Há muito que Candiota debate e se incomoda com a perturbação pública, especialmente à noite e no centro da cidade. Esse processo ganhou contornos mais dramáticos em função da pandemia da Covid-19, que já dura quase um ano.
No último fim de semana, nas palavras do secretário de Saúde de Candiota, Fabrício Moraes, o Bibi, todos os limites foram ultrapassados. A consequência foi que a Prefeitura determinou o fechamento da praça e da avenida na noite do último domingo (7). A praça Dario Lassance ganhou um cercamento com tela laranja e a avenida 24 de Março, cones impedindo a passagem de veículos.
A primeira justificativa para a medida foi a pandemia do novo coronavírus, mas também a questão da perturbação do sossego esteve no centro da pauta.
Naquele fim de semana, classificado como fora do limite, grupos de Whatsapp na cidade, como o Regulamentação de Som, que reúne mais de 80 pessoas de vários segmentos da comunidade, bateram recordes de mensagens, especialmente das pessoas reclamando da falta de controle tanto de barulho como de aglomerações na área que compreende o entorno da praça. Há até um relato de que houve uma briga, sendo que um dos envolvidos teve ferimentos graves, tendo sido internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Santa Casa de Bagé.
LIVE – Como desdobramento, além da medida de fechamento, o prefeito Luiz Carlos Folador, acompanhado do secretário de Saúde e da coordenara do Comitê de Operações de Emergência (COE), enfermeira Ariadne Meira, realizou uma transmissão ao vivo na segunda-feira (8), explicando as medidas.“Às vezes a gente tem que tomar medidas, mesmo contra a vontade, porém necessárias”, destacou Folador, que disse entender o fato da juventude querer confraternizar, mas que em alguns casos há exageros, como o som alto e a bebida alcoólica, perturbando a população.”Se a gente ficar mais de três dias sem dormir, a gente pira. O sono é necessário para restaurar a vida. Aqui no município de Candiota temos ordem, temos regras a serem cumpridas”, ressaltou.
CÂMARA – Ao longo da semana os debates foram ganhando força nas redes sociais e na comunidade, bem como o assunto já havia sido debatido na Câmara na sessão anterior e também nesta semana.
Para o presidente da Câmara, Gildo Feijó (MDB), que já havia levantado o tema anteriormente, a lei precisa ser cumprida em Candiota. Neste sentido entrou com expediente para que o Código de Posturas fosse acionado. Gildo assinalou que pessoas de outras cidades estavam vindo para Candiota nos fins de semana por nas suas a lei estava sendo rígida. “Vamos cumprir a lei. Chega! Candiota não é uma cidade sem lei”, disse.
No mesmo sentido pontuou o vereador Guilherme Barão (PDT). Ele lembrou que no ano passado foi até realizada uma audiência pública para debater a questão da perturbação, mas segundo ele, pouca coisa mudou de lá para cá. “Se a lei foi feita ela precisa ser cumprida”, observou.
O jovem vereador Léo Lopes (PTB) concordou que a legislação precisa ser cumprida, porém chamou a atenção para a criminalização da juventude. “Tem outras situações que causam aglomerações e barulho também e não são tomadas as atitudes com o mesmo ímpeto”, reclamou, defendendo que a juventude e a sociedade têm direito ao lazer e que isso é constitucional. “Nós precisamos encontrar soluções negociadas para essas situações”, defendeu.
A vereadora Hulda Alves (MDB) disse que saiu no fim de semana à noite no centro e contou sete pontos de som altíssimos no trajeto que fez. “Algo precisava ser feito. A praça de Pinheiro Machado esta há seis meses fechada. Seria bom que não precisasse tomar essas atitudes e que cada um fizesse a sua parte”, enfatizou.
Por sua vez, o vereador Ataídes da Silva (PT), disse que tem um filho que mora das proximidades da praça e que sofre com a perturbação, afirmando que muitas vezes ele já precisou chamar a polícia.“Tem que dar um jeito antes que aconteça uma tragédia”, alertou.
Por fim, a vereadora Luana Vais (PT) afirma que de fato é preciso cumprir a lei, porém pondera que é preciso encontrar alternativas para a diversão a juventude. “Precisamos fazer um debate coletivo e encontrarmos soluções”, sugeriu.
DECRETO – Nesta quinta-feira (11), também como desdobramento, Folador e o secretário Fabrício assinaram um novo decreto, o de número 4225/21, que define novas restrições tanto na questão que tange a pandemia a perturbação – esse baseado no Código de Posturas do município.
Na determinação, os bares, pubs, restaurantes e lancherias podem ficar abertos até às 2h da madrugada e claro, precisam cumprir os regramentos de higiene, distanciamento e número máximo de público por m², conforme estabelece o decreto estadual. Também o som precisa ser ambiente, sendo proibido sonorização externa nesses locais. O decreto assinala ainda, em parágrafo único, de que eventuais exceções devem ser avaliadas pela autoridade municipal.
No mesmo decreto, em seu artigo 2º, fica estabelecido o impedimento de acesso a praça central e o fechamento da avenida 24 de Março a partir das 0h (meia noite). Anteriormente essa medida valeria apenas para às sextas, sábados e domingos, mas agora o decreto regulamenta que é diariamente.
Por fim, a nova determinação prevê que fica proibido a utilização em veículo de qualquer espécie, de equipamento de som audível do lado externo, independentemente do volume ou frequência, que perturbe o sossego público nas vias terrestres abertas à circulação.
DONOS DE BARES – Também na quinta, o prefeito, o secretário e a equipe do Setor de Vigilância Sanitária, se reuniram com comerciantes de bares e afins para conversarem sobre as novas medidas. Segundo Bibi, a Secretaria de Saúde escutou a população e tomou as atitudes necessárias no último fim de semana e agora chamou os comerciantes para um diálogo. “A intenção é atender a solicitação da comunidade e também atender as demandas dos comerciantes, de maneira que não tenhamos problemas e não venhamos ter prejuízos nem pra comunidade, nem para os comerciantes e nem para o enfrentamento à pandemia”, afirmou.
O proprietário do bar Império das Bebidas, Magnom Morais, que procurou o TP durante a semana, se defendeu dizendo que não são os bares que provocam aglomerações e perturbações. “Dentro do meu estabelecimento não há aglomeração de pessoas. As mesas ficam fora da loja, ao ar livre, com distanciamento. Não podemos nos responsabilizar com as aglomerações na rua, pois ela é pública, e muito menos com as brigas, até porque esse dever é do poder público”, disse, ao discordar da determinação do fechamento da avenida. “Isso prejudica a todos nós que temos comércio nesse local. Aonde vão estacionar nossos clientes? A rua é pública e não podemos tirar o direito do outro de ir e vir”, disse.