RURAL

Ovinocultura em Debate avança nas discussões para fortalecimento da cadeia produtiva

Organizar e aproximar os elos da cadeia produtiva foi um dos pontos abordados Foto: Felipe Rosa/Embrapa/Especial TP

Com a participação de representantes do mercado, consumido­res, produtores, indústrias, governo, técnicos e pes­quisadores, a 5ª edição do Ovinocultura em Debate cumpriu seu objetivo de cap­tar opiniões plurais sobre os problemas e oportunidades do setor, a fim de encontrar alternativas para potencia­lizar a cadeia da carne e da lã ovina. Realizado nesta quarta-feira (10), na sede da Embrapa Pecuária Sul, em Bagé, o evento contou com o envolvimento de mais de 120 pessoas ligadas à área.

Neste ano, o Ovi­nocultura em Debate foi organizado em painéis e mesas, que favoreceram a discussão e o confronto de diferentes olhares sobre o mesmo tema. Nos espaços de debate foi possível captar as visões de quem consome, de quem comercializa, de quem transforma e a visão de quem produz. Todas as apresentações, que ainda foram antecedidas por uma palestra de contextualização da ovinocultura proferida pela Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e De­senvolvimento Rural (SEA­PDR), culminaram na mesa final, que discutiu o tema “o que podemos fazer juntos pela ovinocultura gaúcha?”.

O assessor técnico da Arco, Edegar Franco, fez um balanço positivo do evento. “Conseguimos ouvir todos os elos dessa cadeia produtiva, a parte gastronômica, de mercado, de indústria, de produtores, todos com o mesmo sen­timento, que é o de querer ajudar”, disse. “Todos foram bem desarmados, colocando números, colocando na mesa as dificuldades, os anseios, para que tenhamos uma ca­deia forte em uma equação de soma onde todo mundo ganhe”, completou.

A quinta edição do evento reuniu mais de 100 pessoas ligadas à área Foto: Felipe Rosa/Embrapa/Especial TP

Para que esse ganho de todas as partes ocorra, um dos desafios mais recor­rentes levantados durante o evento é o de organização e aproximação dos elos da cadeia produtiva. Consumi­dores, restaurantes e merca­dos expressam o desejo por ter mais acesso à carne e à lã ovina, existe indústria apta e interessada em proces­sar o produto e a atividade pode ser lucrativa para os produtores. Nesse contexto, o paradoxo está justamente na diminuição do rebanho ovino no Rio Grande do Sul, que em cinco anos reduziu em cerca de um milhão de cabeças.

Visando reverter esse quadro, um documento ex­traído dos principais pontos debatidos no evento deve ser encaminhado à Câmara Setorial da SEAPDR, de forma a estimular ações e políticas públicas para o setor. Dentro dos destaques devem constar questões como a própria organiza­ção da cadeia, o estímulo ao aumento dos índices de natalidade e assinalação nas propriedades, crédito rural, apoio para diferenciação dos produtos da ovinocultura e assistência técnica e capaci­tação de produtores.

Todas essas questões caminham para que no final da cadeia o consumidor tenha acesso a um produ­to de qualidade. A mestra churrasqueira e médica ve­terinária, Beth Schreiner, gaúcha radicada em Santa Catarina, destacou em sua participação no evento a importância de que, além da qualidade, a carne ovina tenha quantidade suficiente, entrega regular e, principal­mente, padronização. “Com uma única experiência ruim, o cliente deixa de consumir a carne ovina, não tem se­gunda chance”, explicou, ao se referir que com outros produtos consumidos mais habitualmente, como a carne bovina, o consumidor está aberto a repetir a compra mesmo tendo uma experi­ência ruim.

Com demanda cres­cente, mas consumo ainda baixo no Brasil (estima-se que o consumo anual es­teja entre 400g e 700g no país), a carne ovina não está mais presente na mesa do brasileiro por um caminho ainda pouco fluído dentro da cadeia produtiva. “Enquanto os produtores estão pensan­do em animais grandes, o consumidor quer cortes pe­quenos, quem comercializa tem dificuldade para dispor do produto, a indústria diz que quer comprar e não en­contra, e o produtor diz que produz e não tem para quem vender”, comenta o pesqui­sador da Embrapa Pecuária Sul, Marcos Borba.

Com experiência de décadas trabalhando com pecuária e lavoura, o pro­dutor rural de Pedras Altas, Carlos Ávila, destacou que a ovinocultura é a atividade mais lucrativa na sua pro­priedade. “Eu tenho arroz, soja, bovinos, equinos e a ovinocultura é o que mais dá retorno financeiro por área útil ocupada”, destacou.

A percepção de Ávila vai ao encontro de uma das palestras que mais instigou o público. O também produtor rural, Luiz Cláudio Pereira, apresentou o tema “por que ser um produtor de ovinos”, com dados comparativos en­tre lavouras, a bovinocultura de corte e a ovinocultura. Nos cálculos de Pereira, o lucro líquido da ovinocul­tura com taxa de natalidade de 75% chega aos R$ 1.686 por hectare (ha), contra R$ 962 da soja em área própria (40 sacas/ha); R$ 603,40 do arroz em área própria (160 sacas/ha); e R$ 492,75 da bovinocultura de corte (ciclo completo). “É claro que cada um tem que ver a vocação do seu campo, assim chegamos nesses resultados”, explicou Pereira.

O evento foi uma promoção da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco) e Embrapa Pecuária Sul, com apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/RS), Banco Regional de Desen­volvimento do Extremo Sul (BRDE), e Supra.

Comentários do Facebook