todo o Brasil e até de outros países, nos sacudindo e nos enchendo de esperança na humanidade.
Temos certeza, que a bravura do povo gaúcho há de superar esse momento terrível. Ao mesmo tempo, sabemos que agora é tempo de reconstrução e de salvar vidas, mas precisamos pensar no futuro, na crise climática que está aí e veio para ficar e de como vamos criar estruturas e um novo comportamento humano que seja resiliente, indicando para a natureza que nós temos ciência que ela devolve para nós aquilo que a alteramos.
Neste contexto, os ataques ao uso do carvão mineral voltam à cena e com força. Já há teses simplórias relacionando a tragédia de agora com as usinas térmicas de Candiota. Não se é contra buscar culpados, mas precisamos ter cuidado ao apontarmos os dedos. O carvão de Candiota não é o culpado e não podemos ser levianos.
As grandes potências econômicas do planeta precisam ajudar na reconstrução do RS, pois são elas as principais responsáveis pela elevação da temperatura do planeta Terra. O Brasil tem feito a sua parte, com uma matriz energética razoavelmente limpa e redução expressiva de queimadas e desmatamento. Nos culpar pelo aquecimento global e não cobrar das grandes potências é uma visão equivocada, mal-intencionada e colonialista.
Já estamos cientes que a transição energética precisa ser feita, mas como sempre frisamos, ela precisa ser justa e inclusiva. Por isso nosso pedido de tempo para que possamos nos adaptar a novas culturas econômicas, bem como, a novos usos de nossa maior riqueza, além da busca do carbono neutro. De outra forma é termos um olhar não brasileiro para a situação. Nos deixar para traz é um erro histórico e por isso que a política nacional já se mobilizou para nos dar esse tempo e esta possibilidade de nos reposicionarmos.