UNIÃO DE DESCENDENTES

Família Kloppenburg comemora centenário no Brasil e 13º encontro em Hulha Negra

Encontro reuniu a descendente mais nova e o mais velho durante missa

Encontro reuniu familiares de diversas cidades do Estado na Trigolândia Foto: Divulgação TP

O último domingo (10) foi especial em Hulha Negra. Na data, foi comemorado o centenário (100 anos) da chegada da Família Kloppenburg ao Brasil, vinda da Alemanha, bem como aconteceu o 13º encontro da Família Kloppenburg e seus descendentes.

O evento teve início às 10h com uma missa na Comunidade Cristo Rei, na Trigolândia, seguida por almoço no salão paroquial. Ao TP, padre Alex Kloppenburg, explicou que cerca de 150 pessoas de diversas cidades do Rio Grande do Sul como Aceguá, Bagé, Candiota, Pinheiro Machado, Hulha Negra, Campo Bom, Novo Hamburgo, Porto Alegre, Cachoeirinha, Rolante e Sapiranga participaram do encontro, sendo um momento de resgate histórico e celebração.

“Hulha Negra foi o segundo lugar que a família esteve após chegar ao Brasil em Rolante, de onde começaram a colonização alemã com outro grupo de pessoas que já residia aqui na Trigolândia, antes denominada Colônia Rio Negro. Foi uma missa de gratidão, lembrando as três palavras: memória, pelo resgate dos 100 anos; gratidão, por termos sido acolhidos, pois éramos uma família de imigrantes que chegava após uma guerra; e compromisso de continuarmos no caminho, lembrando dos nossos antepassados, não ficando somente no passado, mas vivendo o presente na construção do futuro”, disse o padre, acrescentando ter sido um encontro muito emocionante.

Um dos destaques foi durante a missa, da presença do descendente mais novo, a pequena Ísis Kloppenburg, de um ano de idade, carregada pela mãe Lilian Kloppenburg, a Lila, e do mais idoso, Henrique Macke, 91 anos.

Descendente mais nova (no colo da mãe) e mais idoso em missa conduzida pelo padre Alex Kloppenburg Foto: Divulgação TP

Residindo atualmente em Novo Hamburgo, um dos descendentes presentes foi o contabilista Luis Antônio Averbeck, que também já participou de todos os encontros realizados. Casado e pai de uma filha, é integrante da terceira geração dos Kloppenburg. A mãe era Tereza Elisabeta, filha mais nova de Bernard que nasceu no Brasil e faleceu em 2022 aos 93 anos. “Antes de falecer a mãe participava dos encontros e nos falava da importância de se fazer presente e rever os parentes, ter algum contato para não ficar tão distante. Quando a gente era criança sempre passava as férias de verão na localidade, antes pertencente à Bagé. Nesse encontro conversamos com pessoas que geralmente não conseguimos conversar devido às atividades diárias de cada um. Hoje, por exemplo, conversei com o esposo de uma parente que antes nunca havia falado, o que mostra a importância desse encontro. Recebíamos pessoas que faziam parte da família em casa em situações como estudos. Lembro de parentes que estudaram em São Leopoldo e residiram lá em casa tudo custeado pela nossa família. Esse é um exemplo que mostra como nossa mãe, principalmente, valorizava a família e nos incentiva a essa proximidade. Então os encontros são importantes para manter a união familiar apesar das diferenças, inclusive tenho mais cinco irmãos, todos vieram para o encontro e pudemos conversar, pois lá é difícil se encontrar”, relatou Luis, destacando ser um momento de “conversar e ser feliz”.

Da viagem ao Brasil a chegada nos campos do Rio Negro

Foto do passaporte da família na viagem ao Brasil Foto: Arquivo familiar/Especial TP

Franz Bernard Kloppenburg (Bernardo) nasceu em 26 de janeiro de 1882, em Oythe, Alemanha, e faleceu em Rolante, Rio Grande do Sul. Era o último dos seis filhos de Joham Heinrich (João Henrique) Kloppenburg e de Antonette Fresenborg, ambos falecidos muito cedo vitimados de tuberculose. Ele e os irmãos foram educados pela avó Maria Johanna Fresenborg nascida Wite, em Essen. Era agricultor de profissão.

Josephine Karoline Westerkamp Kloppenburg (Josefina) nasceu em 12 de janeiro de 1888, em Stukenborg (Alemanha) e faleceu também em Rolante. Era a oitava dentre os 10 filhos de Franz Westerkamp e Maria Dammann. Eram naturais da Baixa Saxônia, no noroeste da Alemanha, região de Oldenburg, não longe da Holanda (Países Baixos).

Bernard e Josephine embarcaram para o Brasil em 17 de maio de 1924, no navio Sierra Nevada. Chegaram em Rolante no dia 19 de junho, dia de Corpus Christi. Foram 33 dias de viagem, sendo de navio até o Rio de Janeiro, e depois até Porto Alegre, um trem até Taquara e dali até Rolante de carroça, puxados por mulas.

Segundo relatos históricos, a inflação e a perda de um filho foram os pontos de decisão para a família decidir deixar o país. “No dia 1º de agosto de 1914 começa a Primeira Grande Guerra Mundial, que vai terminar em 11 de novembro de 1918. Bernardo foi convocado, em fevereiro de 1916, para servir como enfermeiro, na 2ª Companhia. Estava com 34 anos. Deixou em casa a esposa grávida e quatro filhos pequenos. Em fins de agosto de 1917 recebeu autorização para rever a família e conhecer a filha Karla. Até o dia 5 de janeiro de 1919 ficou engajado no exército. No início de fevereiro conseguiu retornar ao lar, pois era prisioneiro na Rússia e conseguiu a liberdade fugindo por um lago congelado. Como resultados: perda parcial da  audição e bronquite crônica. Serviu fielmente a pátria, mas sempre repudiou a guerra. Durante a guerra, Josephine com as crianças abrigou-se na casa dos seus pais, em Stuckenborg. A Alemanha, pós guerra, vivia um período muito difícil, de inflação galopante. Em 1923 a família perdeu um filho (August) e a grande inflação foi um fator decisivo. Bernard se muniu de literatura sobre a América e com familiares do padre Jorge Anneken entrou em contato com o vigário em Rolante. Estava decidido: migrar para o Brasil, para que os seus filhos não servissem de ‘bucha de canhão’ para uma próxima guerra, que ele vislumbrava como certa”, relata um documento enviado ao TP sobre a história.

 

MIGRAÇÃO PARA A REGIÃO

Conforme a história, “o sonho de Bernardo era ter uma terra mais plana. As terras de Rolante eram muito montanhosas e tornaram-se caras. Em 1929 chegou-lhe às mãos o livro de Franz Krenziger, “Vom Urwald zum Kamp” (Da Mata Virgem rumo ao Campo), baseado na obra de Joaquim Francisco de Assis Brasil: “A Cultura dos Campos”, onde ele condenava a colonização das matas estimulada pelo governo e pregava a transformação dos campos em colônias agrícolas para produção de grãos. Krenzinger, imigrante alemão, morador em Pelotas, procurou terras planas e pretas para agricultura. Encontrou em Rio Negro (hoje Hulha Negra). Em abril de 1925, adquiriu uma área de terras, trouxe famílias de Pelotas e começou uma colônia, que batizou de Friedenau (Campo de Paz), mais tarde Colônia Rio Negro e a partir de 1957, Trigolândia. Em 1929, Francisco Kloppenburg e José Macke se mudam para Rio Negro, em busca de terra e trabalho, seguido por Guilherme (Wilhelm) Schierholt, casado com Agnes Kloppenburg. Em 4 de julho de 1932, Bernardo migrou para Rio Negro, onde comprou 58 hectares de campo bruto. Começou com o engano da Viação Férrea, que enviou a mudança para a cidade de Rio Negro, no Paraná, recebendo seus pertences um mês depois.  A primeira moradia foi um galpão rústico, de chão batido. Na década de 1950, o casal Bernardo e Josefina retornaram para Rolante, junto com a filha Teresa”.

 

OS PIONEIROS

Franz Bernard Kloppenburg, nascido em 26.01.1882; Josephine Karoline Westerkamp Kloppenburg, nascida em 12.01.1888; Franz Lambert Alfred (Francisco), nascido em 28.11.1908; Maria Elisabeth, nascida em 20.08.1910; Anna Agnes (Inês), nascida em 01.12.1911; Hermine Caroline (Karla – Ir. Manuela), nascida em 23.05.1916; Paul Johannes Joseph, nascido em 02.07.1918; Karl Joseph (Frei Boaventura), nascido em 02.11.1919; Hedwig Josephine, nascida em 22.02.1921. No Brasil, nasceram Josephine Margarida, nascida em 18.01.1926; Alma Joana, nascida em 04.05.1927 e Teresa Elisabeta, nascida em 10.11.1928.

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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