VALORIZAÇÃO DO CAMPO

Jovem assentada de Hulha Negra se forma em agronomia com festa realizada na própria comunidade

Jovem afirma que conexão com a vida no campo foi o que a levou a escolher a profissão

Ligada a lida no campo, hulhanegrense se formou em agronomia no dia 3 de fevereiro Foto: Marcos Antônio Corbari/Especial TP

O dia 3 de fevereiro permanecerá para sempre como uma data especial para a jovem Andriessa Girotto, 28 anos, natural de Hulha Negra, residente no assentamento Boa Amizade. Nesta data, ela colou grau em agronomia, pela faculdade Ideau.

Filha de Celso e Rosane Girotto, os pequenos agricultores são naturais de Palmeira das Missões, mas estão há 30 anos assentados em Hulha Negra. Andriessa ainda possui mais duas irmãs, a mais velha Patrícia, formada em Educação Física, e Fernanda, formada em Licenciatura em Matemática, além de um irmão mais novo, João Miguel, que cursa Ensino Médio.

A jovem nasceu e se criou no campo e segundo ela contou a reportagem do Tribuna do Pampa, sempre teve uma forte conexão com o interior e pretende levar ao longo da vida essa proximidade. Andriessa iniciou a faculdade de agronomia no início de 2019 e a conclusão dos estudos acadêmicos ocorreu no fim de 2023, ficando a colação de grau e festa para o mês de fevereiro. Ela contou ao jornal que morou duas vezes na cidade, mas que sempre retornou ao campo. “Sempre trabalhamos na lavoura e sempre tive essa ligação. Mesmo não sendo fácil sempre tive muita conexão com o campo, gostei da lida do campo, da lavoura”, afirmou.

 

O CURSO E A ROTINA

Questionada sobre a rotina residindo no interior e estudando em Bagé, segundo a agora agrônoma, as aulas eram à noite e ela viajava para Bagé diariamente, na maioria das vezes sozinha e outras com algum conhecido. Ela lembrou ter passado pelo período da Covid-19. “Peguei o período da pandemia de Covid-19, tivemos aulas à distância e quando era possível fazíamos esforço para nos reunirmos com os colegas. Quando retomaram as aulas presenciais comecei a fazer o trajeto diariamente. Saia às 18h aqui de fora para chegar as 19h30 em Bagé, retornava em torno de 23h30. Sempre foi dificultoso pela distância, estradas em condições ruins, mas sempre tive apoio da minha família e amigos”.

Andriessa assumiu ser difícil morar no interior e sair para estudar em outra cidade, mas que tudo é possível e vale à pena. “É distância, transporte, mas não é impossível, tem que querer, persistir. Durante dois anos trabalhava em turno integral no mercado, na sede da Hulha Negra, depois ia para a faculdade, era uma jornada corrida, mas que não me impediu em nada de concluir o curso e chegar até a formatura”, destacou.

Atualmente, a formanda contou ao jornal que trabalha no Instituto Cultural Padre Josimo. “Hoje me encontro residindo no interior, ainda não estou trabalhando na minha área, mas meus planos é trabalhar na região, gostaria muito de ficar por aqui apesar de estar aberta a novas oportunidades e desafios”.

 

FESTA NO ASSENTAMENTO

Andriessa com os pais Celso e Rosane Girotto Foto: Marcos Antônio Corbari/Especial TP

A colação de grau de Andriessa aconteceu no Clube Cantegril, em Bagé e a festa foi realizada no salão da comunidade onde ela reside, a Boa Amizade. Sobre realizar a festa no interior, ela disse que não teria sentido fazer em outro local. “Minha vida gira em torno da comunidade onde nasci e me criei no assentamento e a maioria dos meus amigos também reside nesta localidade. Organizei algo mais tarde em razão da distância, pois tinha que vir de Bagé. Deu tudo certo, foi maravilhoso, tive uma recepção calorosa, amorosa”, finalizou.

 

SENTIMENTO FAMILIAR

Andriessa comemorou a conquista principalmente junto a família Foto: Marcos Antônio Corbari/Especial TP

Ao jornal, a mãe de Andriessa, Rosane Girotto, relembrou o tempo de estudo da filha e falou da emoção de vivenciar este momento. “Quando a Andriessa chegou e disse que ia fazer agronomia foi um choro só, porque ela é uma menina muito desenvolvida no serviço, na lavoura, atravessa meio saco de produto na moto e leva, quando plantávamos feijão também. Ela já ajudava na lavoura com sete anos, carregava caixa de melão. Com ela o serviço é pra ontem, não pra amanhã. Mesmo estudando fora, aos finais de semana ela sempre ajudava a plantar, colher manual. Ela só ainda não sabe colher de colheitadeira. Também sempre ajudou nas tarefas domésticas. Como mãe foi uma vitória ela estudar e não desistir nunca, nem com chuva ou frio. Eu e meu esposo não temos estudo e ver um filho formado é um sentimento muito bom, é uma continuação do que já fizemos, na lavoura, alimentação, vida. Foi muita emoção no dia da formatura. Nesses cinco anos de estudo da Andriessa, as pessoas davam os parabéns pra ela e pra nós. Uma pessoa até nos disse que nós não tínhamos estudado e que só ela tinha que ganhar parabéns, mas por traz de uma filha estudando, indo e vindo para a faculdade, há uma grande mãe e grande pai, uma grande família”, manifestou.

 

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