OPINIÃO DO TP

EDITORIAL – Custo da água de Candiota

Os números que o prefeito de Candiota, Luiz Carlos Folador (MDB) passou para nossa reportagem na última semana revelam que o problema da água no município é bem mais complexo do que se imagina e que o TP vem pontuando há muito tempo. No recorte de agora, vamos apenas se referir a questão financeira, sabendo de tudo mais que a pauta envolve.

Segundo Folador, a Prefeitura investe mensalmente cerca de R$ 310 mil para manter o sistema em operação – são, conforme ele, R$ 150 mil em energia elétrica e R$ 160 mil em produtos químicos. Na verdade este número ainda não é definitivo porque falta o custo de pessoal, depreciação e investimentos. À seguir, em cima apenas dele, vamos fazer um exercício, com dados estimados, que obviamente não são precisos, mas que com certeza demonstram uma realidade.

Conforme dados do Setor de Arrecadação, cerca de 4.260 boletos de água, esgoto e lixo são emitidos mensalmente. Pegando apenas o valor da água (é preciso separar as taxas de esgoto e lixo, que vem no mesmo boleto) e fazendo uma média de R$ 50,00 mensais por imóvel, teríamos uma estimativa de arrecadação de R$ 213 mil por mês. Contudo, se sabe que a inadimplência beira a casa dos 70%.

Em Candiota, ainda que se entenda que o sistema não deva ser lucrativo (e não deve), parece que se está diante de um dilema, que se arrasta ao longo desses 30 anos de emancipação.

Assim, pelo nosso exercício, mesmo que 100% pagassem, Candiota teria um déficit mensal de R$ 97 mil e anual de R$ 1,1 milhão. Contudo, se levando em conta a inadimplência, a arrecadação seria de apenas R$ 64 mil (30% do total). Pegando apenas os R$ 310 mil (energia e produtos químicos), fica um déficit por mês de R$ 246 mil. Anualmente, o ‘rombo’, pois este recurso precisa sair do caixa único da Prefeitura, é de R$ 2,9 milhões (quase uma folha de pagamento do município). Ainda é preciso lembrar mais uma vez que não estão computados nestes valores, o custo de pessoal, a depreciação do sistema e os investimentos.

Tratar e distribuir água, que é vida, deve continuar sendo um dever do Estado (no caso da Prefeitura), mesmo que haja uma vertente defendendo a privatização. Em Candiota, ainda que se entenda que o sistema não deva ser lucrativo (e não deve), parece que se está diante de um dilema, que se arrasta ao longo desses 30 anos de emancipação. Vendo os números (que não são de agora e que são apenas da parte financeira e não totais), obviamente vai se concluir que o problema é mesmo de monta e que demanda uma intervenção profunda, especialmente na forma de gerenciamento.

Se entende que a solução é difícil e vender facilidades neste caso é um erro. A sociedade como um todo, estimulada pelo poder público local, precisa encarar esse debate e definir um horizonte, que seja de continuidade, feito por etapas, abrangente, técnica e economicamente viável, e que cada um assuma a sua parte neste complicado processo. Se não for assim, como já dito, é como enxugar gelo.

* Com alterações em relação ao jornal impresso, onde foi originalmente publicado

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