“Desde criança eu escutava as histórias do meu pai a respeito do frio, quando as águas estouraram o encanamento ou simplesmente não saía água nas torneiras até 10h da manhã”. Desta forma a professora Mariza Petterle, 64 anos, proprietária da Fazenda Santa Diva, localizada no Curral de Pedra, em Pinheiro Machado, recordou ao jornal histórias relatadas pelo pai Aluisio Borges Silveira da Rosa, criado na localidade por 79 anos, relacionadas as baixas temperaturas do local no inverno.
A professora reside de forma fixa na Fazenda com o esposo, o pecuarista e advogado Milton Rocha, 66 anos, e a neta Mail desde a pandemia de Covid-19, quando utilizaram a propriedade para proteção em razão de enfermidades.
À reportagem do TP, Mariza contou que a fazenda pertenceu ao bisavô Eusébio da Rosa e sua esposa Diva da Rosa, e que seu pai Aluisio também foi criado por lá, levantando às 4h pra tomar chimarrão e vistoriar os campos. “Certa ocasião, um amigo comentou que meu pai era exagerado, pois o frio na Santa Diva era sempre pior que noutros lugares. E o verão, com seca pior que nos outros lugares. Hoje, sei que meu pai tinha toda razão. Nunca duvidei, mas confirmo tudo o que ele passava. Frio extremo, assim como a seca enorme”, relatou a professora fazendo referência a temperatura de 9,1 graus Celsius negativos da última terça-feira (9).
ESTAÇÃO METEOROLÓGICA
A mínima registrada foi possível pela instalação da estação da Sigma Meteorologia. Mariza contou que depois da luz elétrica e da internet em 2010, pelo amor pelo lugar começou a fotografar e postar nas redes sociais imagens da geada. “Inicialmente, eu utilizava um termômetro para me basear na temperatura. Até ser encontrada pelos recém formados em meteorologia Fernando Rafael e Gabriel Cassol, dois jovens também apaixonados pela natureza e seus fenômenos. Eles demonstraram interesse em colocar uma base para medir a temperatura, fiquei logo interessada. Meu marido e eu nos colocamos à disposição. Mas não foi fácil, principalmente pela falta de energia elétrica por vários dias, Internet com problemas, mas nunca desistiram. Houve um tempo que ficamos sem os dados por problemas nos aparelhos, mas sabendo dessa friagem que estava para chegar, os dois rapazes viajaram toda noite para restabelecerem os dados da base”, contou.
A pinheirense falou na emoção vivenciada com o registro. “A emoção a cada grau que baixava no Curral de Pedra era uma satisfação. Com pés e mãos congelados, ficamos à beira da lareira, apreciando um churrasquinho e eu saía para ver se estava formando gelo e quando retornava já havia baixado 1°C. Lógico que levantei ainda noite para ver o resultado. Isso tudo tem muito significado, é viver um pouco do que meu pai viveu. Só em escrever sinto a emoção me invadindo o peito”, relatou Mariza, que também criou o filho na propriedade.
ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*