MÊS DE CONSCIENTIZAÇÃO

Mães candiotenses falam sobre a rotina com os filhos autistas

Elas participaram de uma roda de conversa sobre o tema na sede do município

Roda de conversa contou com a participação de pais, responsáveis e funcionários Foto: Sabrina Monteiro TP

Na terça-feira (2), a Prefeitura de Candiota por meio da Secretaria de Saúde organizou uma roda de conversa alusiva ao Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo no Centro de Saúde Mental, localizado na sede do município. Além da palestra, pais e responsáveis puderam adquirir a carteirinha municipal de identificação do autista.

Após a palestra ministrada pela psicóloga do Caminho da Luz, Melina Gomes, com o tema – conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), o secretário de Saúde, Fabrício Moraes falou principalmente sobre a importância da carteira de identificação no sentido de evitar o preconceito das pessoas em locais públicos e em filas de supermercado e lojas. “Muitas vezes as pessoas não sabem que aquela criança é autista, e pode achar que a criança é sem limites ou mal educada, e com a carteirinha todos já vão saber o motivo de estar em uma fila prioritária, por exemplo”, explicou, ressaltando que assim que a família receber o diagnóstico, já pode procurar a Secretaria para emitir a identificação que fica pronta na mesma hora.  “Isso é muito para evitar o preconceito da comunidade, pois muitas vezes os pais já passam uma barra em casa para dar o tratamento necessário, e por ficar esperando em uma fila de mercado em razão do preconceito, pode colocar uma terapia toda fora”.

 

A ROTINA DIÁRIA

 

Durante a atividade, as mães Marciele Dávila e Iemanjara Ávila, falaram sobre o diagnóstico dos filhos e da rotina diária com eles.

Mãe de Pedro de Oliveira Dávila, 8 anos, Marcieli disse que o filho recebeu o diagnóstico de TEA quando tinha apenas 1 ano e 7 meses de vida. Com a notícia, os pais procuraram atendimento de Centro de Reabilitação e Apoio (CRA) em Candiota, e no Caminho da Luz em Bagé, ambos simultaneamente. “O Pedro ficou no CRA até completar 6 anos, depois seguimos apenas no Caminho da Luz, onde ele recebe acompanhamento com  a psicóloga e também de musicoterapia e hidroterapia”, informou, dizendo que o filho tem o autismo não verbal, ou seja, não consegue se comunicar com palavras.

Marciele aproveitou para fazer a carteirinha do filho Pedro Foto: Sabrina Monteiro TP

Estudando no terceiro ano do ensino fundamental, Pedro já consegue se comunicar bem, mas de forma alternativa. Além disso, a mãe contou que estão contando com o auxílio de aplicativos para melhorar a comunicação com o pequeno. Além de participar da palestra, ela aproveitou para garantir a carteirinha municipal do filho.

Em conversa com Iemanjara, mãe da pequena Ana Ágatha Ávila Oliveira, 3 anos, ela contou que a filha foi diagnosticada em 2023, mas que logo no início já percebia alguns traços do autismo. No começo, Ana não atendia quando chamada pelo nome, e Iemanjara foi alertada pela madrinha da filha a procurar ajuda de profissionais. “Comecei a comparar ela com o meu sobrinho que já havia sido diagnosticado, e então foi confirmado”, relembrou.

Com o diagnóstico de autismo nível 1, a rotina das duas é conturbada pelo fato da mãe trabalhar com dança e não conseguir manter o dia a dia regrado, o que segundo ela, acaba atrapalhando no desenvolvimento. “A terapia é muito importante para ela aceitar as mudanças na rotina, e ela faz acompanhamento na PsicoClin e ali eu tiro todas as minhas duvidas sobre ela. Cada dia é um novo desafio, uma nova dúvida”. Além do TEA, a professora  de dança compartilhou que estão estudando a Síndrome do Picacismo, que é quando a criança, o adolescente ou até mesmo o adulto, tem o desejo de mastigar algo que não seja comestível. “Ela pode comer uma fruta e daqui a pouco estar mastigando uma árvore, sem distinguir um do outro”, relatou, dizendo que a filha já teve diversos momentos assim. “Por isso que é muito importante esse acompanhamento com as equipes de saúde, porque quanto mais cedo saber se o filho tem ou não autismo, mais cedo vai conseguir ter o tratamento necessário e fazer adaptações”, ressaltou.

Ao ser questionada sobre ter passado por alguma situação desagradável, Iemanjara contou um caso que aconteceu na rua, quando a filha começou a ter uma crise e as duas foram abordadas por uma senhora. “Ela me disse que eu não poderia deixar ela fazer aquilo comigo, como se ela fosse mimada e estivesse fazendo birra. Eu tive que explicar que ela era autista e que estava passando por uma crise, e foi bem difícil. Estávamos indo para a parada de ônibus quando começou, ela tremia muito e durou uns 40 minutos. Eu fiz de tudo pra acalmar, e no fim acabei chorando por não saber mais o que fazer com ela, mas precisei insistir para conseguir. Muitas pessoas ficaram nos olhando, algumas por pena e outras apavoradas sem saber o que estava acontecendo”, relatou, dizendo que só conheceu o autismo quando foi monitora de um aluno, e contou com a ajuda da professora para saber o que fazer. “O segredo é persistir, ter amor, paciência e compreensão”, concluiu.

Iemanjara e a filha Ana com a carteirinha municipal Foto: Divulgação TP

CAPACITAÇÃO

 

Segundo Fabrício, nesta sexta-feira (5), todos os profissionais irão participar de uma capacitação na Câmara de Vereadores e Vereadoras, relembrando que o assunto não deve ser abordado apenas nesta semana que é dedicada para o autismo, mas sim o ano inteiro.

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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