Fake news e desinformação – mais do mesmo…

*Adoniran Lemos Almeida Filho

O escritor português José de Souza Saramago, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1998, fez sábia advertência:

“O drama não é que as pes­soas tenham opiniões, mas sim que as tenham sem saber do que falam”.

De fato, não poderia haver lição mais atual. Princi­palmente em um momento his­tórico onde os especialistas do “conhecimento instantâneo” vagam pelo mundo sem limite das redes sociais, se movimen­tando com agilidade impressio­nante e tecendo teses sobre assuntos os mais variados.

E o que é pior: FORMANDO OPINIÃO. Quase como uma espécie de pássaros em bando seguindo suas rotas migratórias, em busca de alimento.

Veja, querido leitor e querida leitora, que se pegarmos um recorte apenas dos últimos trinta dias as redes sociais já nos brindam com demonstrações de “conhecimento mágico instantâneo” sobre assuntos os mais heterodoxos possíveis, que vão desde o modo de funcionamento do intrincado e quase inexpugnável sistema de eleição presidencial norte­-americano (que nem os próprios americanos parecem saber explicar direito como funciona, mas que os “especialistas de rede social” conhecem muito bem, e a fundo); passando pela confiabilidade das urnas eletrônicas brasileiras; trespassan­do pela natureza das deliberações dos órgãos técnicos que têm a missão técnica de avaliar e aprovar testes de vacinas; resvalando na certeza rápida e pouco refletida da motivação de homicídio ocorrido em supermercado de Porto Alegre; até chegar em uma pincelada definitiva sobre a causa moral da morte de Don Diego Maradona, falecido ontem para tristeza de todos nós apaixonados pelo futebol.

Mas afinal, então, quer dizer que ter opinião não é bom?

Ter opinião é ÓTIMO.

Mais do que isso, é NECESSÁRIO.

Mas requer responsabilidade, pois o direito individual de livre manifestação do pensamento não é absoluto, como aliás nenhum direito o é. Além dos naturais limites da ética e da boa-fé (a livre manifestação do pensamento, obviamente, não é ferramenta para agredir ou ofender) também encontra um limite maior, no DIREITO COLETIVO À CORRETA IN­FORMAÇÃO.

Opinião expressada com conteúdo e com conheci­mento, essa sim é ótima e necessária, pois alia o exercício individual do direito de livre manifestação ao interesse maior (de todos) de acesso, não a qualquer tipo de informação, por vezes leviana, mas de acesso a INFORMAÇÕES CORRETAS, aquelas que ajudam a construir um mundo melhor.

Qualquer coisa fora disso corre o risco de, mesmo sem querer e com a melhor das intenções, fazer com que você – eu, e todos nós – sirvamos apenas de instrumento para disseminar mais ainda as famigeradas fake news.

Lembro que quando comecei o meu Estágio de Direito, ainda no ano de 1993, a minha querida Chefa – pessoa inteligente, generosa, humilde e de conhecimento ímpar – me fez uma pergunta sobre um processo e eu comecei a minha res­posta do seguinte modo: “Eu acho que…”. Ela me interrompeu e disse, de forma polida: “Quem acha não sabe; a chance de quem ‘acha’ estar certo é a mesma de estar errado. Procura a resposta e depois volta aqui para conversarmos de novo. Não importa se vai estar certa ou errada a tua resposta mas me traz uma opinião embasada em conhecimento pesquisado; não em ‘achismo’”.

Lição maravilhosa, que vejo hoje quase como a de um José Saramago…

Boa semana e até a próxima!

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