AGRICULTURA FAMILIAR

Visitação guiada mostra diversificação dos produtos das agroindústrias de Hulha Negra

A criação de uma Associação das Agroindústrias está em fase documental para criação

Deputado Mainardi participou da visitação para conhecer melhor o processo de produção e infraestrutura das agroindústrias Foto: Divulgação TP

O Dia Mundial da Alimentação, lembrado em 16 de outubro, foi marcado por um turismo pelo interior de Hulha Negra, pelas agroindústrias familiares. Uma visitação com degustação de produtos foi organizada e guiada pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), com convite especial ao deputado federal Luiz Fernando Mainardi (PT) e articulação do gabinete do vereador Volnei Manfron (PT). Também estiveram presentes o vice-prefeito de Hulha Negra, Igor Canto (PDT), o diretor do campus de Bagé da Unipampa, Alessandro Bica, a diretora do campus Bagé do IFSul, Giulia Vieira, o chefe da Emater em Hulha Negra, Guilherme Zorzi, além de técnicos da Emater, os vereadores Diego Rodrigues (Progressistas), Volnei Manfron e Dalvir Zorzi (PT) e vereadora Tanira Ramos (PTB) .

O município possui 21 assentamentos da reforma agrária, que ocupam terras improdutivas no passado, mas que, agora, cultivadas por famílias de agricultores antes sem-terra, produzem não apenas vegetais e gado diversificado, mas são palco de uma experiência que tem chamado a atenção do poder público municipal e de instituições de pesquisa e assistência da região, as agroindústrias familiares.

Vice-prefeito de Hulha Negra, Igor Canto, participou das visitações em nome do Executivo Foto: Divulgação TP

É assim que o leite produzido se torna queijo, iogurte e cremes nas mãos e nas máquinas da agroindústria Pampalac, liderada pela agricultora Janete Raddatz. A empresa iniciou suas atividades em 2013 a partir, segundo Janete, da necessidade de produtos para serem comercializados na Festa do Colono. “Começamos com linguiça, mas não deu certo. Então fomos para o queijo. No início, fazíamos apenas nas épocas de festa, mas com o apoio da Emater, começamos a produzir iogurte e a focar e ampliar a nossa produção”, conta.

“Em uma viagem à Serra, conhecemos algumas agroindústrias, nos apaixonamos e assim a nossa começou”, recorda. “É uma corrente em que todos tem de pegar juntos. Mas sempre tivemos apoio. Nunca encontrei alguém que me desestimulasse”, diz. Em pouco mais de sete anos de operação, a Pampalac já se consolidou e melhorou a renda familiar, com impactos na economia do município.

De forma muito parecida, a agroindústria Zago é resultado de um processo de muito trabalho, o que caracteriza o início de muitos pequenos empreendimentos.

Também comandada por uma agricultora, Sueli Zago, a empresa iniciou produzindo pães, cucas e bolachas.

Com o apoio fundamental da Emater, como todos gostam de enfatizar, a empresa passou a produzir e comercializar queijos coloniais e um tipo de muzzarela, além de doce de leite. “Quanto começamos a expandir, a ideia era produzir leite, mas a Emater nos propôs começarmos uma agroindústria de laticínios. Demoramos dois anos e tivemos dificuldades para consolidar o negócio, mas agora estamos legalizados e otimistas”, conta dona Sueli.
Conforme a técnica da Emater Carmem Cáceres, a divulgação e interesse de autoridades em conhecer de forma mais detalhada as agroindústrias é importante. “Sempre é visado o crescimento e ações que possam auxiliar as agroindústrias, tão importantes para o município e em especial para os próprios produtores pela geração de renda. Aproveitamos a ocasião para mostrar a todos os presentes a produção, os caminhos percorridos, as dificuldades e necessidades das agroindústrias”, comentou Carmem, que trabalha diretamente com as agroindústrias.

Em suas redes sociais, a vereadora Tanira Ramos disse que na condição de representante Legislativa, acredita precisar ter o entendimento de como funcionam as atividades do município, nos mais diferentes ramos. “Sabemos que há seis agroindústrias em atividade e cinco em instalação e entendemos onde ficam os empreendimentos, suas produções, estruturações, trabalhadores, as dificuldades, necessidades de políticas públicas que podem facilitar o trabalho. Também foi possível visualizar a importância dessas agroindústrias para o núcleo familiar, trazendo de volta os filhos que foram estudar, de volta para o campo, para trabalhar nas propriedades. Tudo isso tem um valor financeiro e familiar, e poder conhecer essas agroindústrias, traz mais subsídio para nosso mandato, traz o entendimento e as necessidades das pessoas”, disse a vereadora.

Participantes da visitação puderam fazer degustação dos produtos Foto: Divulgação TP

Ao Tribuna do Pampa, Volnei Manfron disse ter sido motivo de orgulho participar da visitação por estar presente no processo desde a criação das primeiras agroindústrias de Hulha Negra. “A primeira agroindústria foi legalizada em 2016 e depois seguimos juntos como servidor através da Secretaria de Agropecuária. As agroindústrias são agregadoras de valores, pois transformam a matéria-prima em produto final que chega diretamente na mesa do consumidor. É um processo importante para o desenvolvimento da cidade, principalmente para as famílias envolvidas, pois a maioria iniciou nos assentamentos e agora outros produtores foram incentivados. Foi um roteiro de grande valia, queremos seguir este trabalho, incentivando, agregando valor e buscando recursos para as agroindústrias, pois elas se tornarão maiores e proporcionarão mais empregos”, afirmou o vereador.

SABOR GAÚCHO – Idealizado ainda no governo de Olívio Dutra e fortalecido no governo de Tarso Genro, através do Programa da Agroindústria Familiar, quando o deputado Luiz Fernando Mainardi foi secretário de Agricultura, o programa Sabor Gaúcho está na base desta transformação que ocorre nas pequenas propriedades de assentados do interior de Hulha Negra. O programa prevê incentivos e assistência para os colonos, de forma que possam ter apoio para empreender a partir da vocação inicial da sua produção primária. No governo Tarso Genro foram investidos R$ 20,5 milhões em programas de apoio à agroindústria familiar. A Emater é a responsável pela execução desta política pública no Rio Grande do Sul e acompanha de perto o desenvolvimento dos projetos.

Segundo Guilherme Zorzi, engenheiro agrônomo e chefe do escritório da Emater de Hulha Negra, a entidade auxilia os pequenos produtores em toda cadeia de produção, do manejo da matéria prima até a comercialização, inclusive no processo de legalização, regulamentação e enquadramento da atividade industrial, o que, às vezes, é o problema mais difícil para os pequenos agricultores. “Hoje, os produtores emitem nota fiscal pelo talão do produtor, que os auxilia, inclusive, na hora de sua aposentadoria”, conta.

SABOR DA HULHA – Em Hulha Negra, a Prefeitura implantou um programa próprio para reforçar o apoio a esses agricultores empreendedores. O Sabor da Hulha é uma espécie de contrapartida da cidade ao apoio da Emater aos assentados através de um Fundo Municipal de Desenvolvimento da Agroindústria de Hulha Negra (FUNDAHN).

Conforme o vice-prefeito do município, Igor Canto (PDT), o impacto financeiro das oito agroindústrias que já estão implantadas ainda não é grande, mas a produção e a comercialização estão crescendo a cada ano. “Isso permite e incentiva a prefeitura a investir ainda mais no programa”, diz. Conforme cálculos da Emater e da prefeitura, as agroindústrias da região movimentam cerca de R$ 1 milhão/ano na economia local.

Para ele, entretanto, há um problema sério que precisa ser revertido para a continuidade do projeto, que é a desestruturação da Emater no município. “Tínhamos 14 profissionais no escritório da Emater, hoje temos apenas seis”, lamenta.

ASSOCIAÇÃO – Ainda segundo a Emater, uma Associação das Agroindústrias de Hulha Negra está sendo organizada e atualmente está em fase de documentação. “Estatuto já está pronto e será definida a criação da diretoria”, disse Carmem.

Veterinário e integrante do SIM, Marcus Leitzke(D) falou sobre o processo Foto: Divulgação TP

JOVEM NO CAMPO – O desenvolvimento dos empreendimentos auxilia que o êxodo rural não ocorra, e que jovens do município, retornem para o campo após concluir os estudos e ajudem as famílias. Um exemplo é de Henrique Outeiro, filho de Eiziane Câmara, da agroindústria Tia Zane, que produz pães, bolachas e doces. Henrique foi para Santa Maria trabalhar e voltava aos finais de semana para ajudar a mãe na produção primária, em sua propriedade. “Um dia, ela me ligou dizendo que começaria sua agroindústria. No mesmo dia eu já estava na propriedade para começar a trabalhar com ela”, conta. “Essa experiência é muito importante. O crédito, a assistência, o apoio. Isso é algo que temos que defender e levar conosco sempre, porque isso transforma vidas”, comenta o agora parceiro de produção da sua própria mãe na empresa que mantêm no interior de Hulha Negra.

O deputado Mainardi disse ficar feliz em ver a integração das instituições de ensino, pesquisa, assistência e o próprio poder público com as comunidades que empreendem na agroindústria familiar. “Estamos Juntos!! Parabéns à turma da Emater de Bagé e Hulha Negra e à Prefeitura de Hulha Negra”, explanou.

NECESSIDADES – Apesar de prosperarem, as agroindústrias de Hulha Negra ainda precisam de investimentos e melhorias de infraestrutura. A energia elétrica é um dos problemas, com quedas constantes na rede. A distância e condições climáticas também são fatores negativos. A demanda, porém, mais urgente, segundo os produtores, é o fim do limite de venda de R$ 20 mil mensais para escolas do Estado no programa que estabelece a aquisição de produtos da agricultura familiar pelas escolas estaduais para a merenda dos estudantes.

Para o deputado Mainardi, que soube desta limitação durante as visitas, a regra “é inadmissível”. Segundo o parlamentar, essa decisão do governo vai na contramão de uma política de desenvolvimento e de apoio aos agricultores familiares. Mainardi pretende organizar uma audiência pública na Assembleia Legislativa para tratar desta e de outras reivindicações dos pequenos produtores rurais da região.

Atualmente, Hulha Negra conta com oito agroindústrias em operação (Pampalac, Zago, Rancho Alegre, Tia Zane, Sinuelo, Agromap, Aprofara e Coptil) e mais duas iniciarão atividades em 2022 (Tambero e Sabores da Terra).

*Com informações do Brasil Popular.

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