Referência no desenvolvimento de tecnologias e conhecimentos para a bovinocultura de corte e de leite e ovinocultura, assim como para sistemas que integram pecuária e agricultura, a Embrapa Pecuária Sul completou, no último sábado (13), 45 anos de trabalho de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PDI) nos campos sul-brasileiros, englobando sua atuação nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
Localizada em Bagé, na região da Campanha gaúcha, a Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária renova por mais um ano o compromisso com a sociedade de trabalhar a ciência visando a sustentabilidade dos sistemas produtivos e a qualidade dos seus produtos finais. Conforme o chefe-geral da Embrapa Pecuária Sul, Daniel Montardo, o atual cenário coloca a empresa, cada vez mais, como partícipe do trabalho e discussão da pecuária dentro de grandes temas como clima, ambiente, saúde humana e bem-estar animal.
“O agro no mundo todo vive um grande dilema, que é atender a demanda por alimentos saudáveis e nutritivos e, ao mesmo tempo, garantir a conservação dos ambientes de produção. Nós, na Embrapa, dispomos de dados técnicos e científicos que comprovam que a pecuária, com pastagens bem manejadas, pode prestar importantes serviços ambientais, como o sequestro de carbono. O leite e a carne têm elementos essenciais à saúde humana, inclusive nossas pesquisas comprovam que a carne oriunda de sistemas pastoris apresenta altos teores de ômega 3. Somado a isso, a pecuária desenvolvida nos campos Sul-brasileiros, e que vem contando com grande contribuição científica da Embrapa Pecuária Sul ao longo de 45 anos, pode ser feita com a preservação dos biomas e com a garantia de excelentes condições de bem-estar aos animais. Ou seja, já temos algumas respostas a muitos desses questionamentos contemporâneos. Temos que aprofundar os debates e as pesquisas para que os bons modelos pecuários se propaguem”, destacou Montardo.
Realidade consolidada na região, a diversificação da produção também é foco do olhar da unidade. “Buscamos antever os cenários e desafios, para que a pecuária entre nesse contexto de forma integrada e eficiente, pois apesar de ainda estar fortemente baseada no campo nativo, que é um diferencial da nossa produção pecuária, vemos nossa região diversificando a matriz produtiva, com a fruticultura, vitivinicultura, oliveiras e lavouras de soja, além do arroz. Temos uma equipe multidisciplinar, muito capacitada e dedicada para encontrar as melhores soluções aos produtores e construir uma pecuária competitiva e duradoura”, diz o chefe-geral.
Conforme Montardo, a partir desse cenário, a agenda de PDI da unidade cada vez mais se voltará para modelos de produção pautados pela capacidade de garantir, ao mesmo tempo, sustentabilidade no uso dos recursos naturais, rentabilidade e saudabilidade dos produtos. “Já temos trabalhado nesse sentido, e buscaremos intensificar a parceria com o setor produtivo, buscando disponibilizar tecnologias com ampla adoção por parte dos produtores e, possibilitando, assim, benefícios para toda a sociedade”, completou.
CONTRIBUIÇÕES PARA O SETOR PRODUTIVO – Nessas mais de quatro décadas, o Centro de Pesquisa tem buscado acompanhar de perto as necessidades do setor produtivo, no intuito de atender às demandas dos diferentes setores envolvidos com a pecuária. Fundada no município de Bagé , em 13 de junho de 1975, a unidade de pesquisa da Embrapa se destaca por contribuir para o fortalecimento da pecuária nos campos Sul-brasileiros, bem como para o aumento da competividade e sustentabilidade do setor pecuário.
A Embrapa acompanhou as mudanças ocorridas na região, buscando focar em projetos de pesquisa e inovação alinhados com os maiores problemas da pecuária do Sul do Brasil. “Podemos citar como foco prioritário hoje, por exemplo, o controle do carrapato, da Tristeza Parasitária Bovina (TPB), de plantas daninhas como o capim-annoni e a oferta de cultivares adaptadas para a cadeia forrageira do Sul do Brasil. Também focamos no uso dessas cultivares e sua aplicação nos sistemas pecuários, incluindo a reorganização da produção e da oferta de sementes de qualidade”, destaca Montardo.
Na área de sanidade, um trabalho expoente da unidade e parceiros usou a genômica para seleção de linhagens de bovinos mais resistentes ao carrapato, tecnologia que vem possibilitando avanços no combate ao parasita e a TPB. Também entram nessa linha tecnologias como o Serviço de Predições Genômicas, que permite ao produtor a avaliação de seu rebanho quanto à resistência ao carrapato, e o Índice Bioeconômico de Carcaças, que identifica touros capazes de gerar descendentes que produzam carne de alta qualidade.
Em relação ao controle de plantas daninhas, o Método Integrado de Recuperação de Pastagens (Mirapasto) é uma tecnologia desenvolvida pela Unidade e que permite recuperar áreas degradadas com invasoras como o capim-annoni. Com o método, é possível alcançar índices de produtividade de 500 kg/ha/ano de carne, bem superior à variação entre 44 e 78 kg/ha/ano observada em áreas com alta taxa de infestação.
Também se destacam outras tecnologias que visam a uma pecuária mais competitiva e sustentável, como trabalhos de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), o desenvolvimento territorial em apoio à pecuária familiar e o esforço institucional para agregar valor aos produtos diferenciados de origem animal produzidos nos campos Sul-brasileiros. Na área de pesquisa-desenvolvimento se destaca o projeto Rede Leite, realizado no noroeste do Rio Grande do Sul, junto a produtores de leite, e o arranjo produtivo local de ovinocultores no Alto Camaquã, que tem elevado a produtividade e a qualidade de vida de agricultores familiares, assim como o apoio ao arranjo produtivo local do leite de Sant’anna do Livramento, e a coordenação, em parceria com a Embrapa Clima Temperado, do programa Balde Cheio no RS.
Também se destaca o esforço da Unidade e parceiros para o fortalecimento da cadeia de ovinos no Sul do Brasil, com o desenvolvimento de novos produtos feitos com carne ovina, como bacon e presunto, por exemplo, além do trabalho com os genes Booroola e Vacaria – tecnologias que possibilitam o aumento do número de cordeiros nascidos por parto.
Outras contribuições importantes da unidade são: o Polo de Excelência em Genética Taurina (Pologen); a Rede de Pesquisa Pecuária Sustentável (Pecus), que vem informando sobre a emissão de gases de efeito estufa e sequestro de carbono na pecuária de corte do Rio Grande do Sul; o Programa Boas Práticas Agropecuárias em Bovinocultura de Corte, desenvolvido em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar); as Provas de Avaliação a Campo de Reprodutores (PAC), realizadas junto às associações de raça de bovinos de corte; as pesquisas com a biodiversidade dos campos Sul-brasileiros; e o Observatório da Pecuária de Corte, parceria com o Nespro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que busca analisar informações da cadeia e projetar cenários para a pecuária de corte do Estado.