CHUVAS RS

Famílias atípicas de Rio Grande relatam como está a situação durante a enchente

Um ambiente foi criado no abrigo para as atividades Foto: Sabrina Monteiro TP

Frio, chuva e a esperança de dias melhores, essa está sendo a realidade de muitos rio-grandinos que perderam tudo,  após a água avançar em alguns bairros de Rio Grande.

No último dia 24, a reportagem do jornal esteve na cidade acompanhando a entrega de mantimentos, itens de higiene, cobertas, entre outros materiais, realizada pelo grupo candiotense “Amigos da Saúde”. É muito triste visualizar parte do cenário que é transmito em telejornais ou até mesmo nas redes sociais, mas é ainda pior enxergar com os próprios olhos a água tomando conta das ruas, ver casas cobertas  e animais tentando sobreviver no lugar que até poucos dias era campo.

Durante o caminho de Candiota até a cidade, a chuva não deu trégua, e assim permaneceu durante aquele dia inteiro.  No espaço que orienta e dá suporte a famílias especiais, muitas pessoas começaram a chegar na esperança de encontrar uma roupa que ficaria boa nos filhos, nos pais ou no companheiro que ficou em casa tentando salvar o lar construído para uma vida toda. Durante o dia, muitos reencontros foram presenciados, e a frase que mais se ouvia era “eu perdi tudo, esperei a água baixar para poder vir aqui pegar alguma coisa.”

 

RELATOS

 

Entre os relatos, a história da mãe de seis filhos, sendo um deles especial, Indaya Santos, chamou a atenção.

Moradora do bairro Navegantes, que fica muito próximo da água, ela disse que a região foi uma das mais afetadas. “Eu perdi tudo, estou com o meu emocional muito abalado, e muitas vezes as pessoas não acreditam que estamos nesta situação. Eu moro na beira da praia, fazer o que, era o lugar que eu tinha pra morar. Eu saí de casa com meus filhos e marido no dia 9 de maio, e desde então estamos morando em uma peça que foi emprestada. Eu perdi tudo, e estou doente, sorte que os médicos me atenderam agora aqui. É muito complicado, o meu esposo também ajudou o pessoal de lá,  e ainda tem lugares bem piores, sem comparação”, relatou ela, que também mencionou que está com problema para receber, pois o banco está fechado e por algumas questões ela precisa de atendimento.

“Eu mostro o aviso que colocaram, mas muitas pessoas não entendem. A gente tem conta para pagar, e eu não sei mais o que fazer. Claro que eu não posso reclamar, porque nós estamos com vida, estamos todos bem”, disse ela, que das suas coisas só conseguiu salvar dois colchões,  algumas mantas e as roupas dos filhos. “Pra mim eu não peguei quase nada, nessas horas sempre pensamos primeiro nas crianças. O que eu peguei está molhado, não para de chover e eu sou grande, é difícil achar roupa”, lamentou. No frio que estava fazendo, Indaya estava vestindo casaco, bermuda e chinelo.

Já a mãe Márcia Ferreira Viana, que estava com o filho Kaio Matheus Silva, 5 anos, que também é especial, contou que no bairro Santa Rosa onde residem,  a água ainda não havia invadido as casas,  mas as ruas já estavam alagadas. “A situação da nossa região está bem precária. Hoje viemos renovar as receitas e pegar umas doações”, falou.

 

ABRIGO

 

Outro local visitado pela reportagem do TP, foi um abrigo responsável por acolher apenas famílias especiais. Ele foi ativado no começou do mês de maio, e fica localizado no bairro Municipal. Segundo a coordenadora municipal dos Direitos das Pessoas com Deficiência, Cibele Rocha, ela e outras pessoas responsáveis pelo abrigo estão passando 24 horas no local, desde a sua abertura.

Sobre acolher apenas famílias especiais, ela disse que esse foi um modo que acharam para fazer com que as pessoas, especialmente autistas, pudessem ficar um pouco menos deslocadas de sua rotina e do seu lar. Durante a conversa, ela explicou que mesmo recebendo um grupo selecionado, eles nunca deixam ninguém desabrigado. “Se chega uma família que foi resgatada pela Defesa Civil, principalmente na parte da noite, nós acolhemos, oferecemos banho, comida e uma cama quentinha e apenas no dia seguinte que entramos em contato com outros abrigos para realocá-los”, informou.

Durante a visita, um casal de idosos estava indo embora do abrigo e a emoção tomou conta do espaço. “É sempre assim, eles não querem ir embora e nem nós queremos isso. Mas a rotina precisa voltar ao normal, muitas vezes a casa deles já foi liberada ou eles vão ficar com algum familiar. Mas estamos convivendo há muitos dias, e eles sempre deixam um pouquinho deles com a gente, se tornam a nossa família”, comentou ela, muito emocionada.

No espaço improvisado, também foi criado um ambiente para as crianças realizarem suas atividades durante o dia, desenhar, colorir e receber atendimentos. Uma intérprete de Libras também fica acompanhando as pessoas, mas no momento só havia uma mulher  precisando da ajuda para a comunicação com os demais.

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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