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Família conta ao TP os momentos de terror durante latrocínio em Candiota

Ação dos bandidos durou apenas três minutos

 

Esta foi a última imagem de Deivid em vida, feira durante a manhã do dia 20, durante o desfile farroupilha

Esta foi a última imagem de Deivid em vida, feita na manhã do dia 20, durante o desfile farroupilha Foto: Arquivo Familiar TP

A família Brião Borba está inconsolável e ainda muito assustada. E não é para menos. No meio da tarde da última terça-feira, no feriado de 20 de setembro, a casa onde moram, no centro de Candiota, foi atacada por assaltantes, quando acabaram matando o filho mais velho do casal Neri e Laura. Deivid Brião Borba, de 34 anos, morreu no seu quarto, com um tiro no peito (a perícia ainda investiga o calibre da arma).

No início da tarde desta sexta-feira, 23, o TP esteve conversando com os pais de Deivid à pedido deles, sobre o que viveram em cada um daqueles momentos de terror. “Foram três minutos, que vão durar a minha vida inteira”, disse dona Laura, ao lembrar em prantos o tempo que durou a ação dos assaltantes.

Na oportunidade, com exclusividade, o casal contou e mostrou como tudo aconteceu naqueles instantes de pavor. A conversa com o jornal aconteceu na casa onde tudo aconteceu. O casal preferiu não se deixar fotografar, até por uma questão de segurança.

Segundo seu Neri, pela manhã, a família toda, inclusive Deivid, havia assistido o desfile do Dia do Gaúcho na avenida 24 de Março. Deivid foi almoçar com um amigo de infância e voltou para casa descansar um pouco antes de retornar à praça central para participar dos festejos farroupilhas, que mais tarde foram cancelados pela prefeitura em função de sua morte.

Por volta das 15h30, o interfone da casa tocou. De forma quase que automática, dona Laura apertou o botão que destrava a porta de entrada, que fica no térreo. Ela achou que fosse o neto de 14 anos (filho de Deivid), que havia recém saído. “Ele sempre esquece alguma coisa e vive entrando e saindo de casa”, conta ela.

Não era o neto e sim os assaltantes. Seu Neri, que estava tirando uma sesta, levantou e foi o primeiro a ser rendido por um deles, que anunciou o assalto logo no hall de entrada da enorme casa, que possui vários cômodos e fica no piso superior de uma loja de móveis. “Ele disse não te mexe, que senão eu te apago e mandou eu deitar no chão”, conta ele.

Dona Laura, neste momento, pediu socorro e também que eles não atirassem em ninguém. Um segundo assaltante subiu as escadas e adentrou a casa, indo direto para a sala e foi neste momento que houve o disparo que matou Deivid. Conforme seu Neri, o bandido estava próximo ao seu cunhado (tio de Deivid). O seu filho estava no quarto, junto com seu netinho de apenas um ano e cinco meses e a esposa. “O meu cunhado conta que viu quando a arma foi engatilhada e tentou afastá-la da mão do assaltante. Não houve qualquer tipo de reação de Deivid. Ele apenas saiu do quarto, após escutar a confusão e recebeu o tiro. Ele conseguiu voltar até o quarto, deixando um rastro de sangue pela sala”, conta o pai em tom de muita consternação.

A esposa de Deivid, Flávia Viviane Pereira, diz que as coisas estão sendo muito difíceis por estes dias. Ela conta que o marido não abriu a boca durante o episódio. “Nós já estávamos acordados e o Deivid havia combinado há pouco por telefone de ir a praça com os amigos. Ele saiu do quarto, levou o tiro e voltou. Chegou a pegar a mão do nosso bebê, mas caiu e morreu no meu colo”, lembra ela.

O crime aconteceu na tarde do feriado de terça-feira, 20

O crime aconteceu na tarde do feriado de terça-feira, 20 Foto: J.André TP

Durante a ação, segundo a família, três assaltantes entraram na casa. Nenhum deles estava encapuzado. Um rendeu seu Neri e dona Laura e outro atirou em Deivid. Um terceiro ficou na escada que dá acesso a casa e um quarto estava no carro. Além dos pais de Deivid, ele, a esposa, o bebê e o tio, ainda estava na casa durante o assalto, um estrangeiro (chinês), que aluga um quarto da família. “Depois que houve o disparo, eles saíram correndo e o que atirou disse que havia sujado”, recorda seu Neri.

Em relação as armas que portavam os assaltantes, seu Neri e dona Laura dizem não terem visto facas ou adaga, conforme chegou a ser divulgado.

NADA LEVARAM – Pela ação rápida, os assaltantes não levaram nada de material da casa. Seu Neri diz não entender porque escolheram a sua casa para roubar, lembrando que não possui nenhuma inimizade. “Tenho um cofre, mas só tem documentos lá. O dinheiro que tenho em casa é só para as despesas diárias. Podiam levar tudo que quisessem. Podiam até ter me matado, mas não o meu filho”, lamenta ele.

SEGURANÇA – Aposentado das Minas do Camaquã, de Caçapava do Sul, seu Neri e dona Laura vieram para Candiota há cerca de 15 anos em busca de tranquilidade e oportunidade de trabalho e estudos para os filhos Deivid, Betânia e Bárbara. Durante todo esse tempo, eles tiveram isso, porém tudo se acabou na tarde da última terça-feira. “Eu espero que nossas autoridades nos deem segurança. O governador colocou a Força Nacional em Porto Alegre, mas nas cidades do interior nada. Somos prisioneiros dos bandidos. Quem está no presídio somos nós”, desabafou ele.

O casal ainda não decidiu se seguirá morando em Candiota. “Vai ser difícil ficar aqui”, analisa, entretanto fez questão de agradecer a comunidade local. “Não tenho palavras para agradecer Candiota pelo carinho que estamos recebendo, assim como da comunidade de Caçapava do Sul”.

O MOLEQUE – Ajustador mecânico, soldador e mecânico industrial, Deivid sempre foi trabalhador e muito ligado ao tradicionalismo. Agora por último estava trabalhando na empresa Terra Fácil.

Pai de um menino de 14 anos do primeiro relacionamento e de outro de um ano e cinco meses do atual, Deivid, segundo seu Neri, era o seu companheiro de todas as horas. “Acabou a alegria da nossa casa. Ele era o nosso moleque”, disse.

INVESTIGAÇÃO – A Polícia Civil de Candiota segue investigando o caso. Até esta sexta-feira, 23, ainda não havia nenhuma novidade, pelo menos que pudesse ser tornada pública, sobre as investigações.

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