OPINIÃO DO TP

EDITORIAL – Ameaça concreta

A possibilidade de fechamento da Usina de Candiota (Fase C), a partir do fim dos contratos de fornecimento de energia em dezembro de 2024, aventada pelo presidente da Eletrobras esta semana, durante uma entrevista coletiva para apresentar os lucros bilionários da empresa no primeiro trimestre de 2022, bem como a aprovação quase unânime do Tribunal de Contas da União (TCU) para a privatização da segunda maior estatal brasileira, mexem diretamente com a vida de Candiota e também da região. Aliás, os lucros da Eletrobras foram também impulsionados pelo bom desempenho da Usina candiotense.

Os ataques ao carvão mineral, que é base do desenvolvimento de Candiota há quase 70 anos, talvez sejam os mais fortes de toda a história. Aliás, o carvão mineral, que desde a Revolução Industrial na Inglaterra, em 1760, é a mola propulsora do desenvolvimento da humanidade, agora é tido e havido como o grande vilão do clima planetário.

É graças ao carvão e quem nega isso, nega a história, que conseguimos em menos de um ano desenvolver vacinas para combater a Covid-19. Não se esquiva que o carvão possui papel no desajuste climático, entretanto novas tecnologias vêm diminuindo este impacto. Além do mais, o Brasil, nem de longe contribui para esta situação. Muito pelo contrário, o nosso país usa o carvão tão somente para ajudar na regulação do sistema elétrico e ter uma energia firme e que não dependa de fatores climáticos para ser acionada.

Um eventual fechamento da Fase C, sem qualquer tipo de compensação, será um desastre econômico e social para região. Qual atividade cria 5 mil empregos assim do dia para noite? E é exatamente isso que está em jogo. O governo federal não poderá ser irresponsável a tal ponto e deixar que uma cidade e parte de uma região inteira, que sofrem com o subdesenvolvimento, sucumba, sem ao menos darem uma alternativa viável e que tenha resultados imediatos. O fechamento das Fases A e B tiveram impacto, porém foram amenizados com a Fase C, que já estava em funcionamento e com a UTE Pampa Sul, que na época estava em construção. Entretanto, fechar a Fase C com apenas 14 anos desde a sua inauguração, sem uma substituição a altura ou maior, é um tiro no coração econômico da cidade, com consequências desastrosas, que vão desde o desemprego em massa até a diminuição de investimentos em saúde e educação.

Esperamos, sinceramente, que sejam viabilizados, com leilões regionais e por fonte, no mínimo mais duas usinas térmicas a carvão por aqui (e isso tudo dentro das normativas de qualidade do ar exigidas pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente) – a Ouro Negro está pronta para isso e a Nova Seival apenas aguarda de uma decisão judicial para seguir com o processo de licenciamento ambiental, para que possamos garantir um futuro digno, sem falar na produção de fertilizantes a partir do syngás (gás extraído do carvão).

* Originalmente este conteúdo foi publicado no jornal impresso

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