O povo contra a democracia

Um dos assuntos mais debatidos nos tempos atuais é a crise da democracia no Ocidente. Já escrevemos, aliás, neste mesmo espaço, acerca de duas grandes obras recentes que tratam muito bem sobre o tema: “Como as democracias morrem”, de Levistky e Ziblat, e “Democracia para quem não acredita”, de Georges Abboud. Hoje, então, a nossa coluna falará de um terceiro livro, cuja riqueza de conteúdo faz somar àqueles. Trata-se, pois, da obra “O povo contra a democracia”, de YashaMounk.
Dividida em três partes, a obra do professor YashaMounk apresenta um panorama inquietante, tudo ao afirmar a existência concreta de um “encolhimento democrático” no Ocidente ou, como costuma referir o ministro Luis Roberto Barroso, uma “recessão democrática”.
Há, segundo o autor, décadas intermináveis em que a história parece se arrastar. Eleições são vencidas ou perdidas, leis são adotadas ou descartadas, estrelas nascem e pessoas ilustres morrem. Todavia, existem também anos breves em que tudo muda abruptamente, onde o regime de governo, que antes parecia inabalável, dá sinais de que pode ruir. Este é o nosso tempo.
A democracia, que reinava absoluta, balança. Eleitores, que pareciam aceitar este pacto civilizacional, não mais se comprometem com ele. Partidos radicais, que antes ocupavam apenas às margens da arena democrática, vêm passando ao meio de campo. Etc. Eis o futuro. E o futuro chegou.
O autor aponta como causas desta crise da democracia uma tríade de fatores, isto é: as mídias sociais, a estagnação econômica e um problema de identidade.
E aponta possíveis remédios, de igual forma: a domesticação do nacionalismo reacionario, o conserto da economia e a reconstrução da fé cívica. A tarefa não é fácil. Mas tarda. O problema, apesar de grave, não é, de toda e qualquer forma, insuperável.
Assim sendo, é salutar, mais do que nunca, que nós, os democratas, lutemos por nossas convicções, sobretudo para que, tal como a democracia ateniense, o governo autônomo de Roma e até a República de Veneza, a democracia contemporânea não deixe o palco da vida para virar apenas um capítulo da história.

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