Homenagem à Tito Costa

Don Antonio Machado escreveu, em poema datado do século XIX, a seguinte frase – que para mim sempre foi marcante: “caminante no hay camino se hace camino al andar”. E o que é a vida, senão caminho? O que seríamos nós, não fosse o caminho que criamos, estabelecemos e percorremos? Seríamos nada. E o que importa, no fim das contas, é o que fazemos no meio desse trajeto, desde que neste Mundo caímos (ou fomos jogados), no meio que existe entre início e entre fim. Penso eu, ao menos. Falando, então, sobre vida e andança, é que a coluna de hoje vem em tom de homenagem.

Faleceu na última sexta-feira Antônio Tito Costa. A seguir um breve histórico de quem se trata: se formou em Direito na Faculdade do Largo São Francisco da USP e atuou como advogado até 1976, quando se elegeu vereador em Torrinha (SP), sua cidade natal. No mesmo ano, venceu as eleições para prefeito de São Bernardo do Campo.Protegeu os trabalhadores dos movimentos grevistas no ABC, atos que foram decisivos no processo de redemocratização do país e contestação da ditadura militar. Em 1986, foi eleito deputado constituinte, e nos anos 1990 novamente como vice-prefeito de São Bernardo do Campo.Tito, como escreveu a Professora Vânia Aieta, Coordenadora Geral da ABRADEP, nunca deixou os movimentos políticos da cidade e se consolidou como um dos maiores especialistas do Brasil no Direito Eleitoral, autor de livros pioneiros que até hoje embasam decisões. Foi o primeiro advogado do país a receber a Ordem do Mérito do Tribunal Superior Eleitoral Assis Brasil em seu grau maior, o de Grã-Cruz.

Mas, mais do que isso. Mais e bem mais. Tito Costa, para quem não sabe, é o patriarca dos eleitoralistas brasileiros, dentre os quais me incluo na condição de advogado e professor. Sou discípulo dele. Assim como os demais. E a Tito devemos esse reconhecimento, o mesmo reconhecimento que, felizmente, foi feito em vida.

Tive o prazer de conhece-lo pessoalmente em dezembro de 2017, no Rio de Janeiro, uma das minhas “segundas casas” – essa relação entre Rio Grande e Rio de Janeiro é antiga já, tradicional. Na ocasião, com muita alegria e desejo de homenagear esse gigante do Direito Eleitoral, a Comissão de Direito Eleitoral da OAB-RJ, a Escola Superior de Direito Eleitoral da UERJ, da qual sou professor e parecerista, e a ABRADEP, da qual sou Coordenador Institucional, organizaram um congresso e uma linda festa no Rio para homenageá-lo. A Academia participou, também, da organização do livro “Temas de Direito Eleitoral em Homenagem ao Centenário do Professor Doutor Tito Costa”. E em 2022, quando completou 100 anos de idade, Tito Costa foi o convidado de honra no lançamento do projeto “Memória do Direito Eleitoral Brasileiro – História Audiovisual” da mesma ABRADEP. Estive lá. E foi emocionante!

Apertamos as mãos. Trocamos um abraço fraterno. Tiramos uma foto. Sentamos à mesa. Bebemos um pouco. Apreciamos um belo jantar. Trocamos contatos e livros. E tivemos, sobretudo para mim, um papo rico, denso, profundo. Um aprendizado ímpar para este que vos escreve. Nunca esquecerei aquele momento, no Castelo de Santa Tereza, recepcionados carinhosamente pela madrinha Vânia.

Tito cumpriu a sua missão. E jamais será esquecido.

Encerro. E, ao encerrar, trago aqui a nota de pesar publicada sob os auspícios da já referida ABRADEP: “Estamos todos de luto. Tito foi Professor de todos nós. De todos os eleitoralistas. Um guerreiro da Democracia. Um dos grandes homens desse país. Nos deixa um legado, um exemplo. E muita saudade. Viva Tito Costa! Presente! Sempre! Em nossas memórias e nossos corações”.

Obrigado, Dr. Tito. No que depender de quem aqui escreve, teu nome sempre será lembrado. Até!

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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