AONDE ELAS QUISEREM

“Mesmo que as mulheres ganhem seu espaço de trabalho, os cargos mais altos são de homens”, diz a engenheira Glaucea Pereira

Glaucea tem 32 anos e mora na localidade de Seival Foto: Divulgação TP

Dando continuidade na série de matérias sobre mulheres que assumiram cargos elencados como masculinos, nesta edição você irá conhecer um pouco da história da candiotense Glaucea Pereira, 32 anos, engenheira civil e que atualmente é a responsável pela obra de reforma do Tribunal de Justiça em Bagé.

No início da conversa, Glaucea foi bem sincera ao falar que escolheu a profissão pela melhor possibilidade no mercado de trabalho e também pela boa remuneração salarial. Formada pela Universidade da Região da Campanha (Urcamp), ela contou que no dia de realizar a matrícula, sua mãe perguntou se realmente tinha certeza sobre a engenharia, pois não era muito boa em cálculo. “Mais uma vez respondi que sim, pois era a melhor remuneração”, relembrou.

Após formada, o primeiro trabalho dela foi na empresa CLT, um grupo de portugueses e espanhóis que veio para o Brasil na construção da usina Pampa Sul, em Seival. Ela conheceu a equipe na construção da barragem Jaguarão, quando trabalhou como assistente de engenharia.

 

TESTES E PRECONCEITOS

 

Ao ser questionada se já sofreu preconceitos durante as obras que trabalhou, a profissional afirmou que sim, principalmente por homens que não aceitam receber ordem e ter como chefe uma mulher. “Uma vez fui contrata para trabalhar com planejamento, usando um programa chamado MS Project. Essa ferramenta tinha como objetivo determinar tempo para cada atividade, sendo assim cheguei na obra e expliquei como iria funcionar e que eu iria medir, por exemplo, quantos metros quadrados de cerâmica seriam executados por dia e assim estimar o prazo restante para finalizar a atividade. Teve um dos homens que não gostou, juntou todos os pertences e disse que não iria ser mandado por mulher na obra dele”, comentou, destacando que depois de formada sempre recebeu olhares de preconceito, principalmente por ter escolhido trabalhar no canteiro de obra e por ser gerente desde a sua formação.

Além disso, ela disse que sempre é testada por homens ao longo das obras, recebe questionamentos para avaliar se tem capacidade e conhecimento para desenvolver as atividades e que desenvolveu um mecanismo para quando estiver nessas situações. “Solicito a atividade, e quando não está no padrão de qualidade que solicitei, eu faço e mostro como é o padrão que preciso e aceito”, contou, mencionando que já sofreu muito preconceito por parte de um fiscal durante a obra da rede adutora, entre a usina Pampa Sul e Hulha Negra, que foi concluída recentemente. Glaucea contou que este homem não aceitava que o comando da equipe era dela, e então ela sentia necessidade de denegrir a imagem dela e inclusive usou palavras de baixo calão, ressaltando que sempre teve ótimo relacionamento com a equipe. “O pessoal me passou um áudio desta pessoa me ofendendo, e assim entreguei para o gerente do contrato e consegui ter um pouco de paz para trabalhar”.

Ela ainda enfatizou que o desafio sempre existe, pois o preconceito está presente no dia a dia. “Embora que nós mulheres estejamos ganhando espaço no mercado de trabalho, os cargos mais altos são de homens, e os mesmos indicam homens por preconceito”, destacou ela.

Com seis de anos de formação, Glaucea já trabalhou com pavimentação com pedra irregular, bloco intertravado e asfalto. Ela também já atuou em desmonte de rocha, rede adutora, obas em terra como barragem e terraplanagem, construção de escolas, ginásio, entre outras. Atualmente, ela trabalha na obra de reforma do Tribunal de Justiça em Bagé, com uma equipe composto por 25 pessoas que são divididas entre climatização, elétrica e civil. São quatro mulheres e 21 homens. “Tenho uma mulher na equipe que atua como servente e que e destaca dos homens pela qualidade das tarefas executadas”, concluiu, dizendo que todos os trabalhos são especiais pela amizade que constrói com as equipes e cumprimento de prazos, como foi na construção da rede adutora, quando mostrou que é possível cumprir prazos e que sempre é gratificante.

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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