NÃO A PRIVATIZAÇÃO

Mineiros defendem CRM pública e apontam fragilidade na gestão

Teatro Dante Barone foi ocupado por mais de 450 mineiros e servidores da CRM

Teatro Dante Barone foi ocupado por mais de 450 mineiros, lideranças e servidores da CRM Foto: Vinicius Reis | Agência ALRS

A possibilidade de venda de empresas estatais pelo governo do Estado reuniu nesta quarta-feira (9) mineiros de Candiota, Minas do Leão, Hulha Negra, Bagé, Pinheiro Machado, Cachoeira do Sul, Pedras Altas, Lavras do Sul e Porto Alegre, em audiência pública que assumiu a defesa da Companhia Riograndense de Mineração contra a privatização. Mesmo sem a formalização pelo Executivo de projeto de lei para desfazer a exigência de realização de plebiscito para a venda da estatal, os funcionários alertaram que uma má gestão da CRM começaria a mostrar resultados negativos e isso facilitaria a entrega da empresa, cuja reserva é de mais de R$ 80 bilhões, para investidores estrangeiros. A mobilização é para evitar essa alteração na lei.
O debate foi conduzido pelo deputado Adilson Troca (PSDB), presidente da Comissão de Economia, Desenvolvimento Sustentável e do Turismo, autor do requerimento da audiência pública. O Teatro Dante Barone foi ocupado por mais de 450 mineiros e servidores administrativos da CRM que participaram da discussão com os deputados Luis Augusto Lara e Aloísio Classmann, do PTB; Nelsinho Metalúrgico, Luiz Fernando Mainardi e Edegar Preto, do PT; Zilá Breitenbach, do PSDB; Regina Becker Fortunati, da REDE; Pedro Ruas, do PSOL; e Juvir Costella e Álvaro Boessio, do PDMB.
A bancada do PTB, através do deputado Aloísio Classmann, antecipou dificuldade em auxiliar o governo em eventual privatização e o deputado Luis Augusto Lara (PTB) já obteve 34 assinaturas para a formação de Frente Parlamentar em defesa da companhia e a qualificação da gestão. Também o PT, REDE e PSOL assumiram compromisso em defesa da empresa estatal gaúcha que responde por 90% do carvão mineral do país e nos últimos três anos garantiu R$ 41 milhões aos cofres do Tesouro do Estado, conforme revelou o diretor-administrativo e financeiro da CRM, Ricardo Guimarães Moura.
O presidente da comissão, Adilson Troca, vai dar encaminhamento ao debate promovido pela audiência, em defesa da empresa e novos investimentos.
GESTÃO FRÁGIL – Disse o presidente do Sindicato dos Mineiros de Candiota, Wagner Lopes Neto, que nos últimos dois anos, fruto da atual gestão, a CRM registrou R$ 11,9 milhões de prejuízo, uma vez que sofre com a falta de investimento e redução de receita, além de cumprir as adequações ao contingenciamento de gastos imposto pelo governo do Estado. Lopes Neto mostrou também que os gastos com serviço terceirizado nos últimos nove meses alcançaram R$ 20 milhões, em atividade que poderia ser realizada pelo quadro funcional. “Isso facilita a privatização”, observou, afirmando que a atual diretoria cumpriria o papel de preparar a venda da empresa. “Estão repetindo o mesmo método adotado pelo ex-governador Antonio Brito, em 1997”. Com 1,5 bilhão de toneladas de carvão, o valor da CRM, na jazida, é de R$ 84 bilhões mas poderá ser vendida por R$ 800 milhões, salientou o sindicalista.
“A CRM é o pulmão da região”, afirmou o vice-prefeito de Candiota, Paulo Brum, que defendeu uma unidade de ação em defesa das estatais também com a CGTE, empresa federal, e a CEEE.
Diretor-administrativo e financeiro da CRM, Ricardo Guimarães Moura disse que empresa tem gestão enxuta

Diretor-administrativo e financeiro da CRM, Ricardo Guimarães Moura disse que empresa tem gestão enxuta Foto: Vinicius Reis | Agência ALRS

 

GESTÃO ENXUTA – O diretor-administrativo e financeiro da CRM, Ricardo Guimarães Moura, mostrou o quadro de servidores da empresa: 340 em Candiota, 41 em Minas do Leão e 50 na sede, em Porto Alegre. Segundo ele, desde fevereiro a empresa esteve quatro meses sem receber a fatura da entrega do carvão. Com apenas um cliente, a CGTE, estatal federal que também apresenta dificuldades, a CRM encontra dificuldade para honrar seus compromissos. As despesas com a folha de pagamento foram reduzidas em 50% e os contratos em R$ 2,6 milhões. Este ano, a redução mensal das despesas é de R$ 1 milhão. Moura defendeu a valorização do carvão gaúcho e mostrou o lucro de 2012 até 2015: R$ 23,9 milhões em 2012; R$ 7,7 milhões em 2013; R$ 23,5 milhões em 2014; e R$ 12,6 milhões em 2015. Ele falou sobre o fechamento de duas usinas da CGTE, em São Jerônimo e Charqueadas, empresa que acumulou prejuízo de R$ 500 milhões em 2015. Conforme Ricardo Moura, a crise política e econômica reduz investimentos no país, repercutindo no setor de energia.

A direção da empresa, segundo ele, está em audiência em Brasília, hoje, para tratar da MP 735, que trata da modernização das usinas térmicas, medida que poderá repercutir na CRM.
DEFESA E MOBILIZAÇÃO – Pelo PT, o deputado Nelsinho Metalúrgico comparou o valor estratégico do carvão gaúcho com a camada de pré-sal do petróleo brasileiro. Convencido que a CRM está na lista de privatizações do governador José Ivo Sartori, disse que é injustificável vender uma empresa que dá lucro e auxilia nas finanças públicas, além do potencial de trabalho que gera na região da Campanha. Ele acredita que o governo manda o projeto em novembro para votação no período das festas de final de ano. Luiz Fernando Mainardi defendeu o carvão como produto estratégico para o Estado e alertou que o aparente desinteresse é para baixar o custo do produto, facilitando a venda. Pediu unidade para defender as estatais CRM, Sulgas, CEEE e Corsan. Zilá Breitenbach (PSDB) disse que é preciso amadurecer essa discussão. Para Luis Augusto Lara (PTB), está em curso uma política de desidratar as empresas lucrativas para que sejam vendidas. Anunciou a instalação da Frente Parlamentar na próxima quarta-feira, dia 16.
Também os deputados Pedro Ruas (PSOL) e Regina Becker Fortunati (REDE) manifestaram apoio à defesa da CRM. Vereadores e dirigentes de entidade dos funcionários alertaram para os riscos de a empresa ser privatizada. Pela Famurs, o ex-deputado Paulo Azeredo antecipou apoio à mobilização da estatal. Pela secretaria do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia falou Fabrício Dutra, representando o secretário Lucas Redecker, que hoje cumpre agenda em Brasília. O SENGE foi representado pelo presidente, Alexandre Wollmann, e a Nova Central Sindical dos Trabalhadores, por Larri Lopes, ambos defendendo a empresa estatal. Dirigentes sindicais dos mineiros de Candiota e Minas do Leão, assim como funcionários, reclamaram da atual gestão, acusada de desprezar a qualificação técnica dos servidores em favor de terceirizados, e ignorar as demandas apresentadas à direção.

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